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Anafilaxia – Etiologia e Incidência

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 19/01/2009

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Anafilaxia – Etiologia e Incidência

 

A etiologia e incidência de anafilaxia em Rochester, Minnesota: um relato do Projeto Epidemiológico de Rochester.

The etiology and incidence of anaphylaxis in Rochester, Minnesota: A report from the Rochester Epidemiology Project. J Allergy Clin Immunol 2008;122:1161-5 [Link para PubMed].

 

Fator de Impacto da Revista (Journal of Allergy and Clinical Immunology): 8,115.

 

Contexto Clínico

anafilaxia foi descrita pela primeira vez há mais de 100 anos e caracteriza-se por uma reação alérgica grave, de instalação rápida e que pode levar a morte. As estimativas de incidência variam muito (de 3,2 a 20 casos por 100.000 pessoas/ano) em consequência da falta de uma definição precisa, levando a deficiências nos relatos de eventos. Em virtude da gravidade potencial dos casos de anafilaxia, sua incidência e tendência secular têm implicações substanciais para a saúde pública. Desta forma, os autores do presente estudo determinaram rigorosamente a incidência e as causas de anafilaxia numa coorte de base populacional durante um período de 10 anos.

 

O Estudo

Estudo de coorte, retrospectivo, de base populacional, com duração de 10 anos (1990 a 2000) em Rochester, Minnesota, EUA (The Rochester Epidemiology Project). Os episódios de anafilaxia foram identificados com base em sinais e sintomas de liberação de mediadores de mastócitos e basófilos mais envolvimento mucocutâneo, gastrointestinal, respiratório ou cardiovascular. Pelo menos um sinal ou sintoma de liberação de mediadores de mastócitos ou basófilos foi necessário para o diagnóstico de anafilaxia (rubor – flushing, prurido ou formigamento dos lábios, axilas, mãos ou pés, prurido generalizado, urticária ou angioedema, conjuntivite) associado a um sinal ou sintoma adicional envolvendo o sistema gastrointestinal (prurido da mucosa oral, angioedema da mucosa intraoral, língua, palato ou orofaringe, náusea, vômito, disfagia, dor abdominal ou diarréia), respiratório (rinite, estridor laríngeo, tosse, rouquidão, afonia, aperto na garganta, dispnéia, chiado, edema hipofaríngeo ou laríngeo, cianose) ou cardiovascular (dor torácica, arritmia, hipotensão, pré-síncope, síncope, taquicardia, bradicardia, convulsões e choque).

 

Resultados

Foram identificados 211 casos (55,9% em mulheres) de anafilaxia no período. A idade média foi de 29,3 anos (variando de 0,8 – 78,2 anos). A taxa de incidência geral ajustada por idade e sexo foi de 49,8 casos (IC 95% 45,0 – 54,5) por 100.000 pessoas-ano. As taxas de incidência idade específicas foram mais altas para idades entre 0 e 19 anos (70 casos por 100.000 pessoas-ano). Ingestão alimentar foi responsável por 33,2% dos casos; picadas de insetos por 18,5%; medicação por 13,7%; contraste radiológico por 0,5%, outras causas por 9% e causas desconhecidas por 25,1% dos casos. Outras causas incluíram gatos, látex, produtos de limpeza, alérgenos ambientais, e exercício. Houve um aumento na taxa de incidência anual durante o período do estudo de 46,9 casos por 100.000 pessoas-ano em 1990 para 58,9 casos por 100.000 pessoas-ano em 2000 (p=0,03). Os autores relatam que a taxa de incidência de anafilaxia é maior do que as taxas previamente relatadas e que a incidência vem aumentando ao longo dos últimos anos. Comida e picadas de insetos continuam sendo as principais causas de anafilaxia, contribuindo para mais de 50% dos casos.

 

Aplicações para a Prática Clínica

anafilaxia ou reação alérgica grave é uma situação clínica de início súbito, potencialmente fatal, sendo, desta forma, uma condição de importância na prática clínica. Pelos dados do presente estudo e de outras séries de casos2, a incidência da anafilaxia está aumentando nos últimos anos. Comparando-se a incidência encontrada neste estudo (cerca de 50 casos por 100.000 pessoas-ano) na década de 90 com a de outro estudo realizado no mesmo local (Olmstead County) na década de 80, a incidência de anafilaxia mais que dobrou em menos de 10 anos. É possível que este aumento seja fruto de diferenças na definição dos casos ou outros tipos de viés metodológico, mas ao que tudo indica a incidência de quadros alérgicos em geral tem, de fato, aumentado. Este aumento também se aplica a quadros de asma, rinite e eczema. Em estudos anteriores anafilaxia era definida de forma mais rígida, geralmente incluindo hipotensão ou choque em sua definição. Neste estudo, choque foi uma das possíveis formas de diagnosticar anafilaxia, mas outros sintomas sistêmicos (não necessariamente cardiovasculares) também foram usados na definição. Por outro lado, sintomas subjetivos como formigamento das mãos e lábios, e mesmo dispnéia podem ser secundários a quadros de ansiedade, levando a diagnóstico equivocado de anafilaxia. De qualquer forma, este estudo contribui para a prática clínica por mostrar que tem havido um aumento na incidência de anafilaxia, condição clínica potencialmente fatal e de grande importância clínica. Além disso, o estudo mostra que a maior incidência de anafilaxia ocorre na infância e adolescência e que suas causas principais são alimentos, picadas de insetos e medicamentos.

 

Bibliografia

1.    Decker WW, Campbell RL, Manivannan V, Luke A, Sauver JLS, Weaver A, Bellolio MF, Bergstralh EJ, Stead LG, Li JTC. The etiology and incidence of anaphylaxis in Rochester, Minnesota: A report from the Rochester Epidemiology Project. J Allergy Clin Immunol 2008;122:1161-5.

2.    Simons FER, Sampson HA. Anaphylaxis epidemic: Fact or fiction? J Allergy Clin Immunol 2008;122:1166-8.

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