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Incentivos financeiros para cessação do tabagismo

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 23/02/2009

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Incentivos financeiros para cessação do tabagismo

 

Um estudo controlado, randomizado de incentivos financeiros para a cessação do tabagismo.

A Randomized, Controlled Trial of Financial Incentives for Smoking Cessation. NEJM 2009; 360(7):699-709 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (NEJM): 52,589

 

Contexto Clínico

            O tabagismo é a principal causa de morte prematura passível de prevenção nos EUA, e possivelmente em grande parte do mundo. As taxas de abstinência ao tabaco caem muito ao final do primeiro ano, embora programas de cessação do tabagismo e terapias farmacológicas tenham se associado com taxas mais elevadas de cessação. Entretanto a participação nestes programas e o uso das terapias farmacológicas são pequenos. Estudos prévios de incentivos financeiros para cessação do tabagismo (realizados no local de trabalho) não mostraram efeitos significantes da intervenção sobre as taxas de cessação de tabagismo de longo prazo, mas é possível que os incentivos não tenham sido suficientes e que os estudos não tenham tido poder adequado. Sendo assim, os autores realizaram um novo estudo sobre o efeito de incentivos financeiros de até US$ 750,00, na melhora nas taxas de cessação de tabagismo no longo prazo, em uma grande empresa multinacional.

 

O Estudo

            Foi um ensaio clínico randomizado, realizado com 878 empregados de uma companhia multinacional com base nos EUA. Os participantes foram randomizados para receber informação sobre programas de cessação de tabagismo (422 empregados) ou para receber esta mesma informação mais incentivos financeiros (436 empregados). Os incentivos financeiros foram US$ 100,00 para completar o programa de cessação de tabagismo, US$ 250,00 para cessação do tabagismo nos 6 meses após a inclusão no estudo, confirmada por testes bioquímicos, e US$ 400,00 para abstinência adicional por mais 6 meses após a cessação inicial, também confirmada por testes bioquímicos. Os participantes foram estratificados de acordo com o local de trabalho, intensidade do tabagismo (pesado e não pesado) e renda. O desfecho primário foi cessação do tabagismo aos 9 ou 12 meses após o início do estudo conforme a cessação inicial tenha ocorrido aos 3 ou 6 meses. Os desfechos secundários foram cessação do tabagismo nos primeiros 6 meses após inclusão no estudo, taxas de participação em e término dos programas de cessação de tabagismo.

 

Resultados

            O grupo do incentivo apresentou taxas de cessação significativamente maiores que o grupo da informação isolada aos 9 e 12 meses após a inclusão (14,7% x 5,0%; p<0,001) e aos 15 e 18 meses após inclusão (9,4% x 3,6%; p<0,001). Os participantes do grupo do incentivo também apresentaram taxas significativamente maiores de participação em programas de cessação de tabagismo (15,4% x 5,4%; p<0,001), de término de um programa de cessação de tabagismo (10,8% x 2,5%; p<0,001), e cessação do tabagismo 6 meses após inclusão no estudo (20,9% x 11,8%; p<0,001). Os autores concluem que incentivos financeiros aumentam significativamente as taxas de cessação de tabagismo entre os empregados de uma grande companhia multinacional.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Os resultados deste estudo vão de encontro aos resultados de uma metanálise da Cochrane publicada em 2005, que mostrou haver evidências insuficientes de que os incentivos financeiros sejam efetivos na cessação do tabagismo2. Os autores apontam várias razões para este achado da metanálise, dentre os quais o fato de os estudos incluídos terem um pequeno número de participantes, não sendo grandes o suficiente para detectar as diferenças observadas no presente estudo, e fato de os incentivos serem geralmente pequenos (chegando a US$ 10,00 em alguns estudos). A maioria dos estudos, entretanto, mostra que os incentivos financeiros têm um efeito positivo nas taxas de cessação de tabagismo no curto prazo. O presente estudo é o primeiro a demonstrar que tais incentivos também têm efeito sobre as taxas de cessação no longo prazo. No entanto, este estudo apresenta alguns pontos que merecem reflexão. O primeiro ponto deve-se ao fato de que é possível que tenha havido um viés de seleção, uma vez que a amostra de trabalhadores selecionada (voluntários) pode ter incluído participantes mais propensos à cessação do tabagismo independente do grupo alocado. Isto torna a generalização destes achados a todos os trabalhadores de uma dada companhia problemática. Outro ponto que merece atenção é o fato de que este tipo de intervenção, se sistematicamente adotado por várias empresas, pode levar um número indefinido de trabalhadores a começar a fumar de maneira a se tornarem elegíveis para os incentivos. Este fenômeno, de qualquer maneira, é apenas uma hipótese, que não foi observada no presente estudo. Por último, embora este editor reconheça que todos os esforços são válidos no sentido de reduzir o tabagismo e todas as suas consequências para a saúde, o tipo de intervenção sugerida neste estudo e sua base racional (redução de gastos da empresa com saúde, redução do absenteísmo e aumento da produtividade) nos fazem refletir sobre o tipo de mundo em que queremos viver e o tipo de saúde que almejamos produzir.

 

Bibliografia

1. Volpp KG, Troxel AB, Pauly MV, Glick HA, Puig A, Asch DA, Galvin R, Zhu J, Wan F, DeGuzman J, Corbett E, Weiner J, McGovern JA. A Randomized, Controlled Trial of Financial Incentives for Smoking Cessation. NEJM 2009; 360(7):699-709.

2. Hey K, Perera R. Competitions and incentives for smoking cessation. Cochrane Database Syst Rev 2005;2:CD004307.

 

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