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Composições diferentes de gordura proteína e carboidratos influenciam na perda de peso?

Autor:

Euclides F. de A. Cavalcanti

Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 15/03/2009

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Composições diferentes de gordura, proteína e carboidratos influenciam na perda de peso?

 

Comparação de dietas para a perda de peso com diferentes composições de gordura, proteína e carboidratos

Comparisson of weight-loss diets with different compositions of fat, protein, and carbohydrates. NEJM 2009;360; 9 [Link livre para o artigo original] [Link livre para o editorial]

 

Fator de impacto da revista (New England Journal of Medicine): 52,589

 

Contexto Clínico

            Os principais órgãos de saúde costumam recomendar dietas com elevado teor de carboidratos (ao redor de 55% a 65% das calorias) e baixo teor de gorduras (ao redor de 20% a 30%) e proteínas (ao redor de 15% a 20%) em dietas para a perda de peso2. No entanto, não há dados de estudos científicos que corroborem esta recomendação. Abaixo, alguns exemplos de estudos sobre o assunto:

            Uma metanálise publicada pela fundação Cochrane que incluiu apenas ensaios clínicos randomizados com mais de 6 meses de duração não mostrou benefícios das dietas hipogordurosas para perda de peso3.

            Um estudo epidemiológico que comparou a dieta de países de mesma localidade e nível sócio-econômico (países europeus) não demonstrou diferenças no índice de massa corpórea, apesar de a porcentagem de gordura na dieta dos diferentes países variar entre 25% e 47%4.

            Um ensaio clínico randomizado com duração de 2 anos recentemente comentado nesta seção (comparação de dietas para perda de peso) mostrou que a dieta mediterrânea (maior porcentagem de gorduras insaturadas dentre outros aspectos) e dieta hiperprotéica (seguindo as recomendações da popular dieta do Dr. Atkins) foram mais eficazes para a perda de peso do que dietas hipogordurosas e ricas em carboidrato (perda de peso média respectivamente de 4,4 quilos, 4,7 quilos e 2,9 quilos)5.

            O presente estudo procurou trazer mais informações sobre qual deve ser a composição dos macronutrientes nas dietas para perda de peso.

 

O Estudo

            Ensaio clínico randomizado. Um total de 811 pacientes com sobrepeso (Índice de Massa Corpórea entre 25 e 40) foram randomizados para seguir 4 tipos de dieta com variações na porcentagem alvo de gordura, proteína e carboidrato.

 

Grupo 1: 20% gordura, 15% proteína e 65% carboidrato

Grupo 2: 20% gordura, 25% proteína e 55% carboidrato

Grupo 3: 40% gordura, 15% proteína e 45% carboidrato

Grupo 4: 40% gordura, 25% proteína e 35% carboidrato

 

            Todas as dietas consistiam de alimentos similares e que seguiam as diretrizes de alimentação para saúde cardiovascular. As dietas prescritas para cada paciente tinham como objetivo produzir um déficit de 750 calorias ao dia, conforme o cálculo da taxa metabólica basal e nível de atividade. Os pacientes realizaram diversas sessões de aconselhamento individual e em grupo para motivar a aderência e foram acompanhados por 2 anos.

 

Resultados

            Em 6 meses os participantes alocados para cada um dos grupos perderam uma média de 6 quilos, sem diferença significativa entre os grupos. Após 12 meses de acompanhamento, os participantes começaram a ganhar parte do peso perdido. Ao final de 2 anos a média de perda de peso foi ao redor de 3 quilos em todos os grupos, sem diferença significativa entre as dietas. Todos os grupos obtiveram melhora do perfil lipídico e dos níveis de insulina.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            A estratégia de diminuir a porcentagem de gorduras na dieta e substituí-las por carboidrato, que é o que recomendam a maioria das diretrizes para perda de peso continua sem comprovação científica.

            No editorial, é chamada a atenção para o resultado medíocre de todas as diferentes estratégias (perda de peso média de apenas 3 quilos), apesar do trabalho ter incluído pacientes altamente motivados e dentro de um ensaio clínico randomizado. Estes achados refletem a dificuldade já conhecida na manutenção do peso perdido no longo prazo com qualquer dieta. Uma metanálise publicada em 2007 incluindo os ensaios clínicos com mais de um ano de duração corrobora estes dados, e concluiu que a perda de peso entre os participantes de estudos com dieta na melhor das hipóteses atinge uma média de 3 a 4 quilos após 2 a 4 anos6.

            O editor faz uma afirmação interessante: a de que “não precisamos de mais um estudo com dieta; precisamos de uma quebra de paradigma”. Cita que um estudo pouco comentado da França pode apontar o caminho7.

            Neste estudo foi realizado um esforço comunitário para prevenir a obesidade infantil em duas pequenas cidades da França. Todos os habitantes, incluindo os prefeitos, donos de loja, professores, médicos, jornalistas, donos de restaurante, farmacêuticos, associações de esporte e demais habitantes se engajaram em um esforço comunitário para estimular as crianças a se alimentar melhor e a se tornarem mais ativas. As cidades construíram playgrounds, localidades para prática de esportes e para caminhada e contrataram educadores físicos. As famílias da localidade receberam aulas sobre alimentação saudável e as com maior risco foram oferecidas aconselhamento individualizado. Após 5 anos, a prevalência de crianças obesas caiu para 8,8% nestas localidades, ao passo que subiu para 17,8% nas localidades vizinhas. Esta estratégia envolvendo toda a comunidade agora será estendida para 200 cidades na Europa. Comentaremos em breve este estudo na seção de artigos.

 

Bibliografia

1.     EFA Cavalcanti; Benseñor IM. Orientação nutricional: perda de peso e saúde cardiovascular. Editora Sarvier 1ª edição 2005

2.     National Institutes of Health, National Heart, Lung, and Blood Institute. Clinical Guidelines on the Identification Evaluation, and Treatment of Overweight and Obesity in Adultes. Bethesda, MD, US Departmente of Health and Human Services, 1998 [Link livre para o documento original]

3.     Pirozzo S. The Cochrane Library, Issue 1, 2003. Advice on low-fat diets for obesity (Cochrane Review). (o texto foi retirado do website da Cochrane – recomendamos o seguinte Link livre para um resumo do estudo)

4.     Lissner L. dietary fat and obesity: evidence from epidemiology. Eur J Clin Nutr 1995; 49: 79-90

5.     Weight Loss with a Low-Carbohydrate, Mediterranean, or Low-Fat Diet. N Engl J Med 2008;359:229-41 [Link Livre para o artigo Original]

6.     Franz MJ, VanWormer JJ, Crain AL, et al. Weight-loss outcomes: a systematic review and meta-analysis of weight-loss clinical trials with a minimum 1-year follow-up. J Am Diet Assoc 2007;107:1755-67.

7.     Romon M, Lommez A, Tafflet M, et al. Downward trends in the prevalence of childhood overweight in the setting of 12-year school- and community-based programmes. Public Health Nutr 2008 December 23 [Link livre para o Artigo Original]

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