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Selênio e vitamina E e risco de câncer

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 15/03/2009

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Selênio e vitamina E e risco de câncer

 

Efeito do selênio e da vitamina E sobre o risco de câncer de próstata e outros cânceres1.

Effect of Selenium and Vitamin E on Risk of Prostate Cancer and Other Cancers. The Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial (SELECT). JAMA. 2009;301(1):39-51 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (JAMA): 25,547

 

Contexto Clínico

            Dados epidemiológicos de estudos observacionais e análises secundárias de dois ensaios clínicos2,3 sugerem um efeito potencial do selênio e da vitamina E na prevenção do câncer de próstata. Com base nestes dados os autores realizaram um ensaio clínico para se avaliar o efeito do selênio e da vitamina E sobre o risco de diversas neoplasias, particularmente o câncer de próstata.

 

O Estudo

            Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, placebo-controlado com 35.533 homens provenientes de 427 centros dos EUA, Canadá e Porto Rico. Os participantes foram randomizados para quatro grupos (selênio, vitamina E, selênio + vitamina E ou placebo) entre agosto de 2001 e junho de 2004. Os critérios de inclusão eram idade = 50 anos (para negros) ou = 55 anos (outras etnias), um PSA (antígeno prostático específico) = 4,0 ng/ml e um toque retal não sugestivo de câncer de próstata. O desfecho primário avaliado foi o câncer de próstata incidente. Os desfechos secundários foram a incidência de câncer de pulmão, cólon e incidência de câncer primário geral. O estudo foi inicialmente planejado para um seguimento mínimo de 7 anos e máximo de 12 anos.

 

Resultados

            O tempo mediano de seguimento em outubro de 2008 foi de 5,46 anos (variando de 4,17 a 7,33 anos). O risco relativo (RR) de câncer de próstata foi 1,13 (IC95% 0,95-1,35) para vitamina E; 1,04 (IC95% 0,87-1,24) para o selênio; 1,05 (IC95% 0,88-1,25) para selênio + vitamina E comparados com placebo. Também não houve nenhuma diferença entre os grupos na incidência de nenhum outro desfecho neoplásico pré-especificado. Houve aumentos estatisticamente não significantes no risco de câncer de próstata no grupo da vitamina E (p=0,06) e no risco de diabetes mellitus no grupo do selênio (RR:1,07 IC95% 0,94-1,22; p=0,16), mas não no grupo do selênio + vitamina E. Os autores concluem que o selênio e a vitamina E, isoladamente ou em combinação, nas doses utilizadas no estudo não preveniu o desenvolvimento do câncer de próstata nem o de nenhum outro tipo de câncer nesta população de homens relativamente saudáveis.

 

Aplicações para a Prática Clínica

Este estudo, juntamente com outros estudos que abordam a questão da suplementação vitamínica na prevenção de doenças crônicas (incluindo o outro artigo discutido esta semana no MedicinaNet4), não mostrou nenhum benefício da suplementação de vitamina E nem de selênio na redução do risco de câncer de próstata. São dois grandes estudos com um grande número de participantes e um longo tempo de seguimento, produzindo um grande poder estatístico, fazendo com que seja improvável que tais estudos tenham deixado de detectar até mesmo um benefício de tamanho modesto. Ao que parece o benefício de certas vitaminas e oligoelementos só ocorre quando estes fazem parte de uma dieta saudável e balanceada (ou mesmo de todo o estilo de vida que acompanha este tipo de dieta saudável) e não como suplementação dietética prescrita na forma de cápsulas e comprimidos. Na verdade esta tentativa de demonstrar alguma ação de suplementos vitamínicos também se enquadra, na visão deste editor, no conceito de medicalização social, tema que temos utilizado com certa frequência nesta seção, pois acreditamos tratar-se de um grande problema a que está submetida a saúde nos dias de hoje. É uma questão que deve ser combatida de todas as formas e sua presença deve ser sempre apontada e discutida.

Por fim, este editor, recomenda que não se utilizem suplementos vitamínicos (particularmente a vitamina C, a vitamina E e o selênio) como forma de prevenção de câncer. E, indo um pouco além dos resultados destes estudos, recomendamos pela não utilização de suplementos vitamínicos preventivos em qualquer circunstância, deixando a prescrição de vitaminas para os casos em que uma deficiência específica tenha sido detectada.

 

Dicas de Epidemiologia e Medicina baseada em Evidências

Análises não pré-especificadas

            Vale ressaltar que nos dois ensaios clínicos citados2,3 como base para a realização do presente estudo os resultados de redução de risco de câncer de próstata, além de serem resultados de desfechos secundários, foram desfechos secundários não especificados previamente, e sim análises incluídas após a avaliação dos dados. Este tipo de análise é extremamente problemático do ponto de vista de validade, uma vez que a chance destes resultados ocorrerem por acaso (e não como uma relação de causa e efeito) é muito grande. Entretanto são análises exploratórias que tem uma função científica importante de produzir novas hipóteses para serem testadas. Idealmente, para se obter resultados válidos dentro de um ensaio clínico, as hipóteses a serem testadas devem ser especificadas antes da realização do estudo, na fase de delineamento do estudo, mesmo porque o cálculo do poder do estudo e, portanto, do n da amostra (número de participantes), depende da hipótese a ser testada (do tipo de desfecho ou evento que se quer avaliar). Se após uma avaliação inicial dos resultados de um estudo já terminado, incluirmos outros eventos para avaliação, os resultados encontrados correm o risco de ocorrer por acaso em virtude do grande número de análises realizadas.

 

Bibliografia

1. Lippman SM, Klein EA, Goodman PJ, Lucia MS, Thompson IM, Ford LG, Parnes HL, Minasian LM, Gaziano JM, Hartline J, Parsons JK, Bearden JD, Crawford ED, Goodman GE, Claudio J, Winquist E, Cook ED, Karp DD, Walther P, Lieber MM, Kristal AR, Darke AK, Arnold KB, Ganz PA, Santella RM, Albanes D, Taylor PR, Probstfield JL, Jagpal TJ, Crowley JJ, Meyskens Jr FL, Baker LH, Coltman CA. Effect of Selenium and Vitamin E on Risk of Prostate Cancer and Other Cancers. The Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial (SELECT). JAMA. 2009;301(1):39-51.

2. Clark LC, Combs GF Jr, Turnbull BW, et al; Nutritional Prevention of Cancer Study Group. Effects of selenium supplementation for cancer prevention in patients with carcinoma of the skin: a randomized controlled trial. JAMA. 1996; 276(24):1957-1963.

3.The Alpha-Tocopherol, Beta Carotene Cancer Prevention Study Group. The effect of vitamin E and beta carotene on the incidence of lung cancer and other cancers in male smokers. N Engl J Med. 1994;330(15):1029-1035.

4. Gaziano JM, Glynn RJ, Christen WG, Kurth T, Belanger C,  MacFadyen J, Bubes V, Manson JE, Sesso HD, Buring JE. Vitamins E and C in the Prevention of Prostate and Total Cancer in Men. The Physicians’ Health Study II Randomized Controlled Trial. JAMA. 2009;301(1):52-62.

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