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Relação entre televisão e cognição em crianças

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 15/03/2009

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Relação entre televisão e cognição em crianças

 

Assistir televisão na infância e cognição aos 3 anos de idade numa coorte estadunidense.

Television Viewing in Infancy and Child Cognition at 3 Years of Age in a US Cohort. Pediatrics 2009;123:e370–e375 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (Pediatrics): 4,473

 

Contexto Clínico

            O impacto da mídia televisiva na vida das pessoas, incluindo as crianças, é razoavelmente grande. Ela pode influenciar uma série de comportamentos, opiniões e conceitos, pode estimular determinado tipo de consumo e pode levar a uma série de problemas de forma indireta, como sedentarismo, obesidade, dificuldades escolares e isolamento familiar, dentre outras. Há uma recomendação da Academia Americana de Pediatria desde 1999 para que crianças com menos de 2 anos de idade não sejam expostas à mídia televisiva (em outras palavras, não assistam à televisão). Entretanto, dados norte-americanos representativos recentes, mostram que 68% das crianças com menos de 2 anos assistem à televisão (em média de 1 a 2 horas diariamente) e cerca de um quarto destas crianças têm um aparelho de TV no seu quarto. Os estudos que avaliam o impacto da exposição à mídia televisiva na infância sobre o desenvolvimento cognitivo e da linguagem mostram resultados pouco consistentes. Em vista destas considerações, os autores realizaram um estudo para examinar em que grau a exposição às mídias televisivas (assistir à televisão) está associada com habilidades de linguagem e visuais/motoras aos 3 anos de idade.

 

O Estudo

            Foi um estudo observacional do tipo coorte, em que foram estudadas 872 crianças participantes da Coorte Project Viva. Utilizou-se um desenho tipo inquérito longitudinal em vários centros de Massachusetts. As mães relatavam o número de horas que seus filhos assistiam à televisão durante um período de 24 h aos 6 meses, 1 ano e 2 anos de idade, de forma que uma média ponderada de exposição diária à televisão pudesse ser calculada. Utilizou-se, então, análise de regressão multivariada para avaliar a associação entre exposição à mídia televisiva até os dois anos de idade e os escores de dois instrumentos de avaliação de habilidades visuais/motoras e de linguagem (Peabody Picture Vocabulary Test III2 e o Wide-Range Assessment of Visual Motor Abilities3) aos 3 anos de idade. Estes instrumentos têm boa correlação com o QI (coeficiente de inteligência) e avaliam, respectivamente, vocabulário receptivo e habilidades visuais/motoras (teste de desenho – drawing test), visuais/espaciais (teste de comparação – matching test) e motoras finas (teste de tabuleiro – pegboard test).

 

Resultados

            A média de tempo diária assistindo à televisão durante a infância (até os dois anos de idade) foi de 1,2 horas (desvio-padrão - DP: 0,9). A média do escore do Peabody Picture Vocabulary Test III aos 3 anos foi de 104,8 (DP:14,2) e a média do escore total do Wide-Range Assessment of Visual Motor Abilities aos 3 anos foi de 102,6 (DP:11,2). Nas análises não ajustadas, maior número de horas assistindo à televisão associou-se a menores habilidades cognitivas. Após ajustes para idade, renda, educação e escore Peabody Picture Vocabulary Test III maternos, e idade, sexo, peso ao nascer para idade gestacional, duração do aleitamento materno, raça/etnia e média diária de tempo de sono das crianças, não se encontrou nenhuma associação entre horas adicionais de tempo assistindo à televisão e os escores dos instrumentos utilizados aos 3 anos de idade. Os autores concluem que assistir à televisão até os dois anos de idade parece não influenciar as habilidades motoras e de linguagem aos 3 anos de idade.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            É um estudo interessante, mas que traz informações limitadas sobre os efeitos da exposição à mídia televisiva sobre a vida das crianças. O estudo avaliou apenas o tempo de exposição à televisão e algumas habilidades motoras e de linguagem aos 3 anos de idade. Não podemos concluir deste estudo que a exposição à televisão não tenha nenhuma influência sobre a vida das crianças. Obviamente existem outras variáveis em jogo neste tipo de associação, muito embora os autores tenham realizado uma série de ajustes para variáveis importantes que teriam um efeito na relação em estudo. Outras variáveis (para focalizarmos apenas na questão da influência da televisão) estão em jogo no processo de formação e desenvolvimento cognitivo das crianças, como o conteúdo e tipo de programa de TV, outras atividades realizadas com os pais além da TV (como jogos, leitura de histórias, pintura, desenho, atividades motoras, etc), tempo junto com os pais, tipo de relação com os pais e inúmeras outras. Desta forma, este editor acredita que a exposição à televisão em si possivelmente não influencie o desenvolvimento da criança. Entretanto vale lembrar que o tipo de conteúdo dos programas (violência; propaganda maciça focada em consumo de fast food, doces, roupas de grife e brinquedos da moda; atitudes egoístas e individualistas, etc) e o tipo e tempo de outras atividades realizadas com os pais parecem ter uma influência maior sobre o desenvolvimento psíquico e cognitivo das crianças.

 

Bibliografia

1. Schmidt ME, Rich M, Rifas-Shiman SL, Oken E, Taveras EM. Television Viewing in Infancy and Child Cognition at 3 Years of Age in a US Cohort. Pediatrics 2009;123:e370–e375.

2. Dunn LM, Dunn LM. Examiner’s Manual for the Peabody Picture Vocabulary Test. Circle Pines, MN: American Guidance Service; 1997

3. Adams W, Sheslow D. Wide Range Assessment of Visual Motor Abilities. Lutz, FL: Psychological Assessment Resources, Inc; 1995

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