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Reanimação cardiopulmonar apenas com compressão torácica vs compressão torácica e ventilação

Autor:

Antonio Paulo Nassar Junior

Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.

Última revisão: 13/08/2010

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Reanimação cardiopulmonar apenas com compressão torácica vs. compressão torácica e ventilação

 

Reanimação cardiopulmonar com compressões torácicas isoladamente ou associadas com ventilação de resgate

 

Fator de impacto da revista (New England Journal of Medicine): 50,017

 

Contexto Clínico

A parada cardiorrespiratória (PCR) é responsável por diversas mortes anualmente. O início precoce da reanimação cardiopulmonar (RCP) realizada por leigos pode aumentar as chances de sobrevida e melhorar o prognóstico neurológico. Tradicionalmente, a RCP consiste de compressões cardíacas intercaladas com ventilações de resgate com o objetivo de se manter algum grau de circulação e oxigenação. No entanto, a probabilidade de uma pessoa leiga realizar uma ventilação adequada é pequena e um grande intervalo de tempo pode se passar até que se retornem às compressões torácicas. Assim, tem-se dado grande ênfase na manutenção das compressões torácicas em detrimento da ventilação para se aumentarem as chances de retorno da circulação espontânea. Alguns estudos sugerem que uma estratégia de RCP que use apenas compressões torácicas é tão eficaz quanto uma que associe ventilações (2-4).

Recentemente, dois estudos clínicos foram conduzidos com o intuito de comparar as duas estratégias (1, 5).

 

O estudo

O primeiro estudo foi conduzido nos EUA e Inglaterra e randomizou pacientes inconscientes, que não estivessem respirando e cuja RCP ainda não tivesse iniciado. Após contato com o serviço de atendimento de emergências, as pessoas que estivessem assistindo aos pacientes recebiam a orientação de realizar RCP apenas com compressões torácicas (50 consecutivas) ou associando compressões torácicas e ventilações (na razão de 15 para 2). Foram excluídos pacientes menores de 18 anos, com PCR secundárias a trauma, afogamento, asfixia, com ordens de não reanimar, e aqueles que já estivessem recebendo RCP.

O desfecho principal analisado foi sobrevida à alta hospitalar. O principal desfecho secundário analisado foi o estado neurológico favorável (definido como boa performance neurológica ou incapacidade moderada). Foram definidas, ainda, algumas análises de subgrupos (causa da PCR, ritmo inicial da PCR, PCR testemunhada ou não, tempo de resposta do serviço de resgate (menor ou igual a 6 min vs. maior que 6 min).

 

Resultados

Foram incluídos 1941 pacientes, sendo que 981 para o grupo de apenas compressões torácicas e 960 para a RCP combinada. O primeiro grupo teve sobrevida de 12,5% e o segundo, de 11% (p=0,12). O prognóstico neurológico favorável ocorreu em 14,4% dos pacientes que foram reanimados apenas com compressões torácicas e em 11,5% dos que receberam compressões e ventilações (p=0,13). Entre os pacientes que tiveram uma PCR por causa cardíaca, a sobrevida foi de 15,5% e 12,3%, respectivamente (p=0,09) e houve uma maior proporção de pacientes com prognóstico neurológico favorável (18,9% vs. 13,5%; p=0,03). Para os pacientes com PCR por causa não-cardíaca, a sobrevida foi de 5,0% naqueles que receberam apenas as compressões torácicas e de 7,2% naqueles que receberam compressões e ventilações (p=0,29).

 

Aplicações Para a Prática Clínica

Este estudo sugere que RCP com ou sem ventilação de resgate não são diferentes quanto à sobrevida hospitalar. Embora o estudo refira-se a uma “tendência” de melhor sobrevida com RCP somente com compressões em pacientes com causas não cardíacas, isto não pode ser confirmado baseado na análise estatística feita e também tal achado não seria de grande valia uma vez que não se pode determinar com adequado grau de certeza qual a causa da PCR no momento do seu reconhecimento. Um problema do estudo é o fato de ele comparar uma estratégia de 15 compressões e 2 ventilações com a estratégia de compressões contínuas, uma vez que as diretrizes atuais recomendam 30 compressões para 2 ventilações. Qualquer conclusão a respeito dessa diferença seria incerta. De qualquer modo, este estudo, juntamente com outro recentemente publicado, sugerem que a RCP apenas com compressões torácicas não parece ser diferente quanto à RCP tradicional em relação à sobrevida. Uma vez que pessoas leigas têm dificuldades em e receio de realizar as ventilações, realizar apenas as compressões parece uma estratégia mais simples e aceitável.

 

Bibliografia

 

1.         Rea TD, Fahrenbruch C, Culley L, Donohoe RT, Hambly C, Innes J, et al. CPR with Chest Compression Alone or with Rescue Breathing. New England Journal of Medicine. 2010;363(5):423-33.

2.         Cardiopulmonary resuscitation by bystanders with chest compression only (SOS-KANTO): an observational study. Lancet. 2007 Mar 17;369(9565):920-6.

3.         Bohm K, Rosenqvist M, Herlitz J, Hollenberg J, Svensson L. Survival is similar after standard treatment and chest compression only in out-of-hospital bystander cardiopulmonary resuscitation. Circulation. 2007 Dec 18;116(25):2908-12.

4.         Iwami T, Kawamura T, Hiraide A, Berg RA, Hayashi Y, Nishiuchi T, et al. Effectiveness of bystander-initiated cardiac-only resuscitation for patients with out-of-hospital cardiac arrest. Circulation. 2007 Dec 18;116(25):2900-7.

5.         Svensson L, Bohm K, Castrèn M, Pettersson H, Engerström L, Herlitz J, et al. Compression-Only CPR or Standard CPR in Out-of-Hospital Cardiac Arrest. New England Journal of Medicine. 2010;363(5):434-42.

 

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