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Câncer de ovário fazer rastreamento vale à pena?

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 25/07/2011

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Especialidades: Ginecologia / Medicina de Família / Oncologia

 

Área de atuação: Medicina Ambulatorial

 

Resumo: este estudo mostra que fazer rastreamento para câncer de ovário com CA-125 e ultrassonografia transvaginal não tem nenhum benefício e pode até oferecer riscos para as pacientes.

 

Contexto clínico

O câncer de ovário é uma doença altamente letal, pois é difícil de diagnosticá-lo em sua fase inicial, quando ainda é praticamente assintomático. Ainda há dúvidas se algum método de rastreamento (screening) pode ser útil na detecção precoce da doença, proporcionando impacto na mortalidade. Este estudo buscou responder a esta pergunta fazendo um esquema de rastreamento baseado na dosagem do CA-125 e na realização de ultrassonografia (USG) transvaginal.

 

O estudo

Este foi um estudo desenvolvido nos EUA. É um ensaio randomizado controlado, realizado com 78.216 mulheres entre 55 e 74 anos de idade que foram alocadas em dois grupos: um de cuidados habituais e outro com a intervenção de se realizar o rastreamento anual para câncer de ovário com CA-125 e USG transvaginal. Aquelas com CA-125 = 35 U/mL ou com alterações suspeitas ao USG transvaginal eram consideradas pacientes com rastreamento positivo, que induzia investigação complementar.. As participantes foram seguidas em média por 13 anos. Os desfechos avaliados foram mortalidade por câncer de ovário, incidência de câncer de ovário e complicações associadas com os exames do rastreamento e com procedimentos diagnósticos. Foram calculados os riscos relativos (RR) e os intervalos de 95% de confiança (IC95%).

Os resultados encontrados foram os seguintes:

 

1.     Câncer de ovário foi diagnosticado em 212 mulheres do grupo intervenção (5,7/10.000 pessoas-ano) e em 176 mulheres do grupo controle (4,7/10.000 pessoas-ano) (RR: 1,21; IC95%: 0,99-1,48).

2.     Ocorreram 118 mortes no grupo intervenção (3,1/10.000 pessoas-ano) e 100 mortes no grupo controle (2,6/10.000 pessoas-ano) (RR: 1,18; IC95%: 0,82-1,71).

3.     Das 3.285 mulheres com resultados falso-positivos, 1.080 precisaram de seguimento cirúrgico. Destas, 163 tiveram pelo menos 1 complicação grave (15%).

 

Aplicações para a prática clínica

O esquema de rastreamento proposto não teve nenhum impacto positivo, não gerando nenhum benefício em termos de mortalidade a despeito da incidência de câncer de ovário ser semelhante nos dois grupos. Pelo contrário, o esquema de rastreamento proposto mostrou-se de risco, pois expor pacientes com testes falso-positivos a exames e procedimentos, 15% destas sofreram ao menos uma complicação grave. Continuamos sem evidência que corrobore a realização de alguma forma de rastreamento de câncer de ovário do ponto de vista populacional. A prática atual continua inalterada e, pelo contrário, este estudo desencoraja a realização de rastreamento para câncer de ovário, pois pode resultar em danos desnecessários às pacientes que supostamente seriam candidatas aos testes.

 

Glossário

Falso-positivo: é um resultado de exame erroneamente positivo, quando, na verdade, a situação do paciente é normal. Pode ser considerado um alarme falso. Do ponto de vista estatístico, é o que ocorre quando um teste rejeita uma hipótese nula verdadeira, ou seja, um paciente é normal, porém seu exame vem com um resultado que falsamente mostra que ele tem uma doença ou alteração clínica.

 

Bibliografia

1.     Buys SS et al. Effect of screening on ovarian cancer mortality: The Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian (PLCO) Cancer Screening Randomized Controlled Trial. JAMA 2011 Jun 8; 305:2295 (Fator de Impacto: 28,899).

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