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Como diminuir o uso errado de antibióticos no tratamento de celulites

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 09/08/2011

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Como diminuir o uso errado de antibióticos no tratamento de celulites

 

Comentado por: Lucas Santos Zambon

 

Especialidades: Infectologia / Emergências / Dermatologia

 

Área de atuação: Segurança do Paciente & Qualidade Assistencial / Medicina Hospitalar / Medicina de Emergência

 

Resumo: este estudo mostra como uma diretriz institucional bem implementada pode racionalizar a antibioticoterapia para casos de celulite e abscesso cutâneo, minimizando seu tempo de uso e evitando escolhas erradas de antibióticos.

 

Contexto clínico

As celulites e os abscessos cutâneos estão entre as infecções que mais geram internações hospitalares. A despeito disso, não há estratégias de tratamento bem definidas.

Os agentes infecciosos predominantes são os aeróbicos gram-positivos, principalmente o Staphylococcus aureus e diferentes estreptococos. Mesmo assim, são usados diversos esquemas com cobertura para gram-negativos e anaeróbios, e ainda há uma pressão da indústria farmacêutica que vem usando antibióticos de largo espectro em ensaios clínicos com infecções cutâneas. Além disso, os tempos de tratamento são variáveis, passando até de 14 dias, porém sem evidência de benefício com esse tempo prolongado de tratamento.

Já existem diretrizes que promovem uma adequada utilização de antibióticos em pneumonia de comunidade. O ideal é que se criem diretrizes para outras infecções de comunidade que frequentemente precisam de hospitalização, como é o caso das celulites e dos abscessos cutâneos.

 

O estudo

Este estudo foi realizado comparando uma coorte no período pré-intervenção com uma coorte no período pós-intervenção, que foi a implementação de uma diretriz de avaliação e tratamento. Entre alguns itens da diretriz, constava a orientação quanto à realização de exames, com solicitação de utilizar PCR e culturas em casos selecionados e não de forma indiscriminada, desencorajando uso de VHS, culturas de feridas, TC ou RNM da parte afetada. O antibiótico de escolha passa a ser a vancomicina, restringindo o uso de antibióticos com cobertura para gram-negativos e anaeróbios. O tempo de tratamento preconizado é de 7 dias, salvo evolução ruim do caso, e a transição para medicação oral também é direcionada (doxiciclina, clindamicina e sulfametoxazol-trimetoprim).

A estratégia de implementação da diretriz consistiu de 4 partes:

 

1.     Disseminação da diretriz para todos os médicos do hospital onde foi feito o estudo.

2.     Criação de um formulário eletrônico de admissão para casos de celulite e abscesso cutâneo com direcionamento de exames e terapias recomendadas na diretriz.

3.     Treinamento das equipes do hospital feito por médicos de referência e que ajudaram a desenvolver a diretriz.

4.     Auditoria dos resultados e feedback para a equipe durante a fase de intervenção.

 

Os resultados foram os seguintes:

 

         Foram 169 pacientes (66 com celulite, 103 com abscesso) incluídos na fase pré-intervenção e 175 (82 com celulite, 93 com abscesso) incluídos na fase pós-intervenção.

         A intervenção diminuiu o uso de culturas (80% vs. 66%; P=0,003) e de interconsultas (principalmente para cirurgia geral e infectologia) (46% vs. 30%; P=0,004). A mediana de duração de tratamento diminuiu de 13 para 10 dias (P=0,001), sendo que mais pacientes receberam menos de 10 dias de terapia (14% vs. 38%; P< 0,001).

         Menos pacientes receberam antibiótico com espectro para gram-negativos (66% vs. 36%; P=0,001), ou com atividade antipseudomonas (28% vs. 18%; P=0,02), ou com espectro para anaeróbicos (76% vs. 49%; P=0,001).

         Falência terapêutica ocorreu em 7,7% dos casos pré-intervenção e em 7,4% dos casos pós-intervenção. (P=0,93).

 

Aplicações para a prática clínica

Este estudo mostra como uma intervenção focada em evidências, treinamento e monitoração de resultados pode melhorar, e muito, a prática médica em uma situação tão corriqueira. Houve menor uso de antibióticos desnecessários, os tempos de uso foram menores (provavelmente em virtude do impacto sobre o tempo de internação e os custos), sem ocorrer falha terapêutica. Vale ressaltar que o antibiótico de escolha orientado pela diretriz foi a vancomicina, o que é compreensível na realidade dos EUA, onde foi feito o estudo, e que tem mais resistência de estafilococos de comunidade à oxacilina. No caso do Brasil, seria perfeitamente plausível substituir a vancomicina como antibiótico de escolha pela oxacilina.

Vale ressaltar que os grandes méritos desse tipo de intervenção é induzir menor resistência bacteriana, menor seleção de flora e melhorar a qualidade e os custos de assistência, algo fundamental para sustentar o sistema de saúde e promover boa qualidade de atendimento aos pacientes.

 

Bibliografia

1.     Jenkins TC, Knepper BC, Sabel AL, Sarcone EE, Long JA, Haukoos JS, et al. Decreased antibiotic utilization after implementation of a guideline for inpatient cellulitis and cutaneous abscess. Arch Intern Med. 2011 Jun 27;171(12):1072-9. Epub 2011 Feb 28. (Fator de impacto: 9,81).

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