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Impacto da vacina contra rotavírus na utilização de recursos de saúde

Autores:

Flávia J. Almeida

Médica Assistente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Mestre em Pediatria pela FCMSCSP.

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 09/01/2012

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Área de atuação: Medicina de Emergência e Medicina Ambulatorial

 

Especialidade: Pediatria, Emergências, Infectologia, Medicina da Família e Comunidade

 

Resumo

Estudo observacional mostrando os benefícios indiretos e a redução das hospitalizações por diarreia em crianças com menos de 5 anos de idade, além da redução na utilização de recursos de saúde nos EUA após a introdução da vacina para rotavírus no calendário vacinal dos EUA.

 

Contexto clínico

O rotavírus é considerado um dos mais importantes agentes causadores de gastrenterites agudas (GECA) graves e de óbitos em crianças menores de 5 anos em todo mundo. A maioria das crianças se infecta nos primeiros anos de vida, porém os casos mais graves ocorrem principalmente em crianças até os 2 anos de idade. Estima-se que, antes da introdução da vacina, ocorria no mundo um total de 125 milhões de casos/ano, resultando em cerca de 2 milhões de internações e 600 a 800 mil óbitos.

A primeira vacina contra rotavírus foi licenciada nos Estados Unidos em 1998. Era uma vacina oral atenuada tetravalente, com rearranjo símio e humano, aplicada no esquema de 3 doses aos 2, 4 e 6 meses de idade. Essa vacina foi suspensa em 1999, em virtude do aumento na incidência de invaginação intestinal. Atualmente existem duas vacinas disponíveis: a Vacina monovalente humana oral e a vacina pentavalente bovino-humana oral.

A vacinação rotineira de crianças com a vacina pentavalente contra rotavírus (RV5) foi introduzida no calendário vacinal dos EUA em 2006.

 

O estudo

Trata-se um estudo observacional ecológico (ou estudo de risco agregado) (vide Glossário), comparando a cobertura vacinal da RV5 e a utilização de recursos de saúde associados a diarreia antes (julho de 2001 a junho de 2006) e depois (julho de 2007 a junho de 2009) da introdução da vacinação rotineira no calendário vacinal dos EUA, em crianças com menos de 5 anos de idade. Foram comparadas as taxas de utilização de recursos de saúde associada a diarreia nas crianças não vacinadas no período de janeiro a junho (quando o rotavírus é mais prevalente) em 2008 e 2009, com as taxas no período pré-vacinação para estimar os benefícios indiretos. Também foi estimada a redução nacional no número de hospitalizações por diarreia e os custos associados, por extrapolação.

No final de 2008, pelo menos uma dose de RV5 tinha sido administrada para 73% das crianças com menos de 1 ano, 64% das crianças com 1 ano e 8% das crianças de 2 a 4 anos. Entre as crianças com menos de 5 anos, as taxas de hospitalização por diarreia em 2001-2006, 2007-2008 e 2008-2009 foram 52, 35 e 39 casos por 10.000 pessoas-ano, respectivamente, com reduções relativas de 33% (IC95% 31 a 35%) de 2001-2006 para 2007-2008 e 25% (IC95% 23 a 27%) de 2007-2008 para 2008-2009. As taxas de hospitalização por diarreia específica por rotavírus foram 14, 4 e 6 casos por 10.000 pessoas-ano, respectivamente, com reduções relativas de 75% (IC95% 72 a 77%) de 2001-2006 para 2007-2008 e de 60% (IC95% 58 a 63%) de 2007-2008 para 2008-2009. Nos períodos de janeiro a junho de 2008 e 2009, as respectivas reduções nas taxas relativas entre crianças vacinadas comparadas com as não vacinadas foram:

 

         hospitalização por diarreia = 44% (IC95% 33 a 53%) e 58% (IC95% 52 a 64%);

         hospitalização por diarreia específica por rotavírus = 89% (IC95% 79 a 94%) e 89% (IC95% 84 a 93%);

         visitas ao pronto-socorro por diarreia = 37% (IC95% 31 a 43%) e 48% (IC95% 44 a 51%);

         consultas ambulatoriais por diarreia = 9% (IC95% 6 a 11%) e 12% (IC95% 10 a 15%).

 

Os benefícios indiretos (nas crianças não vacinadas) foram observados em 2007-2008, mas não em 2008-2009. Nacionalmente, para o período de 2007-2009, houve uma redução estimada de 64.855 hospitalizações, com uma economia de US$ 278 milhões nos custos do tratamento.

Os autores concluem que, desde a introdução da vacina pentavalente contra rotavírus (RV5), a utilização de recursos de saúde associados a diarreia e os gastos médicos diminuíram substancialmente nos EUA.

 

Aplicações para a prática clínica

Este estudo mostra claramente a diminuição da utilização de recursos de saúde associados à diarreia após a introdução da vacinação pentavalente contra rotavírus (RV5) no calendário vacinal dos EUA.

No Brasil, antes da introdução da vacina monovalente contra rotavírus no calendário vacinal, as gastrenterites agudas por rotavírus associavam-se a alta morbimortalidade, resultando em 3,5 milhões de episódios de diarreia, 650.000 consultas médicas, 92.000 hospitalizações e 850 mortes por ano, em crianças menores de 5 anos. Em março de 2006, foi incluída a vacina monovalente contra rotavírus no calendário brasileiro. Apesar de não termos dados que analisam a custo-efetividade da vacina em nosso país, estudo brasileiro recente2 mostrou uma redução de 59% no número de hospitalizações por diarreia causada por rotavírus, o que indiretamente também indica diminuição na utilização de recursos de saúde.

 

Glossário

Estudo ecológico ou Estudo de risco agregado: tipo de estudo em que a unidade de análise é uma população (um grupo ou agregado de indivíduos), e não indivíduos. A associação entre exposição e desfecho é observada em populações ou grupo de indivíduos, conhecendo-se a exposição média naquela população ou grupo. No estudo ecológico, conhece-se o número de indivíduos expostos e o número total de casos, mas não o número de casos expostos. São estudos realizados em uma determinada área geográfica a qual o grupo de indivíduos (ou a população em estudo) pertence. Muitas vezes são utilizados dados secundários provenientes de fontes diferentes; em outras palavras, as informações desejadas são retiradas de registros de dados coletados rotineiramente como fonte de dados oficiais (Datasus, OMS, registros de inquéritos nacionais etc.). Assim, o estudo ecológico se presta a encontrar associações entre uma exposição e um desfecho na coletividade, o que nem sempre significa que esta mesma associação ocorra no nível individual (falácia ecológica)3,4.

 

Bibliografia

1.   Cortes JE, Curns AT, Tate JE, Cortese MM, Patel MM, Zhou F et al. Rotavirus vaccine and health care utilization for diarrhea in U.S. Children. N Engl J Med 2011; 365:1108-17 [Link para o Resumo] (Fator de impacto: 50.017).

2.   Sáfadi MA, Berezin EN, Munford V, Almeida FJ, de Moraes JC, Pinheiro CF et al. Hospital-based surveillance to evaluate the impact of rotavirus vaccination in São Paulo, Brazil. Pediatr Infect Dis J. 2010; 29(11):1019-22 [Link para o Resumo].

3.   Morgenstern H. Ecologic studies. In: Rothman KJ, Greenland S. Modern epidemiology. 2. ed. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1998. p.459-80.

4.   Lima-Costa MF, Barreto SM. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol Serv Saúde. 2003; 12(4):189-201.

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