Editorial MedicinaNET – Abril2012

Editorial – Abril/2012

A crise humanista da medicina está calcada no imperialismo cientificista da prática médica contemporânea (ver Um bisturi de argônio – Carta ao professor de clínica médica) que, por sua vez, reflete o próprio mundo contemporâneo.

As sofisticadas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, aliadas à medicina baseada em evidências, passaram a ser um fim em si mesmo, em vez de ferramentas úteis para a prática cotidiana. Soma-se a isto a hiperespecialização da prática e o distanciamento cada vez maior entre a população e uma prática mais humanista e totalizante, voltada para a relação médico-paciente. No mundo contemporâneo de alta velocidade e volatilidade, no qual as coisas devem acontecer imediatamente, não há lugar para o clínico geral, para a incerteza, para a espera vigilante (watchful waiting), para a longitudinalidade, para a conduta sem a mediação de um exame de alta tecnologia.

Uma grande questão na atualidade é como reverter esta situação. Talvez as próprias dificuldades econômicas com o financiamento da saúde pressionem por uma renovação da prática médica, mas políticas públicas de estímulo à prática generalista também têm seu lugar e devem ser utilizadas. O problema é que a prática liberal da medicina está tão arraigada culturalmente que qualquer tentativa governamental de estimular outras práticas é vista como tentativa de tolher a livre iniciativa ou a autonomia médica. De qualquer forma, o MedicinaNET apoia todos os esforços para uma renovação da medicina e continua contribuindo para uma visão crítica da ciência médica.

Boa leitura!

Os editores