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Editorial MedicinaNET - Março - 2015  Livre

Última revisão: 19/03/2015

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Tempo de Despertar

         No dia 19 de fevereiro de 2015, o neurologista britânico Oliver Sacks anunciou estar com um câncer terminal. O médico, autor de best-sellers como “Tempo de Despertar” (que virou filme com Robert De Niro e Robin Williams, e teve três indicações ao Oscar) e “O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu”, revelou o fato em uma seção do famoso jornal New York Times.

         Ele conta na publicação que há nove anos havia sido diagnosticado com um raro melanoma em um dos olhos, e que o tratamento agressivo o havia deixado cego deste olho. Mas recentemente ele se tornou parte do "desafortunado 2%" dos pacientes nos quais esse tipo particular de câncer se expande. No caso, Oliver Sacks está com uma doença metastática para o fígado e outros órgãos. A perspectiva é de poucos meses de vida. Ele afirma que “está de cara com a morte”.

         Talvez uma das situações mais lúcidas na vida de uma pessoa seja o que se passa em sua cabeça ao saber da chegada de sua própria morte. Por mais que saibamos que um dia iremos morrer, esta informação fica trancafiada em nossos pensamentos, e procuramos passar bem longe desta ideia. O medo da morte nos assombra por toda a vida. Porém, Oliver Sacks está experimentando a lucidez da proximidade com a morte. Talvez, a coisa mais forte a ser superada por um ser humano plenamente consciente. Talvez tudo se torne claro, evidente, simples e milagroso quando nos deparamos com a morte. Talvez seja assim que o neurologista e professor da Universidade de Nova York esteja. Talvez o conhecimento com da própria morte seja a verdadeira pílula que permite um “tempo de despertar”, antes do último sono. E desta lucidez vem a sabedoria. Sabedoria que precisamos ao menos contemplar. Abaixo, trecho do texto de Oliver Sacks para ser lido com calma, em silêncio, em busca de o próprio despertar.

 

         “I have been increasingly conscious, for the last 10 years or so, of deaths among my contemporaries. My generation is on the way out, and each death I have felt as an abruption, a tearing away of part of myself. There will be no one like us when we are gone, but then there is no one like anyone else, ever. When people die, they cannot be replaced. They leave holes that cannot be filled, for it is the fate — the genetic and neural fate — of every human being to be a unique individual, to find his own path, to live his own life, to die his own death. I cannot pretend I am without fear. But my predominant feeling is one of gratitude. I have loved and been loved; I have been given much and I have given something in return; I have read and traveled and thought and written. I have had an intercourse with the world, the special intercourse of writers and readers. Above all, I have been a sentient being, a thinking animal, on this beautiful planet, and that in itself has been an enormous privilege and adventure”.

—- Oliver Sacks

 

Tradução livre:

         “Tenho estado extremamente consciente, pelos últimos dez anos mais ou menos sobre as mortes de meus contemporâneos. Minha geração está se extinguindo, e sinto cada morte como uma ruptura, um rasgo de uma parte minha. Não existirá ninguém como nós quando formos embora, mas até aí, não existe ninguém parecido com ninguém, nunca. Quando as pessoas morrem, elas não podem ser substituídas. Elas deixam buracos que não podem ser preenchidos, mas é esse o destino – o destino genético e natural – de cada ser humano ser um indivíduo único e individual, e encontrar seu próprio caminho, viver sua própria vida, morrer sua própria morte. Não posso fingir que não tenho medos. Mas meu sentimento predominante é o de gratidão. Eu amei e fui amado; recebi e dei em troca; li e viajei e refleti e escrevi. Eu tive um relacionamento* com o mundo, o tipo de relacionamento especial que os escritores e leitores têm. Acima de tudo, eu fui um ser sensível, um animal pensante, nesse lindo planeta, e isso em si mesmo tem sido um grande privilégio e uma aventura”.

 

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