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Checklist baseado nas recomendações da OMS reduz a morbidade e mortalidade pós-operatória

Autor:

Euclides F. de A. Cavalcanti

Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 21/01/2009

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Checklist baseado nas recomendações da OMS reduz a morbidade e mortalidade pós-operatória.

 

Um Checklist de segurança cirúrgico para reduzir a morbidade e mortalidade em uma população global.

A Surgical Safety Checklist to Reduce Morbidity and Mortality in a Global Population. N Engl J Med 2009;360:491-9. [Link Livre para o Artigo Original]

 

Fator de impacto da revista (New England Journal of Medicine): 52,589

 

Contexto Clínico

            Os procedimentos cirúrgicos tem se tornado cada vez mais freqüentes, e se associam a morbidade e mortalidade significativos. Estima-se que a mortalidade associada aos procedimentos esteja entre 0,4 e 0,8% e a incidência de complicações entre 3 e 17% dos procedimentos, números que podem variar de acordo com o serviço e complexidade dos procedimentos2,3. Além disso, dados sugerem que pelo menos metade das complicações relacionadas aos procedimentos podem ser prevenidas2,3, o que levou a organização mundial de saúde (OMS) a publicar diretrizes para assegurar a segurança dos pacientes cirúrgicos ao redor do mundo4.

           

O Estudo

            Baseando-se nas diretrizes da OMS, os autores do estudo desenvolveram um checklist de 19 itens formulado para ser aplicável mundialmente e que pudesse reduzir as principais complicações cirúrgicas. Os autores avaliaram a incidência de complicações e de mortalidade pós-operatórias em oito cidades de diferentes países, sendo que 3733 pacientes consecutivos foram avaliados prospectivamente antes da introdução deste checklist e 3955 pacientes consecutivos foram avaliados após a introdução do checklist.

            A tabela 1 contém os principais elementos do checklist.

 

Tabela 1: Checklist de segurança cirúrgico baseado nas recomendações da OMS

Admissão (sign in):

Antes da indução anestésica, os membros da equipe (no mínimo a enfermeira e o anestesista) confirmam oralmente que:

1.     O paciente verificou a sua identidade, o sítio cirúrgico, o procedimento e deu o consentimento.

2.     O sítio cirúrgico está marcado ou a marcação do sítio não é aplicável.

3.     O oxímetro de pulso está ligado e funcionando.

4.     Todos os membros da equipe estão cientes se o paciente tem alguma alergia conhecida.

5.     A via aérea e o risco de aspiração foram avaliados e o equipamento apropriado e assistência estão disponíveis.

6.     Se houver risco de perda sanguínea de pelo menos 500 ml (ou 7 ml/kg em crianças) é necessário acesso venoso apropriado e fluidos de reposição disponíveis.

Pausa antes do início (time out)

Antes da incisão, toda a equipe (enfermeiras, cirurgiões, anestesistas e outros participantes no cuidado do paciente) verificam oralmente:

7.     Todos os membros da equipe foram apresentados e tem o devido papel definido.

8.     Confirmação da identidade do paciente, sítio cirúrgico e procedimento.

Revisão de eventos críticos antecipada

9.     O cirurgião revisa passos críticos e inesperados, duração da cirurgia e perda sanguínea prevista.

10.  A equipe anestésica revisa preocupações relativas ao paciente.

11.  Equipe de enfermagem revisa a esterilidade e disponibilidade do equipamento e outras preocupações antecipadas.

12.  Confirmação de que os antibióticos profiláticos foram administrados < 60 minutos antes da incisão ou que os antibióticos não são indicados.

13.  Confirmação de que todos os exames de imagem do paciente correto estão visíveis na sala cirúrgica.

Liberação (sign out)

Antes do paciente deixar a sala cirúrgica

14.  O enfermeiro revisa os seguintes itens com a equipe:

15.  Nome do procedimento realizado

16.  Verificação que as agulhas, gazes e instrumentos utilizados estão todos completos (ou não aplicável)

17.  Verificação que qualquer fragmento retirado foi identificado corretamente e que inclui o nome do paciente

18.  Verificação de outros cuidados com o equipamento necessários

19.  O cirurgião, a enfermeira e os anestesistas revisam oralmente as principais preocupações com o cuidado do paciente e com a sua recuperação

 

Resultados

            A taxa de mortalidade foi de 1,5% antes da introdução do checklist e diminuiu para 0,8% após a introdução do checklist (p = 0,003). Complicações pós-operatórias ocorreram em 11% dos pacientes previamente à introdução do checklist e esta taxa caiu para 7% após a introdução (p<0,001). Os autores concluem que este checklist, se aplicado em uma escala global, teria o potencial de prevenir um grande número de mortes e condições debilitantes.

           

Aplicações para a Prática Clínica

            O estudo avaliou a incidência de mortalidade e complicações pós-operatórias antes e após uma intervenção, e este tipo de estudo está sujeito a viés, que poderia ser menor em um ensaio clínico randomizado. Além disso, não é possível determinar qual o impacto de cada uma das intervenções na diminuição das complicações e da mortalidade, sendo o mecanismo provavelmente multifatorial.

            No entanto, apesar destas limitações, o estudo mostrou um resultado muito robusto na diminuição de mortalidade e complicações, através de medidas que não oneram o sistema de saúde, além de ter sido baseado nas diretrizes da OMS e no conhecimento de que grande parte das complicações pós-operatórias pode ser prevenida.

            Portanto, é opinião deste editor que este checklist deva ser adotado nas salas cirúrgicas de todo país, recomendando-se a leitura do artigo original e das diretrizes da OMS pelos responsáveis. Novos estudos são aguardados de forma a aprimorar ainda mais  intervenções que possam diminuir complicações e a mortalidade relacionada aos procedimentos cirúrgicos.

 

Bibliografia

1.     Haynes AB et al. A Surgical Safety Checklist to Reduce Morbidity and Mortality in a Global Population. N Engl J Med 2009;360:491-9. [Link Livre para o Artigo Original]

2.     World Alliance for Patient Safety. WHO guidelines for safe surgery. Geneva: World Health Organization, 2008. [Link Livre para o Documento Original]

3.     Gawande AA, Thomas EJ, Zinner MJ, Brennan TA. The incidence and nature of surgical adverse events in Colorado and Utah in 1992. Surgery 1999;126:66-75.

4.     Kable AK, Gibberd RW, Spigelman AD. Adverse events in surgical patients in Australia. Int J Qual Health Care 2002;14: 269-76.

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