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Central de materiais

Última revisão: 14/05/2013

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Versão original publicada na obra Slavish, Susan M. Manual de prevenção e controle de infecções para hospitais. Porto Alegre: Artmed, 2012.

 

 

 

 

         Equipamentos, dispositivos e materiais médicos que não forem limpos, desinfetados e esterilizados podem transmitir micro-organismos para PASs e pacientes.

 

         Limpar, desinfetar e esterilizar os itens de assistência ao paciente de acordo com diretrizes rigorosas que especificam agentes e métodos para o reprocessamento adequado.

         Prover educação e treinamento especiais ao pessoal que realiza o processamento de esterilização.

         Desenvolver estratégias de processamento especiais para alguns dispositivos médicos, como endoscópios.

 

Se não forem reprocessados adequadamente, equipamentos, dispositivos e materiais médicos podem transmitir infecções entre pacientes, de paciente para profissionais de assistência à saúde (PASs) ou de PASs para pacientes. O departamento do hospital responsável por grande parte do reprocessamento de equipamentos, dispositivos e materiais médicos – incluindo instrumentos e equipamentos cirúrgicos – é a central de materiais (ou de esterilização). Nele, os PASs devem transportar, classificar, desmontar, limpar, desinfetar, inspecionar, acondicionar, esterilizar, armazenar e distribuir os itens reprocessados.

Embora a maioria dos instrumentos e dispositivos médico-hospitalares seja limpa, desinfetada e esterilizada na central de materiais, o reprocessamento estéril desses itens não é feito exclusivamente nesse setor. As atividades de reprocessamento também podem ser realizadas em outras áreas do hospital, como as de assistência ao paciente e cirurgia. Nas áreas de assistência a pacientes, os artigos reprocessados que entram em contato com a pele intacta (mas não com membranas mucosas, tecido estéril, pele não intacta) incluem os medidores de pressão, os estetoscópios e as muletas. Aqueles que entram em contato com membranas mucosas, tecido estéril ou pele não intacta são reprocessados em áreas especializadas e incluem endoscópios, broncoscópios, sondas vaginais e sondas de ecocardiograma transesofágico (SETs). Esses tipos de itens podem ser limpos no local de uso e não precisam ser transportados para a central de materiais e esterilização para reprocessamento.

O objetivo dos PASs nas centrais de materiais e em outras áreas do hospital que processam os artigos médico-hospitalares é fornecer instrumentos, dispositivos e equipamentos médicos seguros, funcionais, limpos ou estéreis para reduzir a transmissão de micro-organismos e reduzir a probabilidade de várias infecções, incluindo as infecções no sítio cirúrgico.1

Para isso, os PASs dessas centrais devem estar familiarizados com vários conceitos importantes, como limpar, desinfetar e esterilizar de forma eficaz os equipamentos, dispositivos e materiais. Além disso, a equipe das centrais deve compreender as nuanças do acondicionamento e da montagem estéril, assim como as confusões e os perigos envolvendo reprocessamento de dispositivos de uso único. As seções a seguir examinam esses conceitos.

 

Determinação das estratégias de reprocessamento adequadas

Para auxiliar os PASs a escolher a estratégia de limpeza adequada para reprocessar os artigos médico-hospitalares, E. H. Spaulding desenvolveu, em 1968, uma classificação para itens a serem desinfetados ou esterilizados com base em seus graus de risco de infecção para os pacientes. Os hospitais ainda usam esse esquema para orientar as atividades de desinfecção e esterilização. O Sistema de Classificação de Spaulding divide os instrumentos e itens de assistência ao paciente em três categorias,2 as quais se referem ao uso indicado do dispositivo e não ao potencial grau de risco de contaminação. Por exemplo, a categoria “não críticos” não significa que seus itens não podem transportar contaminantes, mas que seu grau de risco a PASs e pacientes não é crítico. As categorias do sistema de Spaulding são as seguintes:2

 

      Críticos. São objetos que entram em contato com os tecidos estéreis ou o sistema vascular e têm alto risco de transmitir infecções. Incluem instrumentos cirúrgicos, cateteres cardíacos e vasculares, implantes e objetos inseridos no sistema vascular, como agulhas. Os itens críticos de assistência ao paciente são reprocessados para tornarem-se estéreis, ou seja, todos os micro-organismos, incluindo esporos de bactérias, são destruídos.

      Semicríticos. Essa categoria inclui os itens que entram em contato com a pele não intacta ou membranas mucosas, como os equipamentos de terapia respiratória e anestesia e endoscópios flexíveis. São processados com desinfecção de alto nível para eliminar todos os micro-organismos – exceto elevado número de esporos bacterianos.

      Não críticos. Os itens não críticos para os pacientes são aqueles que entram em contato apenas com a pele intacta; como esta é uma barreira eficaz contra a maioria dos micro-organismos, esses itens têm menor risco de transmitir infecções. Incluem muletas, medidores de pressão, estetoscópios e vários outros acessórios de cuidados, assim como outros, por exemplo, equipamentos para recreação. Os itens não críticos são processados com formas de desinfecção de nível baixo ou intermediário.

 

Limpeza de equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares

O Sistema de Classificação de Spaulding orienta os métodos de reprocessamento usados nos equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares. O primeiro tipo de reprocessamento ao qual os artigos devem ser submetidos é a limpeza, que remove toda a sujeira visível, os detritos e outros materiais favoráveis para a sobrevivência e o crescimento dos micro-organismos. Todos os instrumentos ou dispositivos devem ser limpos de forma adequada para garantir que qualquer material inorgânico ou orgânico remanescente no item não interfira com os processos de descontaminação e esterilização. Além disso, os materiais sujos que secam ou torram e endurecem nos itens durante a esterilização dificultam o processo de remoção, tornando a desinfecção ou esterilização menos eficaz ou até mesmo ineficaz.

A limpeza de equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares envolve a remoção de material estranho (como detritos) e material orgânico (como sangue ou tecidos) dos objetos e normalmente é feita com água e detergentes ou produtos enzimáticos.3

Os fabricantes dos equipamentos recomendam método de limpeza e agente desinfetante adequados, e os PASs devem seguir essas recomendações.1 A limpeza e a descontaminação devem ser realizadas logo após os itens serem usados.3

Itens que foram usados em um paciente e serão limpos devem ser considerados contaminados independentemente de onde serão reprocessados no hospital (em áreas de assistência ao paciente, áreas especiais ou processamento central). Dessa forma, toda a equipe que processa os instrumentos contaminados deve usar os equipamentos de proteção individual (EPIs), incluindo aventais, luvas e proteção para rosto e olhos, e deve receber treinamento adequado sobre as técnicas de limpeza.4 Os itens com partes removíveis devem ser desmontados, e é necessário ter cuidado para garantir que todas as partes sejam mantidas juntas a fim de permitir a remontagem correta.3

Os equipamentos médico-hospitalares podem ser limpos manualmente ou com equipamento de limpeza automatizado; entretanto, a limpeza automática é o método preferido. A limpeza manual envolve o uso de um detergente com pH neutro e fricção na superfície do item para remover os detritos.3 Embora consuma mais tempo do que os métodos automáticos, ela é usada com frequência em objetos delicados ou de limpeza difícil que não podem ser processados por sistemas automáticos.

A limpeza automática envolve equipamentos ou sistemas que automaticamente processam itens contaminados, como, por exemplo, máquinas ultrassônicas, lavadoras descontaminadoras, desinfectoras e esterilizantes. O aparelho de ultrassom usa ondas sonoras de alta frequência e alta energia para soltar sujeira e materiais orgânicos de modo que possam ser removidos com facilidade durante o processo de enxague. Nem todos os dispositivos toleram a limpeza com ultrassom, portanto, o usuário deve consultar as instruções do fabricante para determinar a compatibilidade com esse processo de limpeza. Da mesma forma, uma lavadora descontaminadora/lavadora desinfectora limpa e desinfeta por meios térmicos e químicos. As lavadoras esterilizadoras automáticas lavam e enxaguam os itens antes de submetê-los a vapor e calor.1 Por causa da alta temperatura usada durante a fase de esterilização, qualquer detrito remanescente pode endurecer e aderir ao material.

 

Dica

Ao planejar políticas e procedimentos para limpeza de equipamentos, os hospitais devem garantir que essas políticas e esses procedimentos se apliquem a todos os equipamentos dentro do hospital, incluindo equipamentos que não pertencem à instituição, como unidades de demonstração, substitutas, emprestadas e comodatas. A equipe do hospital, incluindo enfermeiros e equipe de serviços centrais, deve ser educada sobre essas políticas de limpeza. Como esses equipamentos são transferidos entre instituições e expostos a uma variedade desconhecida de potenciais agentes infecciosos, as práticas de segurança devem incluir sua limpeza adequada antes de serem usados em um paciente e antes de deixarem a instituição.

 

Desinfecção de equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares

A desinfecção é o segundo método de reprocessamento de equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares em um hospital. Ela destrói a maioria dos organismos patogênicos, mas não todas as formas microbianas. Muitos agentes são usados nos hospitais para desinfecção, sozinhos ou combinados. Os desinfetantes comuns incluem álcool, cloro e compostos à base de cloro, glutaraldeído, ortoftaldeído, peróxido de hidrogênio, iodóforos, ácido peracéticos, fenóis e compostos à base de amônio quaternário.3

Em geral, um produto de desinfecção específico é criado para um ou mais propósitos específicos e deve ser usado apenas como indicado. É importante que os usuários compreendam que diferentes agentes usam diferentes diluições, as quais podem aumentar ou reduzir o tempo de desinfecção, potencialmente resultando em variação nos custos para o hospital, dependendo do agente usado. Alguns agentes, como glutaraldeído e cloro, podem apresentar riscos ocupacionais para os PASs, portanto, as precauções adequadas devem ser implantadas para proteger a equipe que os utiliza, incluindo ventilação adequada, instruções para uso e diluição adequadas e EPIs (como aventais, luvas e proteção para o rosto) para reduzir a exposição.5,6

Existem três níveis de desinfecção usados nos hospitais para reprocessar itens médico-hospitalares: alto, intermediário e baixo. Eles são discutidos nas seções a seguir.

 

Desinfecção de alto nível

Os itens semicríticos de assistência a pacientes são processados com desinfecção de alto nível para eliminar todos os micro-organismos, exceto aqueles de número elevado de esporos de bactérias.3 Os exemplos dos itens desinfetados por esse método incluem equipamentos para terapia respiratória e anestesia, alguns tipos de endoscópios, sondas internas (p. ex., retal e vaginal) e lâminas de laringoscópio. As recomendações específicas do fabricante sobre o tempo de exposição e as temperaturas devem ser sempre seguidas. A Tabela 7.1 mostra as vantagens e desvantagens de vários agentes químicos usados como desinfetantes de alto nível.

 

Tabela 7.1. Resumo das vantagens e desvantagens dos agentes químicos usados como desinfetantes ou esterilizantes químicos de alto nível1

Método de esterilização

Vantagens

Desvantagens

Ácido peracético / peróxido de hidrogênio

     Não é necessário ser ativado

     Odor ou irritação não significativos

     Problemas quanto à compatibilidade dos materiais (chumbo, latão, cobre e zinco), cosmética e funcional

     Experiência clínica limitada

     Pode causar danos aos olhos e à pele

Peróxido de hidrogênio

     Não é necessário ser ativado

     Pode potencializar a remoção de matéria orgânica e organismos

     Não precisa ser descartado

     Não tem odor nem é irritante

     Não coagula o sangue nem fixa os tecidos nas superfícies

     Desativa Cryptosporidium

     Usa estudos publicados

     Problemas quanto à compatibilidade dos materiais (revestimento de latão, cobre e níquel/prata), cosmética e funcional

     Dano grave ao contato com os olhos

Ortoftalaldeído (OPA)1

     Desinfetante de alto nível de ação rápida (não usado como esterilizante)

     Não é necessário ser ativado

     Odor leve

     Excelente compatibilidade com materiais

     Não coagula o sangue nem fixa os tecidos nas superfícies

     Mancha pele, membranas mucosas, roupas e superfícies

     A exposição repetida pode causar hipersensibilidade em alguns pacientes com câncer de bexiga

     Mais caro que glutaraldeído

     Irritação dos olhos ao contato

     Baixa atividade esporicida

Ácido peracético

     Tempo do ciclo de esterilização rápido (30 a 45 minutos)

     Esterilização de imersão de fluido a baixa temperatura (50 a 55°C)

     Subprodutos que não agridem o ambiente

     Totalmente automatizado

     O sistema de uso único elimina a necessidade de teste de concentração

     Ciclo padronizado

     Pode potencializar a remoção de matéria orgânica e endotoxinas

     Sem efeitos adversos à saúde dos operadores sob condições normais de operação

     Compatível com muitos materiais e instrumentos

     Não coagula o sangue nem fixa os tecidos nas superfícies

     Potencial incompatibilidade com materiais (p. ex., revestimento com alumínio anodizado se torna embaçado)

     Usado unicamente para instrumentos imersíveis

     Indicador biológico pode não ser adequado para monitorar a rotina

     Apenas um escopo ou um pequeno número de instrumentos podem ser processados em um ciclo

     Mais caro (reparo de endoscópio, custos de operação e custos de compra) do que a desinfecção de alto nível

     Grave dano aos olhos e à pele (solução concentrada) com o contato

     Sistema de point-of-use, sem armazenamento estéril

Glutaraldeído

     Relativamente barato

     Excelente compatibilidade com materiais

     Não é um método preferido para esterilização

     Irritação respiratória com seu vapor

     Odor pungente e irritante

     Atividade micobactericida relativamente baixa

     Coagula sangue e fixa os tecidos nas superfícies

     Provoca dermatite de contato alérgica

     É recomendado monitorar seu vapor

1 Todos os produtos são eficazes na presença de detritos orgânicos, são relativamente fáceis de usar e possuem um amplo espectro de atividade antimicrobiana (como bactérias, fungos, vírus, esporos de bactérias e micobactérias). As características citadas estão documentadas na literatura; entre em contato com o fabricante do instrumento e do esterilizante para obter mais informações.

Nota: todos os produtos listados nesta tabela foram liberados pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) como esterilizantes químicos, exceto o OPA, que foi liberado pela FDA como um desinfetante de alto nível.

Fonte: Adaptada de Rutala W.A., Weber D.J., and the Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee: Guideline for Disinfection and Sterilization in Healthcare Facilities, 2008. www.cdc.gov/ncidod/dhqp/pdf/guidelines/Disinfection_Nov_2008.pdf (acessado em 12 de fevereiro de 2010).

 

Desinfecção de baixo nível ou nível intermediário

Os itens não críticos de pacientes, como grades da cama, medidores de pressão arterial e teclados de computadores, podem estar contaminados com micro-organismos. Os desinfetantes de nível baixo ou de nível intermediário podem ser usados para esses itens. Os de baixo nível podem eliminar a maioria das bactérias vegetativas, alguns fungos e vírus. Esses desinfetantes podem eliminar micobactérias, bactérias vegetativas e a maioria dos vírus e fungos, entretanto, não são eficazes contra esporos de bactérias.3 As superfícies não críticas devem ser desinfetadas quando visivelmente sujas e de modo regular.

Vários germicidas estão disponíveis para a desinfecção de nível baixo ou intermediário de itens não críticos. Eles incluem álcool etílico ou isopropílico (70 a 90%) e hipoclorito de sódio (5,25 a 6,15% de água sanitária doméstica diluída 1:200 para fornecer >100 ppm de cloro disponível).3

Outros agentes que podem ser usados incluem uma solução do detergente germicida fenólico, uma solução de detergente germicida iodóforo ou uma solução de detergente germicida de amônio quaternário. A equipe deve seguir as instruções do rótulo do produto para usar e diluir esses agentes.3

Algumas substâncias precisam ser limpas por meios especiais. Se os itens não críticos são contaminados com sangue, é necessário usar um desinfetante com ação tuberculocida aprovada (p. ex., produtos à base de cloro ou fenol com tempo de exposição de pelo menos 30 a 60 segundos).3,7

Quando há suspeita de contaminação com vírus da hepatite B (HBV) ou da imunodeficiência humana (HIV), devem ser usados desinfetantes registrados na EPA que sejam eficazes contra esses patógenos.7

Outros patógenos, como aqueles encontrados em pacientes com Clostridium difficile e doença de Creutzfeldt-Jakob, podem ser muito desafiadores, devendo os PASs estar vigilantes sobre o procedimento correto para limpar os itens usados no cuidado a esses pacientes (ver Destaque 7.1 para mais informações).

 

Destaque 7.1

Evitando a doença de Creutzfeldt-Jakob

 

A doença de Creutzfeldt-Jakob é um distúrbio cerebral raro e fatal para o qual não existe cura conhecida. Os métodos de esterilização tradicionais nem sempre conseguem eliminar seus agentes infecciosos, como os príons, porque eles são resistentes a vários métodos-padrão para desinfecção e esterilização.

Uma questão adicional sobre essa doença é que ela pode levar anos para surgir e pode ser diagnosticada apenas com o exame direto do tecido cerebral, obtido na necrópsia. Consequentemente, se existe alguma chance de o paciente ter adquirido essa rara doença, os hospitais devem descartar qualquer instrumento cirúrgico usado no paciente. As instituições também devem usar dispositivos médicos descartáveis para cirurgia cerebral. Infelizmente, essas opções podem ser muito onerosas.

Se os hospitais escolherem usar dispositivos reutilizáveis, ou se houver uma suspeita diagnóstica durante um procedimento neurocirúrgico, os instrumentos devem ser limpos com hidróxido de sódio e uma autoclave de alta temperatura ou colocados em quarentena até a biópsia confirmar se o paciente está ou não infectado.8

Outro método de limpeza aconselhável envolve imergir os dispositivos em hidróxido de sódio concentrado por uma hora. É importante observar que o hidróxido de sódio é muito corrosivo. Para obter mais informações (em inglês) sobre a limpeza de instrumentos usados em pacientes com doença de Creutzfeldt-Jakob, consulte www.who.int/csr/resources/publications/bse/whocdscsraph2003.pdf.

 

Inspeção e acondicionamento

Após limpeza e desinfecção dos instrumentos ou materiais, os itens devem ser inspecionados na área de descontaminação ou na área de acondicionamento/montagem da central de materiais para garantir sua limpeza.

Após a inspeção, os itens a serem esterilizados devem ser embalados ou colocados em recipientes rígidos e dispostos em bandejas ou cestas de instrumentos de modo que os instrumentos articulados estejam abertos e os itens com partes removíveis estejam desmontados, exceto se o fabricante do dispositivo indicar o contrário.9 Existem vários métodos que os hospitais podem usar para manter a esterilidade dos itens, incluindo recipientes rígidos, pacotes selados e embalagens de esterilização.3 Esses materiais de acondicionamento permitem a entrada do esterilizante, fornecem proteção contra a contaminação por contato durante o manuseio e barreira eficaz contra os micro-organismos e mantêm a esterilidade do item processado após a esterilização.9

Após o acondicionamento, todos os itens a serem esterilizados devem ser arrumados de modo que todas as superfícies sejam diretamente expostas ao agente esterilizante. Os procedimentos de carga devem permitir a circulação livre do esterilizante ao redor de cada item.

 

Dica

As áreas de acondicionamento e montagem da central de materiais devem ser fisicamente separadas das de descontaminação para evitar contaminação cruzada. Além disso, o padrão de fluxo de ar deve conter os contaminantes dentro da área de descontaminação e reduzir o fluxo de contaminantes para a área limpa.3

 

Esterilização de equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares

A esterilização é o último método usado para reprocessar os itens médicos-hospitalares. Ela destrói todas as formas de vida microbiana, incluindo bactérias, vírus, esporos e fungos. Embora os hospitais possam esterilizar esses equipamentos de várias formas, existem vantagens e desvantagens em cada uma delas. A seguir, são apresentados os métodos mais comuns, bem como suas vantagens e desvantagens. A informação não leva em consideração o custo, mas os hospitais devem avaliá-lo ao escolher um método de esterilização.

 

Online

Visite www.jcrinc.com/GICH09/extras para obter (em inglês) um quadro que resume as vantagens e desvantagens de vários métodos de esterilização.

 

Esterilização a vapor

A esterilização a vapor, na qual o vapor sob pressão é o agente esterilizante, é o método mais confiável e usado.3,4 Nesse método, as temperaturas devem alcançar pelo menos 121°C. Os fatores fundamentais para garantir a confiabilidade da esterilização a vapor são a temperatura adequada, a duração correta e a substituição completa do ar com vapor, de modo que o ar não fique preso.10 Ela é vantajosa porque é atóxica, barata e um rápido microbicida; tem um tempo de ciclo rápido, o qual é fácil controlar e monitorar; e é o método menos afetado pela presença de detritos orgânicos ou inorgânicos.3 A esterilização a vapor tem suas desvantagens, como sua inadequação a itens sensíveis ao calor e a possibilidade de queimar os PASs que operam o esterilizador ou os pacientes, caso os instrumentos sejam usados antes de completamente resfriados.

 

Esterilização flash

Em geral, a esterilização flash (rápida) é definida como a esterilização de um objeto não embalado usando os parâmetros de 132°C por três minutos a uma pressão de 27 a 28 libras em uma esterilizadora de deslocamento por gravidade.3,1 Os processos usados para a esterilização flash variam, e é muito importante observar que os itens esterilizados dessa forma são indicados para uso imediato, não podendo ser armazenados para uso posterior.

Essa esterilização é usada quando um número adequado de instrumentos cirúrgicos não está disponível; quando um instrumento cirúrgico é acidentalmente contaminado em um momento no qual é necessário; no caso de antecipação do uso de instrumento não está pronto para uso; ou quando a esterilização é feita por processadores terceirizados fora do hospital. Nesses casos, a esterilização flash é projetada para aumentar a segurança do paciente, pois fornece uma alternativa mais segura e evita atrasos na cirurgia. Entretanto, esse método não é recomendado para uso na rotina por vários motivos, incluindo: (1) falta de tempo disponível para um indicador biológico ser lido antes de o instrumento ser usado, (2) risco de contaminação durante o transporte devido à ausência de acondicionamento de proteção e (3) o processo de esterilização é menos eficaz do que um ciclo completo.3

Consequentemente, a esterilização flash não deve ser usada no lugar da esterilização de ciclo completo ou para compensar uma quantidade insuficiente de instrumentos cirúrgicos.3

 

Calor seco

Se a umidade criada pelo processo de esterilização a vapor danifica instrumentos específicos, o calor seco pode ser uma boa alternativa. Trata-se de um método barato para esterilização que mata organismos lentamente por meio da oxidação e/ou de um processo de queima lento.3,4 Pode ser difícil usar esse método, pois a manutenção de temperatura constante pode ser problemática, e as altas temperaturas e os longos ciclos podem oxidar alguns metais.

 

Esterilização com óxido de etileno

Esse processo de esterilização usa o gás de óxido de etileno (ETO) a baixas temperaturas. Para quase metade de todos os dispositivos médico-hospitalares esterilizados usa-se ETO.12 Esse gás é vantajoso por ser muito eficaz para matar micro-organismos em lugares de difícil acesso e difícil limpeza e pelo fato de o ciclo do esterilizador ser de fácil controle e monitoramento. Porém, requer tempo de aeração longo para preservar a segurança das pessoas que manuseiam os equipamentos e dos pacientes. Outra desvantagem é que a exposição do ETO misturado com outros produtos químicos foi identificada como um potencial risco para pacientes e equipe, pois ele é tóxico, carcinogênico e inflamável,6,11,13 e a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) tem padrões específicos que orientam seu uso.

 

Esterilização com ozônio

Esse processo de esterilização química usa ozônio para estabelecer pressão negativa na câmara de esterilização. Água, oxigênio e eletricidade produzem ozônio no esterilizador. No final do processo de esterilização, o ozônio é convertido novamente a oxigênio e vapor d’água e liberado no ambiente. O ozônio pode ser usado para esterilizar itens sensíveis a umidade e calor. Como todos os esterilizantes químicos, a exposição excessiva ao ozônio pode provocar sérios danos à saúde. Felizmente, o ozônio é de fácil detecção pelo nariz humano, e os PASs devem ser capazes de detectar se há ozônio presente antes que ele se torne perigoso.14

 

Esterilização por plasma de gás de peróxido de hidrogênio

A esterilização por plasma de gás de peróxido de hidrogênio usa uma combinação de vapor de peróxido de hidrogênio e plasma de gás a baixa temperatura para esterilizar rapidamente instrumentos médico-hospitalares sem deixar resíduos tóxicos. Esse método é muito adequado para instrumentos sensíveis a calor e umidade. A esterilização por plasma de gás tem um ciclo rápido, não gera resíduos tóxicos, não precisa de aeração e é segura para o ambiente e o usuário.4 Entretanto, esse método de processo não é indicado para papel, roupas e líquidos. Alguns endoscópios e dispositivos médico-hospitalares possuem restrições para seu uso; todos os dispositivos devem ser embalados em polipropileno sintético; deve ser usada uma bandeja de recipiente especial; e apenas um pequeno número de itens pode ser esterilizado a cada ciclo, pois a câmara de esterilização é pequena.

 

Esterilização por imersão em produto químico líquido

A esterilização de instrumentos usando agentes químicos é uma opção disponível à equipe da central de materiais, em particular quando as outras opções não estiverem disponíveis ou não forem viáveis. Quatro dos agentes químicos mais comuns usados nesse processo são o peróxido de hidrogênio (PH), o ácido peracético, uma combinação de ácido peracético e PH e glutaraldeído. Cada um tem suas vantagens, desvantagens e seus usos específicos; os PASs devem considerar todos antes de usar um determinado agente químico.

 

Online

Visite www.jcrinc.com/GICH09/extras para obter um quadro (em inglês) que resume as vantagens e desvantagens de vários agentes químicos usados na esterilização.

 

O PH é ativo contra a maioria dos micro-organismos, incluindo bactérias, leveduras, fungos, vírus e esporos.3 Ele é vantajoso, pois a solução não precisa ser ativada antes do uso, remove de maneira eficaz organismos e material orgânico, não coagula sangue nem fixa tecidos a superfícies, não requer um método especial para descarte e seu cheiro não é irritante para a equipe. Entretanto, alguns materiais são incompatíveis com PH.

A esterilização com ácido peracético (AP) tem um ciclo rápido e opera em baixa temperatura. As vantagens desse método incluem o fato de não existirem efeitos adversos à saúde, seus subprodutos são atóxicos para o ambiente, a compatibilidade com vários materiais e instrumentos e a demonstração por estudos de sua excelente atividade microbicida. Suas desvantagens incluem: apenas instrumentos imersíveis podem ser reprocessados; pode ser incompatível com alguns materiais; apenas alguns instrumentos podem ser processados a cada ciclo; e o sistema é mais caro do que usar desinfetantes de alto nível.

As vantagens de usar uma combinação de AP e PH incluem a não necessidade de ativação antes do uso, a efetividade mesmo na presença de matéria orgânica e a ausência de odor ou irritação para os membros da equipe expostos à combinação. As desvantagens de combinar AP e PH são seus usos clínicos limitados e, assim como ocorre com o PH sozinho, alguns materiais podem ser incompatíveis, levando a dano cosmético ou funcional.

Glutaraldeído é comumente usado como esterilizante químico para reprocessar equipamentos médico-hospitalares, uma vez que tem ótima compatibilidade com diferentes materiais e não danifica instrumentos como lentes, borracha ou plásticos.3

Entretanto, ele não é um dos métodos de esterilização química preferidos por causa do longo tempo de exposição, do alto risco de contaminação ao remover o item da solução de glutaraldeído, de sua baixa atividade micobactericida e de sua tendência para coagular sangue e fixar tecidos a superfícies.3 Além disso, ele pode ser um risco à saúde dos PASs por causa de seu odor e vapor, que irritam o trato respiratório.

A esterilização química deve ser feita com cuidado em função das limitações e dos riscos inerentes. Por exemplo, os dispositivos processados com esterilizantes químicos não podem ser embalados da mesma forma que aqueles esterilizados a vapor ou por meio de ETO, o que não permite garantir a esterilidade após o reprocessamento. Além disso, pode ser necessário enxaguar os dispositivos após a exposição ao esterilizante químico líquido, e obter água estéril pode ser difícil. Portanto, os procedimentos de limpeza precisos devem ser seguidos ao manusear esses instrumentos após a esterilização por imersão em produto químico líquido. Devido a esses possíveis riscos de contaminação, o uso de esterilizantes químicos líquidos deve ser restrito ao processamento de dispositivos críticos fundamentais que sejam sensíveis ao calor e incompatíveis com outros métodos de esterilização.3

 

Controle de qualidade e programas de monitoramento

A equipe da central de materiais e do hospital deve estabelecer um programa de controle de qualidade para monitorar a limpeza, a desinfecção e a esterilização de equipamentos, dispositivos e materiais. O processo de monitoramento compara os resultados reais dos processos a parâmetros predeterminados, o que permite à equipe identificar resultados satisfatórios ou problemas. O processo de esterilização deve ser monitorado na rotina usando uma combinação de monitores físicos, químicos e biológicos. O monitoramento físico inclui rastrear o tempo do ciclo, a temperatura e a pressão do processo e deve ser usado para todas as cargas em todos os esterilizadores.3 Exemplos de monitores físicos incluem impressoras, mapas e gráficos. Os indicadores químicos são projetados para sofrer alteração química ou física em resposta a uma ou mais condições físicas no esterilizador.3 Portanto, os indicadores químicos são comumente usados para monitorar a eficácia dos processos de esterilização e confirmar que uma ou mais variáveis críticas necessárias para o processo de esterilização foram alcançadas.

O monitoramento biológico usa esporos de Bacillus para medir diretamente se a esterilização foi obtida.3 Esses indicadores biológicos devem ser usados pelo menos uma vez por semana para monitorar a efetividade do processo de esterilização usando o esporo correto para o tipo indicado de esterilizador. Usar um monitor biológico diariamente para esterilizadores que são usados com frequência (os que processam várias cargas por dia) fornece uma medida de segurança, pois o monitor biológico pode descobrir de forma rápida se o equipamento não está funcionando de maneira correta ou pode descobrir falhas na esterilização oriundas de erro humano. Um indicador biológico deve ser usado para cada carga contendo um dispositivo implantável. Se uma carga de esterilizador falhar, esses itens devem ser colocados em quarentena até que o indicador biológico seja negativo.3

 

Reprocessamento de equipamentos, dispositivos e materiais fora da central de materiais

Nem todos os dispositivos e equipamentos médicos precisam ser transportados para a central de materiais para limpeza, desinfecção e esterilização. Muitos podem ser reprocessados no local de uso ou em áreas especializadas no hospital.

Em geral, os PASs podem usar detergentes, produtos enzimáticos ou desinfetantes de baixo nível, como álcool etílico ou isopropílico, hipoclorito de sódio, soluções de germicidas à base de fenol e soluções de detergentes à base de iodóforo nas diluições adequadas, para equipamentos e dispositivos médico-hospitalares não críticos em áreas de assistência a pacientes.3

Os PASs também podem reprocessar alguns instrumentos e dispositivos médico-hospitalares em áreas especializadas do hospital. Exemplos dessas áreas incluem a sala de endoscopia, o departamento de ultrassom e o departamento de citoscopia. Esses departamentos realizam seu próprio reprocessamento por causa do grande volume de itens necessários e do rápido tempo de ciclo. A equipe técnica especialmente treinada nas estratégias de limpeza e desinfecção adequadas é responsável pelo reprocessamento dos itens nesses departamentos.

Independentemente do local onde ocorra o reprocessamento, os PASs devem garantir o uso dos agentes e dos protocolos de limpeza adequados (como diluição adequada, tempo de prateleira, armazenamento, compatibilidade dos materiais e tempo de exposição) para descontaminar e esterilizar adequadamente os itens médico-hospitalares. Os PASs devem consultar as instruções dos fabricantes e as diretrizes dos Centers for Disease Control and Prevention (CDCs), a U.S. Food and Drug Administration (FDA) e a OHSA para obter essas informações.

 

Armazenamento de equipamentos, dispositivos e materiais médico-hospitalares estéreis

O armazenamento físico adequado dos itens médico-hospitalares estéreis é uma parte importante da manutenção da esterilidade. Dois sistemas são usados para determinar quando os itens que estão armazenados não são mais considerados estéreis. O primeiro é um processo relacionado ao tempo com o processo datado e os parâmetros de tempo para armazenamento. Se a embalagem não estiver danificada, um item pode ser armazenado por um período de tempo determinado e, então, ser removido da área de armazenamento, aberto, reprocessado e rearmazenado. Esse método pode consumir tempo e ser caro por causa da necessidade de inspeções frequentes e reprocessamento contínuo dos itens. Atualmente, muitos hospitais usam um sistema relacionado ao evento para determinar o tempo de armazenamento ou a “vida de prateleira” de um item. Em um sistema relacionado a evento, um acontecimento que danifique ou comprometa o acondicionamento e a esterilidade de um item faz com ele seja removido do armazenamento. Exemplos desses acontecimentos incluem penetração de umidade, insetos ou vermes, rasgos e selos rompidos.3 Independentemente do uso de sistemas relacionados ao tempo ou ao evento, todos os itens devem ter a integridade de sua embalagem inspecionada antes de serem usados. O Destaque 7.2 lista vários critérios para o armazenamento seguro dos itens estéreis.3

 

Destaque 7.2

Checklist para armazenar itens estéreis

 

      Selecione uma área de armazenamento estéril bem ventilada e que proteja os itens de poeira, umidade, insetos e extremos de temperatura e de umidade.

      Forneça bastante espaço de armazenamento, de modo que as embalagens não sejam perfuradas, dobradas ou danificadas.

      Identifique os itens esterilizados com as seguintes informações: esterilizador usado, número do ciclo ou da carga, data da esterilização e data de validade, se aplicável.

      Use embalagens de boa qualidade e área de armazenamento com controles adequados de umidade e poeira.

      Certifique-se de que os materiais de acondicionamento sejam compatíveis com o processo de esterilização.

      Certifique-se de que o acondicionamento seja forte o suficiente para resistir a perfuração ou rasgo, de modo a fornecer uma barreira contra micro-organismos e umidade.

      Certifique-se do manuseio mínimo dos itens armazenados.

      Use um sistema com controle do horário que facilite a observação das datas.

      Se usar um sistema de esterilização relacionado ao evento, verifique a integridade do acondicionamento ao removê-lo do armazenamento para uso, incluindo rasgos, umidade ou perfuração na embalagem.

      Remova a embalagem sempre que a integridade do acondicionamento for violada.

 

Fonte: Adaptada da Association for periOperative Registered Nurses (AORN): Recommended practices for sterilization in the perioperative practice setting. In Perioperative Standards and Recommended Practices, 2008. Denver: AORN, 2008, pp. 575-598.

 

Reprocessamento de endoscópios

Os endoscópios são instrumentos usados para examinar o interior de um órgão oco, cavidades ou espaços corporais. Como os endoscópios são flexíveis e transmitem imagens de alta qualidade, são usados para vários procedimentos diagnósticos, cirúrgicos e terapêuticos. Esse equipamento entra em contato com as membranas mucosas, sendo, portanto, classificado como instrumento semicrítico. Limpeza e pelo menos desinfecção de alto nível são necessárias para reprocessá-lo. Os endoscópios gastrintestinais e broncoscópios podem adquirir uma pesada biocarga de micro-organismos durante os procedimentos, devendo ser limpos e desinfetados com cuidado. Outros tipos de endoscópios, como laparoscópios e artroscópios entram no tecido estéril e devem idealmente ser esterilizados após o uso em cada paciente.3

Embora a incidência de infecções por uso de endoscópio contaminado seja baixa – 1 em 1,8 milhão de procedimentos15 –, mais surtos de infecções associadas com a assistência à saúde vêm sendo relacionados aos endoscópios contaminados do que a qualquer outro dispositivo,16 e esses surtos geralmente surgem a partir de limpeza e desinfecção inadequadas de tais instrumentos. Os endoscópios possuem um risco de infecção por causa do seu modelo complexo e de várias partes removíveis, bem como pelo uso invasivo, que os coloca em constante contato com tecidos potencialmente contaminados. Os riscos de infecção associados a endoscópios surgem a partir de:

 

      Dificuldade no reprocessamento. Os endoscópios são instrumentos de limpeza e esterilização difíceis por causa de seu desenho intricado, incluindo múltiplos canais internos, canais elevadores, lúmens, portas, conectores, válvulas e tampas.

      Não seguimento das diretrizes. Muitos casos de infecção causados por endoscópios são resultado direto da falha do PAS em obedecer as diretrizes de reprocessamento. Essas violações de práticas podem causar a transmissão de micro-organismos quando endoscópios contaminados são usados em outros pacientes.

      Reprocessamento inadequado dos acessórios. Os endoscópios possuem vários acessórios, como fórceps, escovas, laços, agulhas, sondas, fios-guia e dilatadores, que também devem ser reprocessados de forma adequada. Os acessórios reutilizáveis devem ser limpos e esterilizados, e os acessórios de uso único devem ser descartados de maneira adequada imediatamente após o uso.

      Endoscópio que não suporta a esterilização a vapor. Os endoscópios flexíveis não podem ser esterilizados a vapor, pois não suportam o calor e a pressão.

      Falta de limpeza após o uso em cada paciente. Os endoscópios não são sempre limpos e desinfetados após o uso em um paciente e antes do uso em outro.

      Enxágue com água contaminada. Após um endoscópio ser limpo, ele deve ser enxaguado, e os canais devem ser lavados com água. A água usada para enxaguar endoscópios em equipamentos de limpeza automática pode estar contaminada, anulando o reprocessamento.

      Reuso das soluções. As soluções enzimáticas usadas para limpar os endoscópios devem ser descartadas após o uso, pois elas não são microbicidas. As soluções de esterilizantes líquidos e desinfetantes de alto nível devem ser descartadas de acordo com as instruções do fabricante, o que pode incluir o descarte da solução após uso único.

      Equipamento de reprocessamento com defeito. O equipamento de limpeza automática de endoscópio pode não reprocessar os instrumentos de forma apropriada.

      Educação ou treinamento inadequado ou insuficiente. Devido à natureza especializada dos endoscópios, os PASs responsáveis pelo reprocessamento desses instrumentos devem ser educados e treinados adequadamente antes de executar as etapas de limpeza, desinfecção e esterilização. Essas pessoas não devem estar familiarizadas apenas com as diretrizes publicadas sobre reprocessamento de endoscópios, mas também devem receber treinamento específico para os tipos de endoscópios dos quais irão cuidar e para os tipos de equipamentos de limpeza que usarão. Os hospitais também podem estabelecer testes de competência periódicos (pelo menos anualmente) para esses PASs.

      Reuso de agulhas, seringas ou frascos. Durante os procedimentos de anestesia anteriores à execução de uma endoscopia, agulhas, seringas e frascos de multidose não devem ser usados em vários pacientes. Foram relatados vários surtos de hepatites B e C em clínicas de endoscopia, todos associados com práticas insatisfatórias de anestesia.17-19

 

Os hospitais devem ter políticas que incluam claramente procedimentos a serem seguidos pelos PASs ao limpar, desinfetar, esterilizar e armazenar os endoscópios. Essas políticas devem ser baseadas em diretrizes publicadas, como as do CDC,3 da Society for Healthcare Epidemiology (SHEA)/American Society for Gastrointestinal Endoscopy20 e da AORN.21

A política do hospital também deve estipular agentes de limpeza, desinfecção e esterilização aprovados para reprocessamento de endoscópios. A FDA criou uma lista de desinfetantes e esterilizantes eficazes em instrumentos sensíveis ao calor, como os endoscópios.22 Embora vários agentes possam ser usados para reprocessar esses instrumentos, glutaraldeído e ácido peracético são os mais comuns nos Estados Unidos, entretanto, o ortoftaldeído vem substituindo o glutaraldeído.3 As instruções do rótulo do desinfetante/esterilizante devem ser rigorosamente seguidas. Além disso, os PASs devem ter cuidado com as diretrizes dos fabricantes, tanto dos endoscópios quanto dos equipamentos de limpeza. As discrepâncias entre as diretrizes do fabricante e as diretrizes do país devem ser solucionadas a favor do fabricante. Os procedimentos para reprocessar endoscópios são discutidos nas seções a seguir.

 

Reprocessamento manual de endoscópio

O processo de limpeza e desinfecção manual de endoscópios envolve as seguintes etapas:3,17

 

1.    Secar a superfície externa do tubo de inserção imediatamente após a remoção do paciente e aspirar uma solução detergente através do canal de biópsia/sucção.

2.    Transportar o endoscópio para uma área de descontaminação.

3.    Verificar a integridade do dispositivo por meio do teste de vazamento.

4.    Limpar as superfícies externas e internas do escopo. As externas são limpas ao colocar o tubo de inserção em uma solução enzimática de detergente. A limpeza das superfícies internas inclui escovação dos canais e enxague com água e limpador enzimático.

5.    Desinfetar o endoscópio por meio de submersão em esterilizante químico ou desinfetante de alto nível usando um processo que garanta o alcance do agente de esterilização ou desinfecção a todos os canais internos e superfícies, como os canais de sucção e ar/água.

6.    Enxaguar o endoscópio ao encher os canais com água estéril, filtrada ou potável.

7.    Secar o endoscópio. Para facilitar a secagem dos componentes internos, a mira e os canais são enxaguados com álcool 70 a 90% e secados com ar forçado. Essa técnica de secagem reduz o potencial de proliferação de micro-organismos transmitidos pela água e ajuda a evitar a formação de biofilme. Jogar fora as partes descartáveis após um uso único e descartar o limpador enzimático após o uso.

8.    Armazenar o endoscópio pendurado na posição vertical em um armário bem ventilado para evitar recontaminação. Remover todas as tampas, válvulas e outros componentes destacáveis, armazenando-os separadamente.

 

Reprocessamento automático de endoscópio

Os reprocessadores automáticos de endoscópios (RAEs) oferecem o benefício de automatizar e padronizar as etapas de reprocessamento. Usar esses reprocessadores também reduz a exposição dos funcionários aos produtos químicos. Entretanto, os RAEs não eliminam a necessidade de pré-lavagem cuidadosa ou de monitoramento da concentração do germicida e a aceitação, pela equipe, dos procedimentos recomendados. Alguns endoscópios têm características incompatíveis com os RAEs e devem ser processados manualmente. Foram relatados surtos associados com problemas nos RAEs.

 

Reprocessamento de dispositivos de uso único

No passado, os hospitais usavam principalmente dispositivos reutilizáveis. Como esses itens foram projetados para vários usos, muitas vezes eram construídos com materiais duráveis que, teoricamente, eram capazes de suportar processos de esterilização repetitivos. Com o passar dos anos, os dispositivos reutilizáveis foram substituídos por dispositivos rotulados como de “uso único”, o que significa que devem ser usados uma vez e, então, descartados. Esses dispositivos descartáveis podem aumentar os custos e ser um ônus pesado para o ambiente. Os hospitais estão explorando modos de reduzir os custos da assistência à saúde e o impacto ambiental das instituições, e uma forma de fazer isso é reprocessar dispositivos de uso único (DUUs). Esses DUUs foram designados originalmente para serem usados uma vez, mas, atualmente, são usados várias vezes após reprocessamento.

A equipe do hospital pode escolher um dos dois métodos para reprocessar DUUs: reprocessar internamente, dentro do hospital, ou contratar uma empresa terceirizada para essa função. Muitos hospitais mantêm instalações internas para reprocessamento de DUUs, entretanto, por causa da complexidade dos regulamentos estabelecidos pela FDA para isso, um número cada vez maior de hospitais está usando empresas externas para realizar esse procedimento. Se os líderes do hospital optarem pelo uso de uma empresa terceirizada para reprocessamento, devem garantir que todas as diretrizes sejam rigorosamente obedecidas e que a esterilidade dos DUUs não seja comprometida. A equipe do hospital e dos centros de material pode fazer isso ao conduzir inspeções no local, entrevistar a equipe, avaliar políticas e procedimentos de reprocessamento e revisar os registros da instituição contratada.24 Além disso, os PASs devem realizar medidas de controle de qualidade, como inspecionar e testar os DUUs recebidos. Independentemente de onde foram reprocessados, os DUUs devem passar por várias etapas preparatórias para o reuso, incluindo descontaminação, teste funcional, reacondicionamento, re-etiquetagem e esterilização (se indicado para o item específico a ser reprocessado).24

Reprocessar DUUs é uma preocupação, pois esses objetos podem não ser duráveis e não foram projetados para sofrer múltiplas esterilizações. Além disso, existem riscos médicos associados ao reuso de DUUs.25,26 O reuso de DUUs envolve questões regulatórias, éticas, médicas, legais e econômicas e vem sendo muito controverso por mais de duas décadas.27

Para tratar dessas questões cada vez mais presentes de qualidade do dispositivo e segurança dos pacientes, a FDA lançou um documento a fim de orientar o reprocessamento de DUUs,28 no qual declara que os hospitais ou as empresas terceirizadas para reprocessar serão considerados “fabricantes”, sendo regulados dessa forma. Em outras palavras, um DUU reprocessado deve obedecer às mesmas exigências regulatórias aplicáveis ao dispositivo quando ele foi originalmente fabricado. Os regulamentos ainda envolvem o reuso de DUUs. Por esse motivo, os PASs devem consultar a FDA e o CDC para obter a última versão dessa diretriz.

 

Referências

1.        Jefferson J.: Central services. In Carrico R. (ed.): APIC Text of Infection Control and Epidemiology, 3rd ed. Washington, DC: Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology, 2009, pp. 55-1–55-18.

2.        Spaulding E.H.: Chemical disinfection of medical and surgical materials. In Lawrence C.A., Block S.S. (eds.): Disinfection, Sterilization and Preservation. Philadelphia: Lea & Febiger, 1968, pp. 517–531.

3.        Rutala W.A., Weber D.J., and the Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee: Guideline for Disinfection and Sterilization in Healthcare Facilities, 2008. www.cdc.gov/ncidod/dhqp/pdf/guidelines/Disinfection_Nov_2008.pdf (acessado em 15 de maio de 2010).

4.        Association for periOperative Registered Nurses (AORN): Recommended practices for sterilization in the perioperative practice setting. In Perioperative Standards and Recommended Practices, 2008. Denver: AORN, 2008, pp. 575–598.

5.        Weber D.J., Rutala W.A.: Occupational risks associated with the use of selected disinfectants and sterilants. In Rutala W.A. (ed.): Disinfection, Sterilization, and Antisepsis in Healthcare. Champlain, NY: Polyscience Publications, 1998, pp. 211–226.

6.        Melli M.C., Giorgini S., Sertoli A.: Sensitization from contact with ethyl alcohol. Contact Dermatitis 14(5):315, 1986.

7.        U.S. Department of Labor, Occupational Safety and Health Administration: Occupational Exposure to Bloodborne Pathogens: Final rule. 29 CFR Part 1910.1030. Fed Regist 56:64174–64182, Dec. 6, 1991. www.premierinc.com/safety/topics/needlestick/downloads/02_bbp_final_rule.pdf (acessado em 15 de maio de 2010).

8.        Klein A.: Reusing surgical tools may be fatal. Contra Costa Times, Dec. 31, 2005.

9.        Dunkelberg H., Fleitmann-Glende F.: Measurement of the microbial barrier effectiveness of sterilization containers in terms of the log reduction value for prevention of nosocomial infections. Am J Infect Control 34:285–289, Jun. 2006.

10.    Berkeley Lab Environmental Health & Safety Division: Sterilization. www.lbl.gov/ehs/biosafety/Biosafety_Manual/html/sterilization.shtml (acessado em 15 de maio de 2010).

11.    Rutala W.A.: Disinfection and flash sterilization in the operating room. J Ophthalmic Nurs Technol 10(3):106–115, 1991.

12.    Conviser S.: The future of ethylene oxide sterilization. Infection Control Today. www.infectioncontroltoday.com/articles/061feat4.html (acessado em 15 de maio de 2010).

13.    Association for the Advancement of Medical Instrumentation (AAMI): Comprehensive Guide to Steam Sterilization and Sterility Assurance in Health Care Facilities, ANSI/AAMI ST79. Arlington, VA: AAMI, 2006, pp. 60–72.

14.    Reichert M., Schultz J.K.: Is the new ozone sterilizer right for your OR? OR Manager 19:23–24, Nov. 2003.

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16.    Srinivasan A.: Epidemiology and prevention of infections related to endoscopy. Curr Infect Dis Rep 5(6):467–472, 2003.

17.    Centers for Disease Control and Prevention: Transmission of hepatitis B and C viruses in outpatient settings—New York, Oklahoma, and Nebraska, 2000–2002. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 52:901–906, Sep. 2003.

18.    Centers for Disease Control and Prevention: Acute hepatitis C virus infections attributed to unsafe injection practices at an endoscopy clinic—Nevada, 2007. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 57(19):513–517, 2008.

19.    Paparella S., et al.: The risks associated with the use of multidose vials. J Emerg Nurs 32(5):428–430, 2006.

20.    Nelson D.B., et al.: Multi-society guideline for reprocessing flexible gastrointestinal endoscopes. Infect Control Hosp Epidemiol 24:532–537, Jul. 2003.

21.    Association for periOperative Registered Nurses (AORN): Recommended practices for cleaning and processing endoscopes and endoscope accessories. In Perioperative Standards and Recommended Practices, 2008. Denver: AORN, 2008, pp. 345–350.

22.    U.S. Food and Drug Administration: FDA-Cleared Sterilants and High Level Disinfectants with General Claims for Processing Reusable Medical and Dental Devices—March 2009. www.fda.gov/MedicalDevices/DeviceRegulationandGuidance/ReprocessingofSingle-UseDevices/UCM133514 (acessado em 15 de maio de 2010).

23.    Alvarado C.J., Stolz S.M., Maki D.G.: Nosocomial infections from contaminated endoscopes: A flawed automated endoscope washer. An investigation using molecular epidemiology. Am J Med 91(3B):272S–280S, 1991.

24.    Curchoe R.M.: Reprocessing single-use devices. In Carrico R. (ed.): APIC Text of Infection Control and Epidemiology, 3rd ed. Washington, DC: Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology, 2009, pp. 57-1–57-3.

25.    Fishman R.L.: Reuse of a disposable stylet with life-threatening complications. Anesth Analg 72(2):266–267, 1991.

26.    Bryson T.K., Saidman L.J., Nelson W.: A potential hazard connected with resterilization and reuse of disposable equipment. Anesthesiology 50(4):370, 1979.

27.    Greene V.W.: Reuse of disposable devices. In Mayhall C.G. (ed.): Hospital Epidemiology and Infection Control, 3rd ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 2004, pp. 1201–1208.

28.    U.S. Food and Drug Administration (FDA): Enforcement Priorities for Single-Use Devices Reprocessed by Third Parties and Hospitals. Rockville, MD: FDA, 2000.

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