Trombose venosa superficial e tromboembolismo venoso. Um grande estudo epidemiológico prospectivo1 [Link para Abstract].
A trombose venosa superficial (TVS) é uma condição comum, dolorosa e tida como benigna. Entretanto esta percepção tem mudado com os resultados de alguns estudos. Estima-se que de
Trata-se de um estudo epidemiológico nacional transversal e de coorte prospectivo, realizado na França com participantes provenientes de serviços de cirurgia vascular, hospitalares e ambulatoriais. O estudo foi patrocinado tanto pelo governo da França através do Ministério da Saúde como pela indústria farmacêutica (GlaxoSmithKline e Sanofi-Aventis – fabricantes de inúmeros anticoagulantes como enoxaparina, nadroparina, fondaparinux). Foram selecionados 844 participantes com TVS sintomática dos membros inferiores com pelo menos
Entre os 844 participantes com TVS à inclusão (idade mediana 65 anos, sendo 547 mulheres), 210 (24,9%) também tinham TVP ou tromboembolismo de pulmão (TEP) sintomático. Entre os 600 pacientes sem TVP e sem TEP à inclusão que foram selecionados para o seguimento de 3 meses, 8,3% desenvolveram complicações tromboembólicas sintomáticas aos 3 meses [3 TEPs (0,5%); 15 TVPs (2,8%); 18 extensões de TVS (3,3%) e 10 recorrências de TVS (1,9%)], a despeito da grande maioria (90,5%) ter recebido anticoagulantes. Fatores de risco para complicações aos 3 meses foram sexo masculino, história de TEP ou TVP, câncer prévio e ausência de veias varicosas. Os autores concluem que um número substancial de pacientes com TVS apresentam tromboembolismo venoso à apresentação, e alguns que não apresentam esta complicação no momento da apresentação, as desenvolvem nos três meses subsequentes. Os autores apontam dois fatores de limitação do estudo: 1) participantes selecionados de clínicas de especialistas e 2) estudo foi finalizado antes de se atingir o número alvo de participantes em virtude da baixa taxa de recrutamento.
A primeira questão a ser comentada é que este estudo foi patrocinado por indústrias farmacêuticas produtoras de anticoagulantes. A segunda crítica refere-se ao fato de ser uma amostra de pacientes já referidos a um especialista, o que por si só faz com que o risco destes pacientes seja mais elevado. Outra questão interessante a ser comentada é o fato de que dentre as 8,3% de complicações tromboembólicas ocorridas nos três meses de seguimento, houve apenas 0,5% de TEPs. De qualquer forma, parece que as tromboses venosas superficiais não são tão benignas quanto se imaginava. Na sua abordagem deve-se avaliar a presença concomitante de TVP, bem como fatores de risco que podem aumentar a chance de um evento tromboembólico subsequente como sexo masculino, TVP ou TEP prévio, câncer prévio e ausência de veias varicosas, além dos fatores de risco clássicos para TVP/TEP. Este estudo, embora traga novas informações a respeito do prognóstico das TVS, não é suficiente para se concluir que as TVS devam ser anticoaguladas. Para esta conclusão, um estudo randomizado bem feito deve ser levado a cabo.
1. Decousus H, Quéré I, Presles E, Becker F, Barrellier MT, Chanut M, Gillet JL, Guenneguez H, Leandri C, Mismetti P, Pichot O, Leizorovicz A, , for the POST (Prospective Observational Superficial Thrombophlebitis) Study Group. Superficial Venous Thrombosis and Venous Thromboembolism. A Large, Prospective Epidemiologic Study. Ann Intern Med. 2010;152(4):218-224.