Última revisão: 26/03/2012
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>>Professor of Medicine, University of Pennsylvania School of Medicine, Associate Chief, Clinical Affairs, Division of Cardiovascular Medicine, Hospital of the University of Pennsylvania, Medical Director, Penn Heart and Vascular Center, Philadelphia, PA
>>>Artigo original:>>> Jessup M. Heart failure. ACP Medicine. 2010;1-14.
>>>[The original English language work has been published by DECKER INTELLECTUAL PROPERTIES INC. Hamilton, Ontario, Canada. Copyright © 2011 Decker Intellectual Properties Inc. All Rights Reserved.]
>>Tradução:>> Soraya Imon de Oliveira
>>Revisão técnica:>> Dr. Euclides Furtado de Albuquerque Cavalcanti
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>>A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica resultante de um distúrbio estrutural ou funcional que compromete a capacidade do ventrículo de se encher com sangue ou ejetá-lo para atender às necessidades do corpo. Essa síndrome, composta de uma série de sinais e sintomas, é primariamente manifestada por dispneia, fadiga, retenção de líquidos e diminuição da tolerância ao exercício. A insuficiência cardíaca pode resultar de distúrbios envolvendo pericárdio, miocárdio, endocárdio, estruturas valvares ou grandes vasos do coração, ou ainda de perturbações do ritmo. É importante enfatizar que nem todos os pacientes que apresentam sintomas de insuficiência cardíaca apresentam anormalidades cardíacas estruturais similares. De fato, o principal objetivo da avaliação inicial de um paciente com insuficiência cardíaca consiste em definir as anormalidades cardíacas associadas aos sintomas.
>>A insuficiência cardíaca foi classificada de várias formas. Uma estrutura útil envolve a descrição da cardiomiopatia subjacente, que com frequência sugere a etiologia [Tabela 1> e Figura 1>].>1-4> Alguns exemplos de classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) são as cardiomiopatias isquêmica, hipertrófica, restritiva e idiopática dilatada. Nos Estados Unidos, a hipertensão constitui o maior fator de risco predisponente ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca, contudo, a causa mais comum da insuficiência com disfunção sistólica é a cardiomiopatia isquêmica resultante de doença arterial coronariana (DAC).>5-8>
>>Tabela 1. Exemplos de classificações descritivas e etiológicas da insuficiência cardíaca.
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>>Figura 1. As diferentes morfologias cardíacas observadas na insuficiência cardíaca: (a) normal; (b) cardiomiopatia dilatada; (c) cardiomiopatia hipertrófica; (d) insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. O coração é visto a partir da lateral esquerda, com a valva mitral parcialmente cortada. A valva aórtica é visível na parte superior do ventrículo esquerdo.
>>Outra abordagem prática para fins de classificação consiste em dividir os pacientes com insuficiência cardíaca em grupos de pacientes com e sem disfunção primariamente sistólica. Para o médico clínico, isso significa avaliar a fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) do paciente, em geral por ecocardiografia.>9-11> Pacientes com insuficiência cardíaca sistólica costumam apresentar um baixa FEVE (em geral, inferior a 40 a 45%), cavidade ventricular esquerda dilatada e débito cardíaco reduzido por causa da menor contratilidade miocárdica. Em contraste, pacientes com insuficiência cardíaca diastólica apresentam FEVE e contratilidade normais, porém o preenchimento cardíaco é comprometido por uma variedade de anormalidades patofisiológicas, e a homeostasia de sal e água é anormal.>12-15> Essa síndrome tem sido cada vez mais referida como insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP). Apesar da maior compreensão acerca das etiologias e patofisiologia da insuficiência cardíaca, bem como dos avanços no tratamento dessa condição, a morbidade e a mortalidade a ela associadas continuam sendo inadmissivelmente elevadas.>7,16,17> Os mais entendidos concordam com o fato de que o reconhecimento precoce da síndrome ou a melhor identificação dos pacientes com risco de desenvolver insuficiência cardíaca podem oferecer as maiores esperanças de uma futura diminuição do número de mortes. Isso é análogo aos esforços planejados dos estudos para detecção do câncer ainda nos estágios mais iniciais, antes de a doença se tornar capaz de resistir à terapia. Consequentemente, em 2001, o comitê encarregado de revisar as diretrizes do American College of Cardiology/American Heart Association> (ACC/AHA) para avaliação e supervisão de casos de insuficiência cardíaca tomou a corajosa iniciativa de desenvolver uma nova classificação destinada aos pacientes com essa condição.>18> Essas diretrizes podem ser obtidas pelo site da ACC (>>>http:/content.onlinejacc.org/cgi/content/full/j.jacc.2008.11.013>>>) ou pelo site da AHA (>>>http:/circ.ahajournals.org/cgi/reprint/CIRCULATIONAHA.109.192064>>>). As diretrizes foram atualizadas em 2005 e, mais uma vez, em 2009, empregando essa abordagem para elaborar recomendações específicas.>19>
>>A classificação da ACC/AHA enfatiza a evolução e o progresso da insuficiência cardíaca, definindo 4 estágios de distúrbio [Tabela 2>]. O estágio A identifica pacientes que apresentam risco elevado de desenvolver insuficiência cardíaca, mas não apresentam nenhuma anomalia cardíaca estrutural evidente. Nessa categoria, estão incluídos os pacientes com hipertensão, diabetes ou DAC; pacientes com história de febre reumática, alcoolismo ou exposição a fármacos cardiotóxicos; e pacientes com história familiar de cardiomiopatia. O estágio B denota os pacientes com anomalia cardíaca estrutural, que ainda não desenvolveram sintomas de insuficiência cardíaca.>20> Esse grupo inclui indivíduos com hipertrofia ou dilatação ventricular esquerda, diminuição da FEVE ou doença valvar, bem como pacientes com história anterior de infarto do miocárdio. Os estágios A e B podem ser considerados estágios pré-clínicos. O estágio C representa os pacientes com anomalias cardíacas estruturais, que apresentam sintomas clínicos de insuficiência cardíaca. Nesse grupo, estão os pacientes com dispneia, fadiga ou sobrecarga hídrica, além daqueles com diagnóstico anterior de insuficiência cardíaca que estejam sob tratamento para alívio dos sintomas. Notavelmente, uma vez que os pacientes já tenham manifestado sintomas de insuficiência cardíaca, eles permanecem no estágio C mesmo se vierem a apresentar uma subsequente melhora clínica. Pacientes com ICFEP sintomática também pertencem a esse estágio. O estágio D inclui pacientes com insuficiência cardíaca em fase terminal, que é refratária ao tratamento padrão. Os pacientes típicos do estágio D são aqueles que frequentemente requerem internação hospitalar por causa da insuficiência cardíaca, aguardam um transplante de coração, estão sendo mantidos por agentes endovenosos ou dispositivos auxiliares mecânicos, ou que estejam sob cuidados paliativos para insuficiência cardíaca em estágio terminal.>21-23>
>>Tabela 2. Estágios da insuficiência cardíaca.>18>
>>ICFEP = insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.
>>A classificação da ACC/AHA constitui um afastamento da tradicional classificação da New York Heart Association> (NYHA), que caracteriza os pacientes conforme o grau de severidade dos sintomas. Pacientes com insuficiência cardíaca podem progredir do estágio A para o estágio D, porém o inverso nunca ocorre. Por outro lado, muitos pacientes apresentando sintomas de classe de NYHA-IV podem regredir para a classe II mediante terapia apropriada. A classificação da ACC/AHA destaca a importância dos fatores de risco conhecidos e das anomalias estruturais para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Adicionalmente, essa classificação reforça o conceito de que a insuficiência cardíaca constitui um distúrbio progressivo, cujo início é evitável ou a progressão pode ser contida, por meio de identificação e intervenção precoces.
>>É importante notar que essa classificação em estágios não é adotada pelas demais diretrizes publicadas, entre as quais uma revisão das diretrizes da Heart Failure Society of America>.>24,25> Seja qual for a diretriz utilizada, todas as fontes concordam com a importância da prevenção da insuficiência cardíaca, bem como do reconhecimento dos fatores de risco que podem ser modificados. Em adição, há uma unanimidade quanto à natureza dinâmica dos sintomas de insuficiência cardíaca e sobre a fraca correlação existente entre capacidade funcional e anormalidades estruturais nessa síndrome.
>>A insuficiência cardíaca é um dos distúrbios cardíacos mais importantes nos Estados Unidos, em termos de número de pacientes afetados, morbidade e mortalidade associadas, e quantia em dólares gastos com assistência de saúde. Dados fornecidos pelo Framingham Heart Study> indicam que a incidência dessa condição é próxima de 10 a cada 1.000 na população de indivíduos com mais de 65 anos de idade. Nos Estados Unidos, para homens e mulheres aos 40 anos de idade, o risco de desenvolver insuficiência cardíaca ao longo da vida é igual a 1 a cada 5 pessoas. Os hipertensos, por exemplo, com pressão arterial (PA) acima de 160/90 mmHg, apresentam um risco 2 vezes maior de desenvolver a doença, quando comparados àqueles com PA abaixo de 140/90 mmHg. Adicionalmente, dados fornecidos pelo grupo Olmsted County> revelam que a incidência de insuficiência cardíaca não declinou nas 2 últimas décadas, embora a taxa de sobrevida de um modo geral tenha melhorado. Essa melhora da sobrevida, contudo, foi menor entre mulheres e idosos.>7,17,26>
>>A hospitalização por insuficiência cardíaca constitui um evento sentinela para o paciente. Dados fornecidos pelo estudo Atherosclerosis Risk in Communities> (ARIC), realizado pelo National Heart, Lung, and Blood Institute>, revelaram que, após as internações, as taxas de casos fatais em 30 dias, 1 ano e 5 anos foram de 10,4%, 22% e 42,3%, respectivamente.>16 >Num grupo diferente de pacientes, a mortalidade por insuficiência cardíaca entre pacientes internados no hospital foi de 5,1%. A insuficiência cardíaca é mencionada no atestado de óbito de 1 em cada 8 mortes que ocorrem nos Estados Unidos. Os dados de Framingham sugerem que 80% dos homens e 70% das mulheres com insuficiência cardíaca e idade inferior a 65 anos morrerão dentro de um período de 8 anos. Além disso, a frequência dos casos de morte súbita por causa cardíaca é 6 a 9 vezes maior do que aquela observada na população em geral. Para 2009, foram estimados gastos diretos e indiretos da ordem de 37,2 bilhões de dólares com casos de insuficiência cardíaca, nos Estados Unidos.>7>
>>É importante reconhecer que a insuficiência cardíaca possui causas diversas e