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Diferenças de gênero e infarto do miocárdio

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 03/06/2009

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Diferenças de gênero e infarto do miocárdio

 

Diferenças de sexo na atenção médica e na mortalidade precoce após infarto agudo do miocárdio

Sex Differences in Medical Care and Early Death After Acute Myocardial Infarction. Circulation 2008;118;2803-2810 [Link para Artigo completo].

 

Fator de impacto da revista (circulation): 12,755

 

Contexto Clínico

            Esta semana discutiremos 3 artigos1,2,3 que avaliam as diferenças de gênero em vários aspectos dos cuidados médicos e do prognóstico de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) e infarto agudo do miocárdio (IAM). Este tipo de diferença, juntamente com outros tipos abordagens diferenciais (como aquelas relacionadas à raça, nível educacional, classe social, preferência sexual, etc), é preocupante e deve ser combatido incessantemente. Entretanto é importante que tenhamos dados objetivos para embasar nossas ações e nos mantermos atentos a este tipo de preconceito, muitas vezes inconsciente.

            Mulheres recebem menos cuidados médicos baseados em evidência do que homens e apresentam taxas de mortalidade mais altas após infarto agudo do miocárdio. Não está claro se os esforços realizados para melhorar os cuidados médicos com as síndromes coronarianas agudas abrandaram estas diferenças de gênero no presente momento. Os dados disponíveis que corroboram com estas considerações são antigos e avaliaram apenas alguns aspectos dos cuidados médicos dispensados a homens e mulheres com infarto agudo do miocárdio (IAM). Desta forma os autores realizaram um estudo observacional para examinar as diferenças nos cuidados médicos prestados e na mortalidade intra-hospitalar de acordo com o sexo dos pacientes com IAM

 

O Estudo

            Estudo observacional, em que os autores, utilizando-se da base de dados “Get With the Guidelines–Coronary Artery Disease”, examinaram as diferenças de gênero no processo de cuidados médicos e na mortalidade intra-hospitalar entre 78.254 pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) em 420 hospitais estadunidenses entre 2001 e 2006. Inúmeras variáveis foram examinadas como tipo de IAM (com e sem supra), comorbidades, fatores de risco cardiovascular, idade, uso de determinadas drogas na fase aguda do IAM (AAS, beta-bloqueador, estatinas) e outras intervenções terapêuticas como angioplastia e outros procedimentos de revascularização miocárdica.

 

Resultados

            As mulheres com IAM avaliadas eram mais velhas, tinham mais comorbidades e se apresentavam menos frequentemente com IAM com supra de ST (IAMSST), além de apresentarem maior mortalidade intra-hospitalar não ajustada (8,2% X 5,7%; p<0,0001) do que os homens. Após ajuste para múltiplas variáveis, as diferenças de gênero na mortalidade intra-hospitalar não mais foram observadas, de uma forma geral, na coorte de IAM (odds ratio – OR – ajustado: 1,04 IC95% 0,99 – 1,10), mas persistiram dentre os pacientes com IAMSST (10,2% X 5,5%; p<0,0001; OR ajustado: 1,12 IC95% 1,02 – 1,23). Comparadas aos homens, as mulheres apresentaram uma probabilidade menor de receber tratamento precoce com aspirina (OR ajustado: 0,86 IC95% 0,81 – 0,90), tratamento precoce com beta-bloqueadores (OR ajustado: 0,90 IC95% 0,86 – 0,93), terapia de reperfusão do miocárdio (OR ajustado: 0,75 IC95% 0,70 – 0,80), ou terapia de reperfusão do miocárdio em tempo (tempo porta-agulha = 30 minutos: OR ajustado: 0,78 IC95% 0,65 – 0,92; tempo porta-balão = 90 minutos: OR ajustado: 0,87 IC95% 0,79 – 0,95). As mulheres também apresentaram um menor uso de cateterismo cardíaco e de procedimentos de revascularização após o IAM do que os homens. Os autores concluem que, de uma forma geral, não houve diferenças de gênero nas taxas de mortalidade intra-hospitalar após IAM, mesmo após ajuste multivariado. Entretanto, mulheres com IAM com supradesnivelamento de ST tiveram maior mortalidade intra-hospitalar ajustada do que os homens. Subutilização de tratamentos baseados em evidências e demoras na reperfusão entre as mulheres representam, segundo os autores, oportunidades potenciais para reduzir as disparidades de gênero nos cuidados e no prognóstico após IAM.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Embora a diferença de gênero na mortalidade intra-hospitalar só tenha ficado evidente no subgrupo de pacientes com IAM com supra de ST, as causas para esta diferença (causada principalmente por um excesso de mortalidade nas primeiras 24 h de apresentação entre as mulheres) podem ser explicadas pela menor probabilidade de as mulheres receberem intervenções baseadas em evidência tanto farmacológicas como mecânicas (terapias de reperfusão). Estas disparidades de gênero persistiram após ajustes para múltiplas variáveis. É um estudo bem feito, multicêntrico, com um grande número de pacientes e desfechos, o que o torna amplamente generalizável.

A questão de gênero, juntamente com a questão étnica e sócio-econômica, são pontos fundamentais a serem discutidos e superados. Contribuem de forma significativa para aumentar a morbi-mortalidade de grupos com maior vulnerabilidade e são um grande entrave para a implementação e consolidação dos princípios da universalidade e da equidade na saúde.

 

Bibliografia

1. Jneid H, Fonarow GC, Cannon CP, Hernandez AF, Palacios IF, Maree AO, Wells Q, Bozkurt B, LaBresh KA, Liang L, Hong Y, Newby LK, Fletcher G, Peterson E, Wexler L. Sex Differences in Medical Care and Early Death After Acute Myocardial Infarction. Circulation 2008;118;2803-2810.

2. Petrea RE, Beiser AS, Seshadri S, Kelly-Hayes M, Kase CS, Wolf PA. Gender Differences in Stroke Incidence and Poststroke Disability in the Framingham Heart Study. Stroke. 2009;40:00-00. (published online Feb 10, 2009).

3. Gargano JW, Wehner S, Reeves MJ. Do Presenting Symptoms Explain Sex Differences in Emergency Department Delays Among Patients With Acute Stroke? Stroke. 2009;40:00-00 (published online Feb10, 2009).

 

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