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Atrasos na procura pelo PS de pacientes com síndrome coronariana aguda

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 20/09/2009

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Atrasos na procura pelo PS de pacientes com síndrome coronariana aguda

 

Entendendo porque pacientes demoram em procurar atendimento pra síndromes coronarianas agudas1 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (circulation: cardiovascular quality and outcomes): 12,755

 

Contexto Clínico

            Nas últimas décadas esforços na melhoria da qualidade de atendimento nos pronto-socorros resultaram em reduções do tempo porta-agulha, melhorando os resultados de terapias de reperfusão para pacientes com infarto agudo do miocárdio, entretanto atrasos pré-hospitalares na procura por assistência médica após o início dos sintomas são comuns e mudaram pouco nos últimos anos, limitando os benefícios potenciais das terapias de reperfusão. Além disso, os atrasos pré-hospitalares não foram reduzidos pelas intervenções utilizadas até o presente momento. Uma melhor compreensão dos fatores psicossociais associados com atrasos na procura por assistência médica por síndromes coronarianas agudas é necessária para que tenhamos base para futuras intervenções. Assim, os autores realizaram um estudo observacional para avaliar fatores psicossociais relacionados à atrasos na procura por assistência médica relacionada a síndromes coronarianas agudas.

 

O Estudo

            Trata-se de um estudo observacional em que 796 pacientes com suspeita clínica de doença isquêmica do coração agendados para realizar testes de estresse preencheram questionários a respeito de esgotamento psicológico e relação de afeto/apego consigo mesmo e com os outros (sensação de merecimento para receber assistência e lealdade dos outros em oferecer cuidados/assistência). A variável dependente primária deste estudo foi resposta a uma questão do estudo REACT2 (Rapid Early Action in Coronary Treatment - Ação Rápida Precoce Para o Tratamento Coronariano) a respeito da intenção de “esperar até estar muito certo” do diagnóstico potencial antes de procurar assistência médica para um possível “ataque cardíaco”. 

 

Resultados

            Respostas à questão principal do estudo associaram-se fortemente tanto com o atraso na assistência auto-relatado como no relatado pelo departamento de emergências no estudo “Ação Rápida Precoce Para o Tratamento Coronariano”. No modelo de regressão logística, uma visão mais negativa da lealdade/integridade de caráter dos outros, maior limitação física em virtude da angina, e não revascularização prévia associaram-se de forma independente com aumento da intenção de esperar para procurar assistência médica para um infarto do miocárdio. A intenção de esperar não se associou com isquemia induzida nem com o risco auto-percebido de infarto do miocárdio. Os autores concluem que a intenção em protelar a procura por assistência médica em virtude de uma síndrome coronariana aguda está associada com uma visão do paciente a respeito da integridade de caráter/lealdade/fidelidade dos outros, com experiência prévia de revascularização e com limitações funcionais, mesmo após ajuste para risco cardiovascular objetivo e auto-percebido. Estes achados, de acordo com os autores, nos fornecem uma compreensão de novos fatores que contribuem para atrasos mais longos na busca por assistência médica, podendo nos auxiliar em futuras intervenções para reduzir este tempo de atraso.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Esta é uma área que é pouco conhecida e pouco comentada por médicos de uma maneira geral. A visão quase leiga que existe entre a maioria dos médicos a respeito dos motivos que levam a atrasos na procura por assistência médica por qualquer motivo, geralmente inclui uma percepção preconceituosa dos pacientes como ignorância ou negligência com a saúde. Assim, este editor acredita que este estudo possa trazer alguns novos conhecimentos a respeito desta complexa situação. Existem alguns estudos de intervenção prévios que tentaram reduzir o tempo entre o início dos sintomas até a procura por assistência utilizando intervenções como aconselhamento realizado por uma enfermeira para pacientes com doença coronariana estabelecida. Neste estudo randomizado3, um aconselhamento abordando informações gerais, questões emocionais e fatores sociais não reduziu o tempo de atraso em 3500 pacientes com doença coronariana estabelecida, mostrando que talvez outros fatores que não os habitualmente imaginados estejam ligados à demora na procura por assistência médica. Pelos resultados deste estudo, a percepção da vontade/disposição dos outros (profissionais da saúde) em fornecer assistência parece que foi um dos principais preditores na demora em procurar um serviço de emergência, além disso, restrições físicas e experiência prévia com revascularização também se associaram com o retardo na procura por assistência. Ao que parece, nós, profissionais de saúde, teremos que realizar uma auto-crítica e deixar de culpar apenas os pacientes pelo atraso em buscar assistência médica para doenças graves. Evidentemente, este estudo apresenta algumas limitações, como sua natureza observacional (estudo transversal), o uso de um substituto para avaliar a intenção em protelar a procura por assistência (resposta à pergunta do estudo REACT) e não o atraso em si e o fato de estudar pacientes com doença coronariana estabelecida. A generalização de seus resultados para outros tipos de população, particularmente populações mais vulneráveis com menor grau de escolaridade e mais problemas sócio-econômicos deve ser feita com cuidado, pois outros fatores podem estar presentes neste tipo de população. De qualquer maneira, este estudo traz uma nova compreensão sobre a relação de indivíduos com sintomas potencialmente graves e o sistema de saúde, ou pelo menos a percepção e a confiança em relação ao sistema de saúde.

 

Bibliografia

1.     Sullivan MD, Ciechanowski PS, Russo JE, Soine LA, Jordan-Keith K, Ting HH, Caldwell JH. Understanding Why Patients Delay Seeking Care for Acute Coronary Syndromes. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2009;2:148-154.

2.     Luepker RV, Raczynski JM, Osganian S, Goldberg RJ, Finnegan JR Jr, Hedges JR, Goff DC Jr, Eisenberg MS, Zapka JG, Feldman HA, Labarthe DR, McGovern PG, Cornell CE, Proschan MA, Simons-Morton DG. Effect of a community intervention on patient delay and emergency medical service use in acute coronary heart disease: the Rapid Early Action for Coronary Treatment (REACT) trial. JAMA. 2000;284:60–67.

3.     Dracup K, McKinley S, Riegel B, Meischke H, Doering L, Moser D, Pelter M. A randomized controlled trial to reduce prehospital delay to treatment in acute coronary syndrome. Circulation. 2007;116:388.

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