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Resultados de braquiterapia do MD Anderson

Autor:

Guilherme Novita Garcia

Especialista em Ginecologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Especialista em mastologia pela Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 07/08/2012

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Associação entre o tratamento com braquiterapia comparado com irradiação de toda a mama e mastectomia subsequente, complicações e sobrevida em mulheres idosas com carcinoma invasivo da mama.

 

Especialidade: Mastologia

 

Área de atuação: Câncer de mama

 

Resumo

A braquiterapia é um tratamento radioterápico que utiliza implantes para irradiar áreas localizadas do organismo. Em anos recentes, a utilização da braquiterapia na mama, após tratamento conservador em tumores iniciais, tem aumentado substancialmente. Todavia, faltam dados de ensaios randomizados comparando a sua eficácia com o tratamento convencional, isto é, a radioterapia de toda a mama. Como estes resultados ainda necessitarão de alguns anos para serem obtidos, torna-se necessário analisar detalhadamente os resultados clínicos em cenários não randomizados.

 

Contexto clínico

O objetivo do referido estudo foi comparar a probabilidade de preservação da mama, as complicações e a sobrevivência da braquiterapia em comparação à radioterapia convencional num grupo de mulheres idosas com câncer de mama tratadas pelo sistema Medicare.

A radioterapia é indispensável no tratamento conservador da mama, mas, por questões logísticas, muitas vezes ele não está disponível, o que impossibilita a preservação do órgão. Além disso, o tratamento não é isento de complicações e contraindicações.

Neste contexto, surgiram teorias que defendem o uso de radioterapia em dose única (ou de duração reduzida) liberada apenas no local ao redor do tumor.

Apesar de não haver estudos clínicos definitivos, tais técnicas de radioterapia parcial têm sido utilizadas na prática habitual em casos selecionados, mesmo fora de protocolos clínicos.

Como os resultados de estudos randomizados ainda demorarão, torna-se importante analisar os resultados populacionais destes procedimentos.

 

O estudo

Trata-se de uma coorte retrospectiva em base populacional de 92.735 mulheres com mais de 67 anos de idade, com câncer de mama invasivo, diagnosticadas entre 2003 e 2007 e acompanhadas até 2008. Destas, 6.952 foram tratadas com braquiterapia e 85.783 com radioterapia convencional.

O risco ajustado de mastectomias subsequentes (possível indicador de falha para preservar a mama) e de morte foi comparado utilizando-se o teste log-rank e modelos de riscos proporcionais. As probabilidades de infecção pós-operatória e as complicações não infecciosas em 1 ano foram comparadas por meio do teste ?2 e de modelos logísticos. As incidências cumulativas de complicações no longo prazo foram comparadas usando o teste log-rank.

A incidência de mastectomia subsequente em 5 anos foi maior em mulheres tratadas com braquiterapia (3,95%; IC 95%: 3,19% -4,88%), em comparação à radioterapia convencional (2,18%; IC 95%: 2,04%-2,33%; P<0,001) e persistiu após análise multivariada (Hazard Ratio [HR]: 2,19; IC 95%: 1.84-2 0,61, P<0,001).

A braquiterapia também foi associada com mais infecções (16,20%; IC 95%: 15,34% -17,08% vs. 10,33%; IC 95%: 10,13%-10,53%; P<0,001; odds ratio [OR] ajustado: 1,76; 1,64-1,88).

Também houve aumento nas complicações pós-operatórias não infecciosas no grupo que fez braquiterapia (16,25%; IC 95%: 15,39%-17,14% vs. 9.00%; IC 95%: 8,81%-9,19%; P<0,001; OR ajustado: 2,03; 95% CI, 1,89-2,17).

As complicações avaliadas e que demonstram maior frequência no grupo com braquiterapia em relação ao de radioterapia convencional são:

 

      dor mamária (14,55%; IC 95%: 13,39%-15,80% vs. 11.92%; IC 95%: 11,63%-12,21%);

      necrose gordurosa (8,26%, 95% CI, 7,27-9,38 vs. 4.05%; IC 95%: 3,87%-4,24%);

      fratura de costela (4,53%; IC 95%: 3,63% -5,64% vs. 3.62%; IC 95%: 3,44% -3,82%).

 

Em todas estas situações, a diferença observada foi estatisticamente significante (P<0,01).

Apesar destes resultados, não houve piora na sobrevida global: 87,66% (95% CI: 85,94%-89,18%) em pacientes tratadas com braquiterapia contra 87,04% (IC 95%: 86,69%-87,39%) em pacientes tratadas com a radioterapia convencional (HR ajustado= 0,94; IC 95%: 0,84-1,05; P = 0,26).]

Os autores concluem que, nessa coorte de pacientes idosas, o tratamento da mama com braquiterapia foi associado a piores taxas de preservação da mama e mais complicações locais do que as tratadas com radioterapia convencional, sem diferença na sobrevida global.

 

Aplicações para a prática clínica

Em razão de o estudo ser retrospectivo e apresentar várias falhas metodológicas na seleção dos casos, não é possível afirmar que todas as técnicas de irradiação parcial da mama sejam inferiores à radioterapia convencional. Todavia, o presente estudo demonstra os resultados numa grande população em que a braquiterapia apresentou resultados piores.

Sendo assim, o uso dessas técnicas deve permanecer restrito a casos bastante selecionados e, preferencialmente, dentro de estudos clínicos.

 

Bibliografia

1.   Smith GL, Xu Y, Buchholz TA, Giordano SH, Jiang J, Shih YT et al. Association Between Treatment With Brachytherapy vs. Whole-Breast Irradiation and Subsequent Mastectomy, Complications, and Survival Among Older Women With Invasive Breast Cancer. JAMA, 2012; 307 (17): 1827-37. [link para o artigo] Fator de impacto da revista: 30

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