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Ingesta de Leite e Risco de Morte e Fraturas

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 11/08/2017

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Contexto Clínico

 

Uma dieta rica em produtos lácteos é capaz de reduzir a probabilidade de fraturas osteoporóticas. A ingestão de alimentos lácteos correspondente a 3 ou 4 copos de leite por dia tem sido sugerida para diminuir, pelo menos, 20% dos custos de saúde relacionados com a osteoporose. O consumo elevado de leite, no entanto, pode ter efeitos indesejáveis, já que o leite é a principal fonte dietética de D-galactose.

Evidências experimentais em várias espécies animais indicam que a exposição crônica à D-galactose é deletéria para a saúde. Até uma dose baixa de D-galactose induz alterações que se assemelham ao envelhecimento natural em animais, incluindo o tempo de vida encurtada causada por danos de estresse oxidativo, a inflamação crônica, a neurodegeneração, a resposta imunológica diminuída e as alterações do gene da transcrição.

Uma dose subcutânea de 100mg/kg de D-galactose acelera a senescência em ratinhos. Isso é equivalente a 6-10g em seres humanos, correspondente a 1-2 copos de leite. Devido ao elevado teor de lactose no leite, há uma hipótese de que o alto consumo de leite pode aumentar o estresse oxidativo, o que, por sua vez, afeta o risco de mortalidade e fratura.

 

O Estudo

 

Este é um estudo de coorte feito na Suécia. Os participantes foram dois grandes grupos suecos para os quais foram aplicados questionários de frequência alimentar, sendo um com 61.433 mulheres (39-74 anos no início do estudo, em 1987-1990) e outro com 45.339 homens (45-79 anos no início do estudo, em 1997). As mulheres responderam a um segundo questionário de frequência alimentar em 1997. Os desfechos avaliados foram a associação entre o consumo de leite e o tempo para a mortalidade ou fratura.

Durante um seguimento médio de 20,1 anos, 15.541 mulheres morreram e 17.252 tiveram uma fratura, dentre as quais 4.259 tiveram uma fratura de quadril. Na coorte masculina, com seguimento médio de 11,2 anos, 10.112 homens morreram e 5.066 tiveram uma fratura, com 1.166 casos de fratura de quadril. Em mulheres, a razão de risco de mortalidade ajustada para 3 ou mais copos de leite por dia em comparação com menos de 1 copo por dia foi de 1,93 (IC 95%, 1,80-2,06). Para cada copo de leite, a razão de risco ajustada de todas as causas de mortalidade foi de 1,15 (1,13-1,17) em mulheres e 1,03 (1,01-1,04) em homens.

Para cada copo de leite, para as mulheres, não foi observada a redução no risco de fratura com maior consumo de leite para qualquer fratura (1,02, 1,00-1,04) ou para fratura de quadril (1,09, 1,05-1,13). As razões de risco ajustadas correspondentes nos homens foram 1,01 (0,99-1,03) e 1,03 (0,99-1,07). Nas subamostras de duas coortes adicionais, uma no sexo masculino e outra no sexo feminino, observou-se associação positiva entre a ingestão de leite e a 8-iso-PGF2a da urina (biomarcador do estresse oxidativo) e a interleucina 6 sérica (principal biomarcador inflamatório).

 

Aplicação Prática

 

A alta ingestão de leite foi associada com maior taxa de mortalidade em uma coorte de mulheres e em outro grupo de homens, e com maior incidência de fraturas em mulheres. Devido ao fato de o estudo ser observacional com a possibilidade inerente de fenômenos de confusão residual e causalidade reversa, recomenda-se uma interpretação cautelosa dos resultados. Entretanto, o dado sugere a necessidade de um ensaio clínico randomizado que possa dar uma resposta definitiva sobre a orientação do consumo de leite em adultos.

 

Bibliografia

 

Michaëlsson K et al. Milk intake and risk of mortality and fractures in women and men: cohort studies. BMJ 2014;349:g6015

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