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Eficácia da CoronaVac em Idosos no Brasil

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 16/11/2021

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Contexto Clínico

 

A vacinação é a medida mais importanteque temos no momento para conter a pandemia da covid-19. Porém, uma questão-chaveé se as vacinas autorizadas são eficazes em pessoas idosas, que podem terrespostas imunes prejudicadas e estão sub-representadas em ensaios clínicosrandomizados.

As vacinas baseadas em vetores de mRNAe adenovírus têm-se mostrado eficazes contra a covid-19 em idosos, mas asevidências sobre a eficácia de vacinas inativadas nessa população são limitadas.

A CoronaVac (Sinovac BioNTech) é umavacina de vírus inteiro inativada, que foi aprovada por mais de 30 países. Emensaios clínicos randomizados, a eficácia da vacina contra a covid-19sintomática com um regime de duas doses em profissionais de saúde e napopulação em geral variou de 51 a 84%, mas há uma lacuna de evidências para aeficácia dessa vacina em adultos com idade = 60 anos.

 

O Estudo

 

Apresentamos umestudo de caso-controle com teste negativo pareado para avaliar a eficácia daCoronaVac no mundo real contra a covid-19 sintomática e quadro clínico grave empessoas com idade = 70 anos. O estudo foi conduzido em São Paulo, o estado maispopuloso do Brasil.

Um total de 43.774 participantes adultoscom idade = 70 anos, residentes no estado de São Paulo, foram submetidos aoteste de reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR) paraSARS-CoV-2 de 17 de janeiro a 29 de abril de 2021. Um total de 26.433 casos comcovid-19 sintomática e 17.622 controles negativos de teste com sintomas decovid-19 foram formados em 13.283 conjuntos combinados, um caso com até cincocontroles, de acordo com idade, sexo, raça autorrelatada, município deresidência, status de covid-19 anterior e data do teste RT-PCR (± 3dias). A intervenção estudada foi um regime de duas doses de CoronaVac. Osdesfechos avaliados foram RT-PCR confirmatório para covid-19 sintomática eadmissões hospitalares e óbitos associados.

A eficácia da vacina ajustada contracovid-19 sintomática foi de 24,7% (IC 95%, 14,7 a 33,4%) em 0 a 13 dias e de 46,8%(IC 95%, 38,7 a 53,8%) em = 14 dias após a segunda dose. A eficácia da vacinaajustada contra admissões hospitalares foi de 55,5% (IC 95%, 46,5 a 62,9%), econtra mortes foi de 61,2% (IC 95%, 48,9 a 70,5%), em = 14 dias após a segundadose. A eficácia da vacina = 14 dias após a segunda dose foi maior para o grupode idade mais jovem (IC 95%, 70 a 74 anos), com 59,0% (IC 95%, 43,7 a 70,2%)contra doença sintomática, 77,6% (IC 95%, 62,5 a 86,7%) contra admissõeshospitalares e 83,9% (IC 95%, 59,2 a 93,7%) contra mortes, e essa eficáciacontra doença sintomática diminuiu com o aumento da idade, chegando a 32,7% (IC95%, 17,0 a 45,5%) naqueles com idade = 80 anos.

 

Aplicação Prática

 

Neste estudo caso-controle, descobrimosque a eficácia de um esquema de duas doses de CoronaVac aplicadas em intervalomédio de 4 semanas, entre pessoas com = 70 anos, foi de 47% contra covid-19sintomática, 56% contra admissões hospitalares associadas à covid-19 e 61%contra óbitos associados à covid-19. Importante destacar que na época do estudoa variante de maior circulação era a gama. Outro ponto importante do estudo é ademonstração de queda de eficácia com o aumento da idade. Entretanto, esse fatoé uma descoberta congruente com as evidências do mundo real para a vacina demRNA BNT162b2 (vacina da Pfizer).

 

Essa estimativa de eficácia contradoença sintomática encontrada (47%) é inferior à eficácia de 84% (IC 95%, 65 a92%) relatada em estudo turco, cujos participantes tinham idade média de 45anos e fizeram intervalo de dosagem de duas semanas, mas é comparável àeficácia de 51% (IC 95%, 36 a 62%) do ensaio brasileiro em profissionais desaúde que tinham idade média de 39 anos e fizeram intervalo de dosagem de duassemanas. Além disso, um estudo de coorte recente no Chile relatou eficácia paraCoronaVac de 66,6% (IC 95%, 65,4 a 67,8%) em pessoas com idade = 60 anos. Nãoestá claro se as diferenças observadas estão relacionadas a distribuição deidade, intervalo de dosagem, risco de infecção na comunidade ou presença emmaior ou menor quantidade da variante gama.

O mais importante do ponto de vistaprático, e que este estudo sinaliza, assim como outros do gênero que trazeminformações sobre idosos, é a necessidade de repensar potenciais esquemas devacinação para idosos, principalmente, mas não apenas, aqueles com = 80 anos.Locais com disponibilidade de diferentes vacinas poderiam optar pelo usodaquelas de maior eficácia inicial para essa população, ou ainda esquemas dereforço com vacinas diferentes podem auxiliar nessa solução. O que precisamosneste momento é de dados do mundo real que possam ajudar nas tomadas de decisãonas políticas vacinais.

 

Bibliografia

 

1.            Ranzani O T,Hitchings M D T, Dorion M, Dâ??Agostini T L, de Paula R C, de Paula O F P etal. Effectiveness of the CoronaVac vaccine in older adults during a gammavariant associated epidemic of covid-19 in Brazil: test negative case-controlstudy BMJ 2021; 374 :n2015

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