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Profilaxia Antibiótica Secundária para Cardiopatia por Febre Reumática

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 21/03/2022

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Contexto Clínico

 

A doença cardíaca por febre reumática afetamais de 40,5 milhões de pessoas em todo o mundo, e estima-se que resulte em maisde 300 mil mortes anualmente. A triagem ecocardiográfica detecta a doençacardíaca reumática em um estágio inicial e latente. Não se sabe se a profilaxiaantibiótica secundária é eficaz na prevenção da progressão da doença cardíacareumática latente.

 

O Estudo

 

Apresentamosum ensaio clínico randomizado e controlado sobre profilaxia antibióticasecundária em crianças e adolescentes de Uganda de 5 a 17 anos de idade comdoença cardíaca latente por febre reumática. Os participantes foramaleatoriamente designados para receber injeções de penicilina G benzatina acada quatro semanas por dois anos ou nenhuma profilaxia. Todos os participantesforam submetidos a ecocardiografia no início e dois anos após a randomização.As alterações da linha de base foram julgadas por um painel cujos membrosdesconheciam as atribuições do grupo de teste. O desfecho primário foiprogressão ecocardiográfica de doença cardíaca por febre reumática em dois anos.

Entre 102.200crianças e adolescentes que fizeram ecocardiogramas de triagem, 3.327 foraminicialmente avaliados como portadores de cardiopatia reumática latente, e 926dos 3.327 receberam posteriormente um diagnóstico definitivo com base emecocardiograma confirmatório e foram considerados elegíveis para o estudo. Oconsentimento para participação foi fornecido para 916 pacientes, e todos foramrandomizados; 818 participantes foram incluídos na análise de intenção detratar modificada, e 799 (97,7%) completaram o estudo. Três participantes(0,8%) no grupo de profilaxia tiveram progressão ecocardiográfica em dois anos,em comparação com 33 (8,2%) no grupo controle (diferença de risco, ?7,5 pontospercentuais; IC 95%, ?10,2 a ?4,7; P < 0,001). Dois participantes do grupode profilaxia tiveram eventos adversos graves, que foram atribuíveis aorecebimento de profilaxia, incluindo um episódio de reação anafilática leve(representando < 0,1% de todas as doses administradas de profilaxia).

 

Aplicação Prática

 

Este é um raro ensaio clínico feito emuma população específica, que é a de pacientes que tiveram febre reumática,condição pouco comum em países desenvolvidos, mas que ainda encontramos emnosso país, e por isso este estudo feito na África tem especial importânciatambém para o Brasil.

Com base nos resultados apresentados,fica claro que, entre crianças eadolescentes de 5 a 17 anos de idade com doença cardíaca latente por febrereumática, a profilaxia antibiótica secundária reduziu o risco de progressão dadoença em dois anos. Ainda que o estudo tenha uma janela de apenas dois anos, érazoável justificar a rotina de profilaxia secundária com penicilina Gbenzatina na população elegível. Obviamente, faltam dados de mais longo prazo,mas pode ser que no futuro tenhamos algo publicado nesse sentido.

 

Bibliografia

 

1.            Beaton A et al. Secondary AntibioticProphylaxis for Latent Rheumatic Heart Disease. N Engl J Med 2022; 386:230-240.

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