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Eletrocardiograma 69

Autores:

Fernando de Paula Machado

Médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Residência em Clínica Médica no Hospital das Clínicas da FMUSP (HC-FMUSP). Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do HC-FMUSP. Médico Diarista do Pronto-Atendimento do Hospital Sírio-Libânes.

Leonardo Vieira da Rosa

Médico Cardiologista pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Doutorando em Cardiologia do InCor-HC-FMUSP. Médico Cardiologista da Unidade Coronariana do Hospital Sírio Libanês.

Última revisão: 01/04/2019

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Quadro Clínico

            Homem de 22 anos com quadro de palpitações taquicárdicas (vistas em traçado de Holter) há alguns meses. Nega doenças prévias, síncopes e apresenta ecocardiograma normal. Qual o diagnóstico ?

 

Traçado do Holter

 

Ver diagnóstico abaixo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diagnóstico

Taquicardia Ventricular monomórfica com provável origem fascicular. Identifica-se TV monomórfica com aspecto de BRD com dissociação e batimentos de  fusão/captura.

 

Comentários

            Arritmias cardíacas induzidas pelo exercício são arritmias que ocorrem durante ou logo após o exercício físico. Podem ser assintomáticas ou desencadear palpitações, tontura, pré-síncope, síncope, angina e infarto agudo do miocárdio, edema agudo de pulmão e até morte súbita. Podem acontecer em qualquer idade, na presença ou ausência de cardiopatia estrutural, e apresentar caráter benigno ou maligno.

            As arritmias ventriculares induzidas pelo esforço são extra-sístoles ventriculares, taquicardia ventricular não-sustentada (3 ou mais batimentos, terminando espontaneamente em menos de 30 segundos), taquicardia ventricular polimórfica, taquicardia ventricular monomórfica e fibrilação ventricular. Os mecanismos eletrofisiológicos responsáveis por estas arritmias são: reentrada, automaticidade e atividade deflagrada.

            As taquicardias ventriculares monomórficas sustentadas são taquicardias com QRS largo (>0,12s) sempre com a mesma morfologia, com padrão de BRD, quando se originam do ventrículo esquerdo, ou BRE, quando se originam no ventrículo direito ou septo interventricular esquerdo. O diagnóstico diferencial deve ser feito com as taquicardias supraventriculares com condução aberrante. Para tal, utilizam-se os critérios de Brugada ao ECG de doze derivações. As TVMS induzidas durante exercício podem ocorrer em pacientes com doença arterial coronariana e miocardiopatias. Geralmente são associadas a anormalidades cardíacas estruturais, como cicatrizes isquêmicas, podendo ser desencadeadas, ou não, por isquemia aguda. Apresentam prognóstico desfavorável, sendo associada a alto risco de morte súbita. O tratamento recomendado é:

 

         Se houver instabilidade hemodinâmica ou IC descompensada, a cardioversão elétrica imediata deverá ser realizada.

         Se o paciente encontra-se estável poderá ser utilizada amiodarona, sotalol, lidocaína, procainamida ou cardioversão elétrica. Sendo a fração de ejeção diminuída, utilizar amiodarona ou lidocaína. Nunca utilizar bloqueadores do canal de cálcio, como verapamil ou diltiazem, pois poderá haver grave deterioração hemodinâmica, com necessidade de cardioversão elétrica imediata.

         O tratamento definitivo envolve o implante de cardioversor-desfibrilador implantável (CDI).

 

            As TVMS induzidas durante exercício também podem ocorrer em pacientes sem evidência de cardiopatia estrutural, sendo denominada “idiopática”. A TVMS idiopática geralmente origina-se nos tratos de saída (QRS positivo em DII,DIII e aVF) do VD (padrão de BRE) ou do VE (padrão de BRD). A TVMS idiopática apresenta bom prognóstico e a síncope é rara, não se correlacionando com doença isquêmica. O diagnóstico diferencial deve ser feito com displasia arritmogênica do VD, taquicardia por reentrada pelos ramos e taquicardia átrio-ventricular antidrômica. Geralmente são sensíveis à adenosina, verapamil e betabloqueadores.

            Nesse caso trata-se de um jovem sem doença aparente, que apresenta freqüentes episódios de arritmia ventricular, isoladas, salvas e episódios de TV não sustentada. (Fig 1A – 2A)

 

Fig- 1A -Gráfico tabular – Distribuição da arritmia ventricular hora-hora – EE VV isoladas (21.529), salvas de duas (4531) e episódios de TV (1977).

 

 

Fig-2A-Múltiplos episódios de TVs e Evs trigeminadas

 

            A atividade ectópica se apresenta em forma isolada, bigeminismo, trigeminismo, quando a FC é mais lenta, e com freqüentes salvas de TV não sustentada, quando há aceleração da FC. Caracteristicamente a morfologia dos complexos ventriculares prematuros (CVP) isolados e em salvas é idêntica (presença de R nas 3 derivações do Holter), com origem do foco arrítmico situado no ventrículo esquerdo, pois tem a morfologia de bloqueio de ramo direito (QRS positivo no primeiro canal - V1). Nos outros canais equivalentes a V5 e DI modificado, também é positivo, sugerindo que o estímulo caminhe de trás para frente e direita para esquerda.

 

     Os achados apóiam o caráter provavelmente benigno da arritmia:

 

         Ausência de cardiopatia estrutural;

         Morfologias sempre iguais de QRS estreitos (aproximadamente) 0,12s;

         Freqüência da taquicardia relativamente lenta (110 a 130bpm).

         Aparecimento da TV com elevação da FC (catecolaminérgica).

                       

            Resumindo, trata-se de uma jovem sem aparente cardiopatia com períodos de bigeminismos freqüentes ao repouso, com intervalo de acoplamento longo. Quando se eleva a FC ocorre aparecimento de salvas de TV mantendo a morfologia de BRD. Quando se acelera mais a FC em ritmo sinusal há o desaparecimento das salvas de taquicardia.

 

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