Autor:
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Médico Assistente da Disciplina de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Última revisão: 06/06/2013
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A tireoidite pós-parto é um distúrbio tireoidiano comum que ocorre no 1º ano pós-parto, podendo ocorrer com hipertireoidismo transitório, hipotireoidismo transitório ou hipertireoidismo transitório seguido de hipotireoidismo transitório. A maioria dos pacientes costuma estar eutireoides após 1 ano. É uma forma destrutiva de tireoidite com provável mecanismo autoimune.
Acredita-se tratar de uma exacerbação de tireoidite autoimune agravada pelo rebote imunológico que ocorre após a imunossupressão parcial da gestação. Nessas pacientes, a taxa de linfócitos CD4/CD8 costuma estar elevada.
Histologicamente, os pacientes apresentam infiltrado linfocítico e, por vezes, destruição difusa do tecido tireoidiano, alterações que são semelhantes à tireoidite de Hashimoto e à tireoidite silente esporádica.
A prevalência é variável no mundo, com poucos estudos apropriados. Em média, pode acometer 4 a 7,2% das gestações (a variação nos estudos é de 1,1 a 16,7%), sendo a incidência 3 vezes maior em pacientes com diabetes melito tipo 1.
Também pode ocorrer tireoidite em casos de aborto, mas os dados de incidência não são bem conhecidos.
A taxa de recorrência é alta, sendo que 70% desenvolvem novamente na gestação seguinte. Mulheres com anticorpo anti-TPO positivo que não desenvolveram a doença na primeira gestação têm 25% de chance de desenvolvê-la em uma segunda gestação.
Os sintomas podem ocorrer em qualquer fase da tireoidite. Os sintomas de hipotireoidismo costumam ser sutis e reconhecidos apenas retrospectivamente.
No curso clássico, há uma primeira fase com hipertireoidismo, que costuma ocorrer de 2 a 10 meses pós-parto, sendo mais comum aos 3 meses. Os sintomas mais comuns desta fase são palpitações, fadiga, intolerância ao calor e irritabilidade. Em 33% das pacientes, o hipertireoidismo pode ser assintomático. Caso não seja tratada, esta fase tem resolução espontânea em 2 a 3 meses. O diagnóstico pode ser realizado com a confirmação de hipertireoidismo primário laboratorial com anticorpo anti-TPO positivo em pacientes com anticorpo anti-TRAB previamente negativo.
É importante ter em mente, como diagnóstico diferencial desta fase, a doença de Graves, que tem chance maior de recidivar no pós-parto, mas é cerca de 20 vezes menos frequente que a tireoidite pós-parto como causa de hipertireoidismo novo no puerpério. Caso o anticorpo anti-TRAB seja positivo, o diagnóstico pode ser difícil, lembrando que até 25% das mulheres com tireoidite pós-parto podem ter o anticorpo anti-TRAB positivo. Nestes casos, um fator que ajuda na diferenciação é que as pacientes com doença de Graves geralmente apresentam bócio; em casos duvidosos, a cintilografia de tireoide pode ajudar no diagnóstico.
A fase hipotireóidea, por sua vez, costuma ser sem dor na tireoide em comparação com a tireoidite subaguda. Ocorre entre 2 e 12 meses pós-parto e é mais comumente diagnosticada com 6 meses. Já o hipotireoidismo que se manifesta 1 ano após o parto não costuma ser atribuível a tireoidite pós-parto.
Os sintomas mais comuns são alteração da concentração, falta de interesse e preocupação, pele seca, alterações de memória e diminuição de energia. O diagnóstico é realizado com a verificação de hipertireoidismo primário laboratorial e anticorpo anti-TPO positivo. Nos raros casos com tireoide dolorosa, o VHS normal exclui tireoidite subaguda.
Estudos avaliando a associação de tireoidite pós-parto e depressão pós-parto têm resultados conflitantes, com dois estudos mostrando associação, outros dois estudos mostrando associação com a presença de anticorpo anti-TPO positivos e um terceiro sem mostrar associação. Já a psicose pós-parto não parece ter associação.
A maioria das mulheres estão eutireoideas 1 ano depois do parto. Em estudos de longo prazo, verificou-se que 23% das mulheres podem ter hipotireoidismo após 3 anos e meio, e 29%, 9 anos após o episódio.
A progressão para hipotireoidismo permanente é mais comum em mulheres com níveis de TSH mais elevados e títulos elevados de anticorpo anti-TPO na fase hipotireóidea.
Em relação à fase do hipertireoidismo, nenhum estudo demonstrou benefício na realização de tratamento nesta fase, apesar da possibilidade do hipertireoidismo subclínico afetar a qualidade de vida. O tratamento só é indicado em pacientes muito sintomáticas, para as quais se indica o uso de betabloqueadores por menos de 3 meses. Não se devem utilizar tioureias.
Na fase de hipotireoidismo, as séries mostram que 15 a 75% das pacientes necessitam de tratamento. As principais indicações são valores de TSH acima de 10 u/L e hipotireoidismo sintomático. Já em pacientes que engravidam novamente durante a fase hipotireóidea, é necessário realizar o tratamento, pois a ausência deste aumenta a taxa de abortos espontâneos e o hipotireoidismo pode afetar a capacidade intelectual dos filhos. em geral, o tratamento visa a manter o TSH abaixo de 10, com dose inicial de 50 mcg de levotiroxina por até 1 ano, sendo monitorado conforme sintomas e níveis de TSH.
1. Postpartum thyroiditis. Disponível em www.uptodate.com.
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