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Doping

Autor:

Armando Enrique Pancorbo Sandoval

Doutor em Medicina pela Universidade de Havana, Cuba; Médico Especialista em Medicina do Esporte pelo Instituto de Medicina Desportiva de Cuba – Ministério da Saúde; Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de Havana; Professor Titular das Universidades de Havana e Matanzas; e membro acadêmico do Instituto de Medicina Desportiva de Cuba para Residência da Especialidade e Mestrado.

Última revisão: 12/12/2014

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Neste capítulo, pretendemos abordar alguns aspectos de grande interesse em relação ao doping que, em nossos anos de experiência na medicina do esporte, conseguimos incorporar por meio do trabalho direto com diferentes disciplinas esportivas, bem como a partir de importantes relações estabelecidas com personalidades desse fascinante mundo.

Sem dúvida alguma, no ciclo olímpico de 2000-2004 ocorreu uma verdadeira revolução científica no conhecimento do doping e de seu controle, que tem favorecido o trabalho educativo, social e político, encabeçado pelo COI e pela WADA, na luta contra o doping.

Não podemos deixar de mencionar alguns nomes importantes nesta luta: o excelentíssimo Márquez Juan Antonio Samaranch, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) no período de 1980 a 2001; o príncipe Alexandre de Merode, presidente da Comissão Médica do COI; e o professor doutor Manfred Donike, chefe da subcomissão de doping e bioquímica da comissão médica do COI, que foram lutadores incansáveis e os principais líderes no combate ao doping. Infelizmente, nem o príncipe de Mérode, nem o doutor Donike presenciaram a criação da Agência Mundial Antidoping (WADA).

Gostaríamos de dedicar este capítulo a importantes líderes dos comitês olímpicos de nosso continente: Mario Vázquez Raña, José Joaquín Puello, Manuel González Guerra, Germán Rickherhoff, estes dois últimos já falecidos, assim como aos senhores José Ramon Fernández, Héctor Cardona e Carlos Nuzman, importantes personalidades na árdua tarefa contra o doping em seus respectivos comitês olímpicos. Seu trabalho, bem como o de outros presidentes de comitês olímpicos nacionais de nosso continente, na condução de organizações esportivas como a Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA), a Organização Desportiva Centro-Americana e do Caribe (ODECABE) e a Organização Desportiva Sul-Americana (ODESUL) tem sido fundamental.

Ao preparar este capítulo, trocamos informações com nossos amigos e colegas professor doutor Jorge Segura, diretor do Laboratório de Controle de Dopagem de Barcelona,ex-chefe da subcomissão de doping e bioquímica da comissão médica do COI; e professor doutor Eduardo De Rose, membro da Agência Mundial Antidoping (WADA-AMA) e da comissão médica do COI. Ambos colaboraram muito com sua experiência e conhecimento.

Este capítulo baseia-se fundamentalmente em nossa experiência na luta contra o doping em diferentes eventos e instituições: como médico de equipes nacionais de Cuba, da equipe de natação da Espanha e no trabalho na comissão médica da ODEPA; no controle do doping durante os Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987, Havana, em 1991, e Mar Del Plata, em 1995; na comissão médica da ODECABE na Cidade do México, em 1990, e Ponce, Porto Rico, em 1993; na criação do Conselho Nacional Antidoping de Cuba e na assessoria do controle Antidoping do Comitê Olímpico de Cuba durante os anos de 1986 a 1996; como diretor do Instituto de Medicina do Esporte de Cuba, em que trabalhamos intensamente com educação e prevenção junto aos atletas olímpicos cubanos, obtendo excelentes resultados nos controles pré-competitivos realizados; e na preparação dos XI Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991, uma verdadeira escola, com a capacitação do pessoal para o trabalho nos pontos de controle, o processo de negociação do laboratório acreditado pelo COI e o próprio trabalho na comissão médica da ODEPA.

Tivemos a felicidade, ainda, de trabalhar no controle de doping com colegas cubanos como Miguel Palácios (que publicou obra fundamental sobre doping em 1991), Graciela Nicot, Roberto Alvarez, Ramón González, Miguel Hernández, dentre outros.

Esperamos que este capítulo sirva com uma introdução para aqueles que pela primeira vez se interessam pelo tema e como uma revisão para o leitor mais experiente, a fim de aprimorar sua experiência.

 

História do doping

Ao revisar a origem da palavra doping, pudemos comprovar que ela não vem do idioma inglês. É derivada do termo dop, procedente do dialeto kaffir na África do Sul, para denominar um licor forte consumido pelos membros das tribos dessa região como forma de estimulante durante suas cerimônias religiosas. O termo foi adaptado da linguagem bôer e, posteriormente, seu uso foi ampliado para outras bebidas estimulantes. Vários outros termos são reconhecidos para identificar a palavra, porém todos têm o mesmo sentido.

Com o passar do tempo, essa palavra começou a ser usada no idioma inglês para identificar uma mistura de ópios e narcóticos que se administravam como estimulantes para os cavalos em suas corridas, sendo depois aplicada como um termo geral mais amplo, como aparece no Dicionário Beckmann do Esporte, de 1933 (Palácios, Nicot e Pancorbo, 1991).

 

Início do doping

Ao longo dos séculos, o homem tem tentado aperfeiçoar seu rendimento e diminuir o desgaste ao participar de tarefas como a caça, a pesca, as cerimônias religiosas, o esporte e até mesmo orgias. Para isso, utilizou conhecimentos rudimentares, fazendo misturas de substâncias usadas como terapia, bem como conhecimentos ligados à crença na magia e na bruxaria do passado.

Nos jogos celebrados na Grécia Antiga, era comum o uso de substâncias estimulantes.

Em um quadro chinês de 300 a.C., foi representado alegoricamente um imperador da época mastigando uma rama de ephedra, planta que contém efedrina.

A mitologia nórdica relata como seus legendários berserks conseguiam aumentar até 12 vezes a sua força por meio de uma substância extraída do cogumelo Amanita Muscaria.

Na Grécia Clássica, desde o século III a.C. foi reportado por Galeno e Filostrano o emprego de substâncias estimulantes pela ingestão de infusões, extratos de plantas e outros meios utilizados pelos atletas para aumentar a força e a resistência. Entre eles, corredores de fundo, saltadores e lutadores que participavam nos Jogos Olímpicos da Antiguidade.

Na era atual também se reporta o uso de substâncias similares, como, por exemplo, os surpreendentes rendimentos obtidos pelos incas ao mastigar as folhas de Erythroxylon coca, o que foi apresentado em testemunho escrito por um cronista espanhol, Gutiérrez de Santa Clara.

 

Já em uma época menos distante, por volta do século XIX, foram registrados feitos que constituem uma amostra contundente do uso de substâncias estimulantes no esporte:

- No ano de 1865, Pini reportou o uso maciço de estimulantes entre nadadores no canal de Amsterdam.

- Existem diversas informações sobre o emprego de estimulantes na “Corrida dos Seis Dias” de 1879, em que houve uma mescla de grande variedade de substâncias estimulantes como cafeína, nitroglicerina e até mesmo uma mistura de açúcar e éter.

- Em 1896, foi descrito o primeiro caso de morte decorrente da ingestão de estimulantes, quando o ciclista Linton morreu na corrida de 600 km de Burdeos a Paris por excesso de doses administradas.

- Ao final do século XIX, utilizou-se, com muita freqüência, grande variedade de substâncias para aumentar os resultados esportivos. Entre elas estavam a cafeína, a nitroglicerina, a estricnina, o oxigênio e muitas outras misturas, como a cocaína com brandy.

 

Século XX: desenvolvimento do doping no esporte e os primeiros intentos para demonstrar quimicamente a presença de agentes dopantes em fluidos biológicos

Cronologia

Em 1910, o químico russo Bukovski realizou a primeira análise científica para demonstrar a presença de substâncias alcalóides na saliva do cavalo.

Com o desenvolvimento da farmacologia a partir do século XX, descobriram-se diversas substâncias que podiam ser consideradas estimulantes. Foi dado início, então, a uma série de investigações orientadas a estudar os efeitos dessas substâncias, principalmente no emprego de atividades específicas, como, por exemplo, longas marchas, vôos noturnos, etc., fundamentalmente durante a Primeira Guerra Mundial.

A partir desse episódio, começaram, então, a aparecer as primeiras definições de dopagem, com os aspectos médicos que a constituíam e com os efeitos éticos e morais que causavam. Isto foi possível por meio do trabalho de pesquisadores como Knoll, Prokop e outros.

Na década de 1950 começaram a manifestar-se de forma mais aberta e repetitiva os casos de dopagem. Era bastante comum encontrar ampolas e seringas nos vestiários dos atletas, demonstrando uma prática cada vez mais perigosa na busca da melhora de resultados esportivos. Era uma corrida para a melhora dos tempos e da condição física.

Doses graves e fatais foram administradas pelos atletas, como, por exemplo, o caso de um ciclista que, no ano de 1952, consumiu oito comprimidos de fenilisoproilamina e 19 de anfetamina, acompanhados de uma térmica de café, o que, em conjunto, conduziu o atleta à morte.

Nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1952, houve uma amostra contundente de resultados claramente influenciados pelo consumo de substâncias estimulantes.

Em 1955, realizou-se um controle: foram analisadas 25 amostras de urina, dentre as quais cinco deram resultado positivo, apesar do limitado potencial investigativo da época e das escassas informações sobre os tipos de substâncias a serem buscadas.

No ano de 1956, descreveu-se o caso de um corredor que teve que ser retirado da competição e levado a uma clínica psiquiátrica devido à ingestão excessiva de anfetamina, que teria produzido confusão mental grave.

Apesar do aumento desses feitos na história do esporte de competição, não se proibiu o uso dessas substâncias até o ano de 1959, quando foi criada a Comissão Anti-doping, auspiciada pela Associação Nacional de Educação Física da França, a qual dedicou sua atenção ao doping nos Congressos de Medicina Esportiva de Paris e Evian.

Foi editada, em 1962, a Primeira Resolução do Comitê Olímpico Internacional, que posicionava seu rechaço contra o doping. Foi, na realidade, o primeiro intento de oficializar a oposição ao uso de substâncias estimulantes, porém sem determinar medidas para seu controle eficiente.

É nesse período que o Ministério de Educação da Áustria decide organizar uma comissão de luta contra o doping, a qual deu os primeiros passos para a indicação de sanções nos casos de atletas que usassem essa prática.

No ano de 1960, durante a realização dos Jogos Olímpicos de Roma, ocorreu novamente uma morte, dessa vez do ciclista Danes Krut Jones, causada por uma superdosagem de anfetaminas, segundo o resultado da autópsia.

Para o benefício do esporte de competição, em janeiro de 1963 foi elaborada a primeira definição completa de dopagem, que foi posteriormente ampliada, no mês de novembro desse mesmo ano, na cidade de Madri, onde foi estabelecida pela primeira vez uma lista de substâncias proibidas. Entre essas substâncias, estavam narcóticos, estimulantes alcalóides como a estricnina, analíticos, broncodilatadores e alguns hormônios.

No ano seguinte, a gravidade manifesta pelo uso do doping e a necessidade de combatê-lo estimularam algumas autoridades esportivas de governos a apoiar o movimento Antidoping. Por essa razão, foi realizado o Congresso da Unesco, em Genebra e Bruxelas, tendo como tema central a campanha Antidoping. Realizou-se também o I Congresso Mundial de doping, no marco dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, e no Congresso do Conselho da Europa, em Estrasburgo, 1965, entre outros eventos com o mesmo objetivo.

Alguns países de ponta, como a França e a Bélgica, ditaram leis contra o uso de doping no esporte, incluindo medidas severas para os violadores. Em outros países, entretanto, isso não foi possível, nesse mesmo período, devido a limitações constitucionais ou a formalidades legais.

Em 1966 as federações internacionais de ciclismo e futebol introduziram pela primeira vez em seus campeonatos mundiais um controle de doping. Um passo importante aconteceu em 1967, quando o COI formou sua Comissão Médica, que foi um importante elemento oficial de combate ao doping no esporte. Foi precisamente sob o controle dessa comissão que se realizou a primeira análise de doping durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Grenoble e na XIX Olimpíada do México. A partir desses eventos, foi oficializado o controle para a luta contra o doping, controle que até hoje vem sendo realizado, com métodos e protocolos de investigação aperfeiçoados na busca de substâncias cada vez mais sofisticadas que afetam a veracidade dos resultados esportivos, a ética do esporte e, por conseqüência, a saúde do atleta.

Nos Jogos Olímpicos do México, os controles foram dirigidos aos estimulantes do sistema nervoso central e aos narcóticos.

O COI, junto com sua Comissão Médica, a partir de 1999, quando houve a criação da Agência Mundial Antidoping (WADA), tem trabalhado na conscientização de que a dopagem seja reconhecida em todo o mundo como uma séria ameaça contra a saúde e a ética no esporte. Para isso, tem conseguido centralizar e estabilizar a edição sistemática de todas as substâncias e métodos proibidos, comunicando todos os interessados para evitar uma violação que afete física e eticamente o atleta.

A partir de 1975 houve um crescimento acelerado da lista de substâncias proibidas, em que se incluíram os esteróides anabólicos, analisados pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976. É precisamente no ano de 1976 que se incluem essas substâncias na lista do COI e de algumas federações esportivas.

Um elemento importante foi a inclusão, em 1983, dos limites permitidos de testosterona e de cafeína na urina. Esses parâmetros exigiam cada vez mais a presença de especialistas para a atenção do treinamento, da saúde dos atletas e seu controle em laboratório.

Em um curto período de tempo a lista continuava aumentando. O avanço das investigações permitia uma busca cada vez mais aperfeiçoada, porém era cada vez mais difícil descobrir as novas substâncias que estavam sendo utilizadas.

Em 1985, incluíram-se os beta-bloqueadores e o doping sanguíneo, e em 1986, proibiu-se o uso de diuréticos e o uso de corticosteróides e analgésicos locais foi limitado.

Como se vê, em curtos intervalos de tempo foram adicionados vários novos limitantes para o uso de substâncias, na tentativa de inibir o máximo possível intervenções equivocadas sobre os resultados esportivos.

O uso de hormônios peptídicos, tais como o hormônio do crescimento, a gonadotropina coriônica humana e o ACTH, e os diferentes métodos farmacológicos, químicos ou físicos de manipulação da urina foram excluídos.

No ano de 1990, a eritropoetina passou a fazer parte da lista de hormônios peptídicos proibidos. Assim, durante os Jogos de Sydney, em 2000, foi realizado o controle dessa substância com base na combinação de testes de urina e sangue.

 

Outros aspectos de interesse

A Comissão de Atletas do COI, constituída por atletas de modalidades que participam dos Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno, representando 30 federações esportivas internacionais, durante a realização do XI Congresso Olímpico de 1981 solicitou a aplicação de medidas como, por exemplo, a suspensão permanente para todos que incorressem na utilização de substâncias proibidas e surgeriu a necessidade da realização de controle de dopagem fora da competição.

Foi precisamente no ano de 1985 que essa comissão novamente se pronunciou para solicitar a realização de controles de surpresa em competições e durante as sessões de treinamento. Também insistiu na necessidade de melhorar o acesso dos atletas às informações com o intuito de educálos melhor a respeito do doping. Mais uma vez foi solicitada a suspensão permanente daqueles que não cumprissem as regras de proibição do uso das substâncias listadas.

Outra ação interessante dessa comissão foi a solicitação, em 1988, de maior cooperação das federações esportivas internacionais para enfrentar com mais rigor a luta contra o doping e realizar maiores esforços nos controles durante os treinamentos.

É importante ressaltar que, nesse ano, foi publicada a Declaração de Seul, na mesma Vila Olímpica onde se manifestou a solicitação de apoio total à Carta Olímpica Antidoping e apoio ao desenvolvimento internacional dos controles sem aviso em competições e treinamentos. Além disso, foi solicitado um estudo aprofundado de todos os casos detectados de doping como meio para esclarecer a participação de novos elementos e fortalecer um bom programa educativo como prevenção de doping.

Essa comissão tem, desde então, participado de todos os jogos olímpicos e tem assumido uma posição educativa importante, com a distribuição de material informativo para os atletas, mostrando também seus princípios de trabalho e apoiando a política do COI contra o doping.

Durante a 96ª sessão do COI, em Seul, foi oficialmente proposta a elaboração da Carta Internacional Olímpica Antidoping no esporte, reeditada durante a Primeira Conferência Mundial Permanente sobre Antidoping, realizada em Otawa, no Canadá, de 26 a 29 de junho de 1987.

 

Nos marcos da realização dessa conferência,criou-se o Grupo Internacional de Trabalho (IWG), integrado por destacadas personalidades da luta contra o doping. Esse grupo definiu quatro linhas de ação:

- Desenvolvimento de importantes anexos em apoio à Carta Olímpica contra a dopagem, disponibilizando toda informação necessária para poder levá-la a cabo.

- Elaboração de uma estratégia para a aplicação internacional do conteúdo da carta.

- Levar a cabo a organização e a elaboração do conteúdo da II Conferência Internacional Permanente sobre o Antidoping no esporte.

- Atuar como um meio de intercâmbio de informação e de agrupamento de novas sugestões para a próxima campanha global Antidoping.

 

Foi a partir dessa reunião que outras foram convocadas, a segunda em Moscou, em 1989, e a terceira na Noruega, em 1991. Tudo isso foi colaborando para consolidar a política do COI e do mundo todo na luta contra o doping, o que favoreceu a criação da Agência Mundial Antidoping.

Como parte de uma estratégia do COI, a Subcomissão de doping e Bioquímica do Esporte da sua Comissão Médica trabalhou séria e arduamente, realizando reuniões anuais com os chefes dos diferentes laboratórios de controle de doping credenciados pelo COI. Todos os simpósios anuais tinham como tema central a discussão de trabalhos relacionados com as substâncias e métodos proibidos, entre outros aspectos de interesse.

A Comissão Médica do COI, no ano de 1991, tinha credenciado 21 laboratórios para o controle do doping, 14 na Europa, três na Ásia, dois nos Estados Unidos e um no Canadá.

Atualmente, o COI conta com 31 laboratórios credenciados, o que facilita cada vez mais o trabalho na luta contra o doping.

Em 1989, a Comissão Executiva do COI decidiu formar uma comissão independente, a qual foi denominada Comissão Internacional Antidoping, integrada por representantes de diferentes federações esportivas internacionais, comitês olímpicos nacionais, entre outros organismos do esporte de diferentes países, autoridades esportivas governamentais, bem como pela Comissão Médica do COI e pela Comissão de Atletas do COI.

Com a criação da Agência Mundial Antidoping (WADA), foi possível lançar uma forte e agressiva política de combate ao doping, contando com o apoio de importantes federações e organizações, desenvolvendo um trabalho sério em conjunto com o COI. As escandalosas situações de doping nas conhecidas voltas da França (Tours de France) de ciclismo aceleraram notavelmente a transferência de recursos por parte do COI para o trabalho dessa agência.

A WADA, em conjunto com o COI, elaborou a lista de substâncias e métodos proibidos durante o ano de 2003. Já a partir de 2004, assume a responsabilidade da elaboração das listas e sua publicação, assim como as tarefas de credenciamento de novos laboratórios e tudo o mais relacionado à política de doping.

 

Particularidades da agência mundial Antidoping

A WADA foi estabelecida oficialmente no dia 10 de novembro de 1999, na cidade de Lausane, na Suíça. Sua criação foi promovida por iniciativa do COI.

Como mencionado anteriormente, sua criação ocorreu na I Conferência Permanente sobre Antidoping, em Otawa, no Canadá, em 1988, dirigida pelo príncipe Alexander de Mérode e pelo Ministro dos Esportes canadense.

Posteriormente, no ano de 1989, no II Congresso Mundial realizado em Moscou, foram definidas as bases para a criação, 10 anos depois, da atual Agência Mundial Antidoping.

Em 2001, a Agência trocou de sede, indo para a cidade de Montreal, no Canadá. Desde o início, sempre foi apoiada pelo COI e por todas as federações esportivas internacionais, organizações intergovernamentais, governos de diferentes estados, importantes autoridades públicas, entre outras instituições e autoridades privadas.

É interessante explicar que o Comitê Executivo dessa organização é formado por 11 membros encabeçados pelo seu presidente, Richard W. Pound, membro do COI e também presidente da Fundação WADA. Os demais são cinco membros do Movimento Olímpico, incluindo o presidente da Comissão Médica do COI, e cinco importantes autoridades públicas. A Fundação WADA é integrada por 37 membros, encabeçada por seu presidente, Sr. Pound, tendo como diretor geral David Howman.

A Fundação WADA também está representada por membros do COI, membros dos comitês olímpicos nacionais, representantes das federações esportivas internacionais de verão e de inverno, assim como por representantes das federações esportivas internacionais não recomendadas a participar nos Jogos Olímpicos, atletas que representam o COI e também por representantes da Federação Internacional de Atletas Olímpicos, todos eles representando o Movimento Olímpico Internacional.

Cabe ressaltar que o presidente do Comitê Olímpico Internacional, desde 2001, é Jacque Rogge, que, junto com todo o seu comitê executivo e com a Comissão Médica do COI, tem desempenhado um importante papel no desenvolvimento alcançado pela WADA na atualidade.

 

No ano de 1989, com a realização, em Moscou, do Congresso Mundial de doping, o príncipe Alexander de Mérode expôs uma importante proposta que fixava as seis principais linhas ou objetivos de trabalho para aquele momento na batalha contra o doping:

- Determinar o perfil de esteróides na urina dos atletas, trabalho dirigido por Manfred Donike, na ocasião diretor do Laboratório de Controle de doping da Cidade de Colônia, na Alemanha, e chefe da Subcomissão de doping e Bioquímicos da Comissão Médica do COI.

- Desmascaramento do chamado “doping indetectável”, em que se encontrava, naquele momento, a gonadotropina coriônica.

- Trabalho de educação e informação sobre o doping.

- Criação de um laboratório “móvel” de doping para o controle de programas para teste sem aviso prévio.

- Criação de uma comissão internacional Antidoping, a qual seria encarregada de determinar e aplicar procedimentos de forma uniforme na política de sansões e na elaboração de programas de controle fora das competições.

- Colocar em prática a proposta da comissão de atletas do COI para conscientizar os atletas de alto nível sobre a importância da realização voluntária de exames Antidoping.

 

De todas as linhas de trabalho anteriores, a única não citada foi a de estabelecimento de laboratórios móveis para testes realizados sem aviso prévio.

Convém destacar que a WADA, desde sua fundação, tem trabalhado sobre sólidas bases científicas e com um alto espírito negociador, tanto social como político, finalizando, assim, em 2003, a redação da primeira versão do Código Mundial Antidoping, o qual será submetido a vários passos, a partir do ano de 2004, até sua apresentação, na Conferência Geral da Unesco, em 2005, em que finalmente será submetido à aprovação antes dos Jogos Olímpicos de Inverno em Turim de 2006.

Essa proposta tem um enorme significado, considerando-se que é o primeiro documento buscando harmonizar os mecanismos de controle Antidoping no esporte, englobando todas as modalidades esportivas e países. Esse documento permitirá a realização de um trabalho em conjunto de todas as autoridades públicas e organizações esportivas, atuando sobre todas as regulamentações, resoluções e futuras projeções no interesse do trabalho Antidoping em nível mundial.

A partir da importância do trabalho desempenhado pela WADA, cabe destacar que, somente nos dois primeiros anos da sua fundação, a instituição recebeu do Comitê Olímpico em torno de 25 milhões de dólares.

O Código da WADA agrupa um conjunto de elementos muito importantes, que englobam desde a lista de substâncias e métodos proibidos, as formas de controle, as vias para credenciamento e funcionamento dos laboratórios de controle de doping até, por exemplo, a regulamentação do uso de medicamentos de utilização excepcional (TUE).

Essa organização reserva-se o direito de ter a decisão final sobre certos medicamentos em casos excepcionais de atletas com patologias muito específicas.

Em relação à política de sanções, essa organização manifesta-se firmemente contrária àqueles que violam as regras estabelecidas. A proposta é avaliar de forma personalizada cada caso, analisando com cuidado o tipo de violação cometida, as circunstâncias que envolveram o atleta, o tipo de substância encontrada ou método utilizado, a quantidade, o número de vezes que ocorreu, entre outros aspectos relevantes.

As sanções podem ir de três meses até dois anos se for a primeira vez do atleta. Em casos extremos, em que ficam demonstrados o consumo e o tráfico de substâncias proibidas, as sanções podem ser de quatro anos ou chegar inclusive à vida toda do atleta. Em caso de reincidência, a sanção também será o afastamento definitivo do atleta do mundo do esporte de alto nível.

 

Considerando tudo que foi analisado até o momento, o Código da Agência Internacional Antidoping tem as seguintes tarefas:

- Preparação e revisão anual da Lista de Substâncias e Métodos Proibidos.

- Credenciamento de novos laboratórios para o controle do doping, garantindo o nível científico daqueles credenciados anteriormente.

- Implantação de um sistema computadorizado para o controle dos testes em nível mundial e para cada país.

 

A Agência Mundial Antidoping recebe, como comentamos, um suporte financeiro especial do Movimento Olímpico e das autoridades públicas, revertido, para realização de controles durante as competições e fora delas, em importantes programas de educação, em pesquisas, entre outros aspectos de interesse.

 

Essa organização tem traçado um plano estratégico que engloba atividades até 2009, dirigido a quatro áreas principais:

- Código da WADA: sua criação, fortalecimento e aprimoramento constante para aplicação em nível mundial.

- Educação: nivelar para todos os países, federações, organizações esportivas, etc., informações que evitem a utilização de meios errados para a melhora da performance e dos resultados esportivos, procurando conscientizar cada vez mais atletas, técnicos esportivos, médicos, federativos e pesquisadores do esporte acerca da necessidade de lutar por um esporte mais limpo e ético.

- Investigações: procurar aplicar cada vez mais a ciência e seus avanços na busca das substâncias proibidas, melhorando também alguns procedimentos atuais aplicados e seguindo de perto os atuais avanços genéticos.

- Capacitação: procurar elevar o nível de todos aqueles que trabalham no controle do doping, tanto em nível de agência como em nível de federações esportivas e organizações internacionais, observando, bem de perto, o funcionamento do Conselho Nacional Antidoping de cada país e o rigor dos laboratórios de controle de doping credenciados em nível mundial.

 

Posicionamento da WADA em relação à utilização de suplementos nutricionais no esporte

A Agência Mundial Antidoping argumenta aos atletas de elite que o rendimento esportivo e a longevidade atlética somente são alcançados com uma nutrição balanceada e saudável, um adequado regime de treinamento, competição e recuperação e com boas condições de saúde.

A WADA enfatiza que não existem evidências científicas que demonstrem benefícios significativos dos suplementos nutricionais para melhorar a performance.

Dessa forma, fica claro que, ao mencionar a definição de suplementos nutricionais, ficam excluídas de sua composição quaisquer substâncias proibidas.

Para maiores informações consulte o site da Agência Mundial Antidoping: www.wada-ama.org, em que se pode aprofundar aspectos de maior interesse.

Graças às ações dessa agência e a partir da direção de profissionais de excelência serão dados passos importantes na busca de resultados significativos no esporte de alto nível, com a participação de atletas saudáveis e bem-treinados, carregando a bandeira do “jogo limpo”, oferecendo ao mundo um lindo espetáculo. Esses atletas serão portadores de mensagens de esforço, de tenacidade e valentia, como uma bela homenagem à paz, tão frágil em nossos dias.

Pode-se considerar igualmente como violação e, portanto, como dopagem, a atitude do atleta ao recusar uma solicitação de exame sem uma justificativa válida, ou por não estar disponível para esses controles em períodos fora de competição, ou, evidentemente, por portar substâncias proibidas ou traficar qualquer uma delas, como também por administrar ou tentar administrar qualquer substância ou método proibido a um atleta.

Atualmente, a ação do COI e da WADA, além de garantir a validade dos resultados esportivos, é fortemente orientada à preservação da saúde dos atletas.

 

Tipos de controle de substâncias e métodos proibidos

O doping, como comentado anteriormente, é tão antigo quanto a própria humanidade. Desde sempre o homem tenta pôr à prova e superar suas próprias capacidades físicas naturais.

Na atualidade, quando se fala de doping, faz-sereferência restrita ao uso de substâncias estimulantes e proibidas no âmbito do esporte com o objetivo de tentar superar rendimentos e melhoras na recuperação.

Juan Antonio Samaranch, na sessão do COI de Seul, Coréia do Sul, em setembro de 1988, em um fragmento de seu discurso, disse o seguinte a respeito do doping:

Assim é: o doping equivale à morte. Morte fisiológica, com alteração profunda e às vezes irreversível dos processos normais do organismo, como resultado de indesculpáveis manipulações. Morte física, como tem demonstrado em alguns casos trágicos nos últimos anos. Também morte do espírito e do intelecto, pela aceitação da fraude para alteração das potencialidades e no reconhecimento da incapacidade ou da falta de vontade para estar satisfeito consigo mesmo ou para transcender as próprias limitações. E, finalmente, morte moral, por atuar fora das normas de conduta exigidas pela sociedade humana.

Em outra parte do discurso, manifestou: “Como primeiro organismo que tem lutado contra essa praga, o Comitê Olímpico Internacional tem-se empenhado sempre emadaptar-se da melhor forma possível às condições de constantes mudanças dessa luta”.

É interessante apresentar a definição de doping estabelecida pela Comissão Médica do COI: a administração ou o uso de qualquer substância alheia ao corpo, ou de qualquer substância fisiológica em quantidades anormais ou com métodos ou vias anormais, por pessoas saudáveis, com o propósito de obter aumentos artificiais e fraudulentos de sua capacidade de execução em uma competição, que aumente artificialmente o seu rendimento esportivo.

 

Tipos de controle Antidoping existentes

Os controles podem ser feitos de forma dual, por meio análise da urina ou do sangue.

 

Existem dois tipos de controle:

- Controle em competição.

- Controle fora de competição.

 

O controle em competição é realizado logo após a competição. Nesses estudos incluem-se todas as substâncias e métodos que se encontram na lista oficial.

O controle fora de competição pode ser efetuado a qualquer momento, seja durante o treinamento do atleta antes de uma competição ou na própria residência do esportista.

É necessário esclarecer que, nos exames realizados fora de competição, são controlados somente agentes anabolizantes, hormônios peptídicos, beta-2-agonistas (clembuterol e salbutamol, quando sua concentração na urina é maior que 1.000 ng/mL), além de possíveis agentes mascarados.

Não são controlados fora de competição estimulantes, narcóticos, analgésicos e drogas sociais.

Um terceiro tipo de controle de doping pode ser realizado no sangue e de forma específica para o ciclismo e para algumas modalidades esportivas de inverno, como o esqui de fundo. Este é realizado antes da competição e é reconhecido como “controle de saúde”.

 

Substâncias e métodos proibidos

A relação de substâncias e métodos proibidos é atualizada e entra em vigor normalmente a partir de 1º de janeiro de cada ano, independentemente de poder ser modificada ao longo dele caso surjam novas substâncias ou métodos.

Ao revisar detalhadamente a documentação apresentada pela WADA para o controle de doping no ano de 2004, destacam-se importantes classificações de substâncias proibidas, que resumiremos adiante.

Consideramos oportuno definir alguns conceitos que aparecerão associados aos diferentes tipos de substâncias.

O conceito “exógeno” refere-se a substâncias que não podem ser produzidas pelo corpo humano de forma natural. Ao contrário, o termo “endógeno” é utilizado para substâncias que podem ser produzidas pelo corpo humano.

O termo “análogo” refere-se a uma substância do corpo humano derivada da modificação ou alteração da estrutura química de outra substância, contanto que mantenha o efeito farmacológico similar.

Outro termo utilizado é “mimético”, que se define como uma substância com efeitos farmacológicos similares aos de outra substância, independentemente de ter uma estrutura química diferente.

 

- Substâncias do tipo 1: Estimulantes (anfetaminas, simpaticomiméticos e drogas de abuso como a cocaína e o ecstasy).

 

Proibe-se o uso da catina quando sua concentração na urina ultrapassa os 5 mg/mL e da efedrina e da metilefedrina quando sua concentração é maior do que 10 mg/mL.

 

- Substâncias do tipo 2: Narcóticos.

 

- Substâncias do tipo 3: Canabinoides.

 

Substâncias do tipo 4: Agentes anabólicos, entre eles:

–Esteroides androgênicos anabolizantes (AAS):

- AAS exógenos.

- AAS endógenos, que necessitam de um tratamento diferenciado pelos laboratórios e pela comissão médica dos jogos.

 

Se o laboratório informa a presença de uma relação testosterona/epitestosterona (T/E) maior do que 6/1 na urina, é exigida a realização adicional de uma investigação a fim de determinar a proporção fisiológica ou fisiopatológica do atleta ou se o atleta, em última análise, é positivo para o doping.

–Outros agentes anabólicos, como o clembuterol e zeranol.

–Nesse grupo de substâncias do tipo 4, é importante levar em consideração os conceitos de exógeno, endógeno e análogo.

 

- Substâncias do tipo 5: Hormônios peptídicos.

As seguintes substâncias são proibidas, incluindo seus análogos, miméticos e fatores liberadores:

–Eritropoetina (EPO).

–Hormônio de crescimento, assim como o fator de crescimento insulina-símile (IGF-1).

–Gonadotrofina coriônica: proibida somente para o sexo masculino.

–Gonadotrofinas sintéticas e da pituitária (LH): proibidas para homens.

–Insulina.

–Corticotrofina (ACTH).

 

- Substâncias do tipo 6: Beta-2-agonistas.

É incluída aqui toda a família de beta-2-agonistas, bem como seus isômeros D e L. As substâncias formeterol, salbutamol e terbutalina são permitidas para uso inalatório nos casos de prevenção e/ou tratamento da asma e da asma induzida pelo exercício.

Para as exceções terapêuticas, é exigida uma notificação médica (Seção 8 da Norma Internacional de Exceções de uso Terapêutico da WADA).

Apesar de outorgada a TUE, quando o laboratório detecta uma concentração de salbutamol (livre, mas glicorônico) maior que 1.000 ng/mL, o resultado é considerado analítico adverso, a menos que seja bem-fundamentado pelo atleta como conseqüência do uso terapêutico.

 

- Substâncias do tipo 7: Agentes com atividade antiestrogênica, proibidos somente para o sexo masculino.

 

- Substâncias do tipo 8: Agentes mascaradores.

 

Essas substâncias têm a característica de reduzir a excreção de substâncias proibidas, ocultando, assim, sua presença na urina ou em outro tipo de amostra utilizado para o controle do doping. Além disso, possuem a capacidade de trocar os parâmetros hematológicos.

Entre esses agentes estão: diuréticos, epitestosterona, probenecid, expansores do plasma (dextrano, hidroxietilamido), entre outros.

 

- Substâncias do tipo 9: Glicocorticóides.

Essas substâncias são proibidas quando administradas por via oral, retal, intravenosa ou intramuscular. As demais vias em administração requerem uma notificação médica em conformidade com a Seção 8 da TUE, incluindo a via de infiltração interarticular.

 

- Métodos do tipo 1: baseados na transferência de oxigênio.

–doping sanguíneo: é considerado quando o atleta faz uso de sangue, homólogo ou heterólogo, ou de outros produtos dos glóbulos vermelhos, de qualquer origem, que não seja para um tratamento médico legítimo.

–Aplica-se também ao uso de produtos que aumentam a capacidade de captação, transporte e liberação de oxigênio como, por exemplo, eritropoetina e produtos da hemoglobina modificados.

 

- Métodos do tipo 2: baseados na manipulação farmacológica, química e física.

 

Nesses casos, pelo uso de substâncias e métodos – incluindo agentes mascaradores – que modificam ou tentam modificar a integridade e a validade das amostras coletadas nos controles de doping. Um exemplo é o uso de cateterização, a substituição da urina, a alteração ou substituição das provas, assim como a inibição da excreção renal e possíveis alterações nas concentrações de testosterona e epitestosterona.

 

- Métodos do tipo 3: doping genético.

Esse método mais sofisticado é definido pelo uso nãoterapêutico de genes, de elementos genéticos e/ou de células que possuam a capacidade de aumentar o rendimento do atleta.

 

Substâncias e métodos proibidos fora das competições

O controle de doping realizado fora das competições difere quanto ao tipo de substâncias proibidas.

Nesse tipo de controle são descartadas as substâncias dos grupos 1, 2, 3 e 9.

 

As substâncias avaliadas são:

- Substâncias do tipo 4: agentes anabolizantes.

- Substâncias do tipo 5: hormônios peptídicos.

- Substâncias do tipo 6: beta-2-agonistas, quando consideradas doses positivas, ou seja, concentrações de clembuterol ou salbuterol na urina superiores a 1.000 ng/mL.

- Substâncias do tipo 7: agentes com atividade antiestrogênica, somente para homens.

- Substâncias do tipo 8: agentes mascaradores.

 

Os três métodos explicados anteriormente são avaliados pelo controle de doping fora das competições, ou seja, avaliam-se a possível intensificação do transporte de oxigênio e as manipulações farmacológicas, químicas e físicas das amostras e do doping genético.

 

Controle de substâncias proibidas por esporte

A Agência Mundial Antidoping decidiu regulamentar o uso de algumas substâncias em relação às características de algumas modalidades esportivas específicas.

A seguir, apresentamos algumas das avaliações mais importantes, por tipo de substância, modalidade esportiva e nível de concentração.

A primeira, o álcool (etanol), proibido nos esportes listados adiante. A avaliação dessa substância é realizada por meio da análise alimentar ou sanguínea. O nível de violação para cada modalidade esportiva está anexo, entre parênteses. Quando não houver um valor especificado, significa que qualquer dosagem é considerada uma violação.

 

- Aeronáutica (0,20 g/L).

- Arco-e-flecha (0,10 g/L).

- Automobilismo.

- Bilhar.

- Boliche (0,50 g/L).

- Futebol.

- Ginástica (0,10 g/L).

- Caratê (0,40 g/L).

- Pentatlo moderno (0,10 g/L).

- Motociclismo.

- Patinação sobre rodas (0,02 g/L).

- Esqui.

- Triatlo (0,40 g/L).

- Luta.

 

Outras substâncias que devem ser diferenciadas por modalidade esportiva são os beta-bloqueadores.

 

A menos que seja especificado o contrário, os beta-bloqueadores são proibidos nas competições das seguintes federações esportivas:

- aeronáutica, arco-e-flecha, automobilismo, bilhar, corrida de trenó, boliche, bridge, xadrez, curling, futebol, ginástica, motociclismo, pentatlo moderno, boliche de neve, quadros, vela (somente para os timoneiros), tiro (também proibido fora da competição), salto com esqui, mergulho, nado sincronizado e luta.

 

Substâncias especificadas

Existem substâncias que aparecem em medicamentos de uso comum e que geralmente não têm marcada incidência na maioria dos resultados. Normalmente essas substâncias são utilizadas de formanão-intencional, às vezes sem conhecimento do atleta ou da sua equipe técnica.

 

O Código da WADA, Artigo 10.3, diz o seguinte:

A lista proibida pode identificar substâncias específicas que são particularmente suscetíveis a violações das regras Antidoping, de forma não-intencional, devido ao fato de se encontrarem presentes em produtos médicos, o que diminui a possibilidade de serem usadas como agentes de dopagem. Uma violação de doping que inclua algumas dessas substâncias pode trazer como resultado uma redução da sanção.

Isso significa diminuir as sanções sempre que o atleta vier a provar que o uso da substância em questão não tem de nenhuma forma o propósito de aumentar o seu rendimento esportivo.

Para informações mais detalhadas, consulte o site da WADA: www.wada-ama.org.

Para leitura em português, sugerimos o site do Conselho Nacional Antidoping do Brasil: www.cefd.pt. Consideramos importante destacar que, a partir de 2003, a cafeína e a pseudo-efedrina saíram da lista de substâncias proibidas, segundo divulgação da WADA e do COI.

 

Programa de vigilância para 2004

A WADA implantou um programa específico de vigilância dirigido a substâncias que atualmente não estão incluídas nas listas oficiais, mas que poderiam ser muito suscetíveis de uso.

Para isso, está realizando um acompanhamento que permita elaborar valores-padrão, assim como sua incidência nos resultados esportivos.

 

Incluem-se, apenas durante competições, as seguintes substâncias:

- Estimulantes: cafeína, fenilefrina, fenilpropanolamina, pipradol, pseudo-efedrina e sinefrina.

- Narcóticos: relação morfina/codeína.

 

Essa lista pode sofrer modificações, principalmente pelo avanço cada vez maior da farmacologia, da medicina e de outras ciências aplicadas ao esporte. Dessa forma, tornase imprescindível que haja uma legislação dinâmica, atual, ampla e com sólidas bases técnico-científicas.

 

Autorização para o uso terapêutico de substâncias proibidas e restritas

Neste novo item são contempladas substâncias que eventualmente possam ser incorporadas pelos atletas quando estiverem utilizando algum medicamento por razões de saúde. Um exemplo desse procedimento é o uso dessas substâncias por atletas asmáticos ou diabéticos tipo 2. Nesses casos seriam facilmente detectadas substâncias como os beta-2-agonistas (em atletas asmáticos).

Para legalizar seu uso, o médico da federação esportiva a que pertence o atleta portador de determinada patologia deve preencher um formulário oficial, preestabelecido pela própria Agência Antidoping, anexar um dossiê médico esportivo e, se possível, algum controle de doping que o atleta tenha realizado mais recentemente por algum laboratório credenciado. Todas essas informações devem ser enviadas ao Centro Nacional de doping, à Federação Esportiva a que pertence o atleta, ao Comitê Olímpico Nacional e à instituição governamental que atenda o esporte em nível nacional. Finalmente, essa informação será processada pela WADA, por meio do Comitê Médico de TUE, em que será avaliada e validada ou não a participação do atleta na competição para a qual fez a solicitação.

Esse processo administrativo é bastante extenso e requer, por parte do atleta, que seja conduzido com antecedência. Em conselhos nacionais Antidoping de alguns países, existem comissões similares à TUE, que podem deliberar a respeito. Nesse caso, somente quando ainda restar dúvida é que se consulta a TUE para uma decisão final.

A comunicação tardia do atleta ou de sua federação não será uma justificativa para que ele não seja considerado infrator de doping quando forem detectadas substâncias proibidas na amostra recolhida.

 

Efeitos das substâncias proibidas no aumento do rendimento esportivo e seus efeitos nocivos à saúde

Como citado anteriormente, o uso de substâncias estimulantes é uma prática bastante antiga para a melhora dos resultados esportivos. Essa prática foi sendo aperfeiçoada cada vez mais, de acordo com o desenvolvimento tecnológico do mundo atual.

Da mesma forma, são bem-conhecidos casos bastante graves que, além de comprometer a saúde do atleta, têm causado até mesmo mortes, sem contar os aspectos psicológicos e morais que, sem dúvida alguma, também acabam por deteriorar-se.

Não cabe duvidar que o doping vai contra o ideal olímpico de jogo limpo e da ética do esporte e da medicina. É imperativo dizer que é totalmente proibido recomendar, autorizar ou facilitar ao atleta qualquer tipo de substância com o objetivo de melhorar seu rendimento esportivo, bem como a utilização de métodos com o mesmo objetivo.

Pelo grande interesse que esse assunto desperta, exporemos os benefícios e os efeitos negativos de cada uma das substâncias, segundo a classificação da Agência Antidoping.

As substâncias do tipo 1 ou estimulantes beneficiam, sem dúvida, a performance do atleta. Elas englobam vários tipos de substâncias que contribuem para reduzir a fadiga e aumentar a atenção. Podem favorecer a competitividade e a agressividade, tão comuns no esporte.

Em doses elevadas, por exemplo, as aminas simpaticomiméticas (como a efedrina) podem favorecer a circulação sanguínea, aumentando, conseqüentemente, o débito cardíaco (FC x PAS). Essas substâncias podem ser consideradas também estimulantes mentais.

Podemos observar altos níveis de agressividade, inclusive agressão aos competidores rivais e até mesmo aos seus próprios companheiros de equipe em modalidades de esportes coletivos. Em certos casos, o uso de algumas substâncias pode causar confusão mental, como é o caso da cocaína.

As aminas simpaticomiméticas podem causar taquicardias eextra-sístoles graves, hipertensão arterial, ansiedade, tremores e enxaquecas. Lamentavelmente, existem registros de óbitos de atletas por uso excessivo dessas substâncias.

O uso de cocaína e ecstasy pode levar o indivíduo à dependência e até mesmo à morte por uso excessivo, causando hemorragia cerebral. A cocaína causa danos irreversíveis em órgãos como o coração, o cérebro e o fígado. O consumo alcoólico e os efeitos da nicotina podem aumentar sua incidência.

As substâncias do tipo 2 ou narcóticos podem ser benéficas no alívio temporário de algumas dores moderadas ou intensas que os atletas podem apresentar quando tensionados. Podem ser nocivas para a saúde, dependendo da dosagem e da resposta individual de cada atleta. Há um risco elevado de dependência física e psicológica.

A morfina, por exemplo, em doses elevadas, pode causar depressão respiratória seguida de parada, levando o indivíduo à morte. Ante dores, o atleta deve ser impedido de competir, evitando, dessa forma, levar a lesão a um estado crônico irreversível.

As substâncias do tipo 3, os canabinóides, podem trazer benefícios ao atleta por redução da fadiga e aumento da competitividade e da agressividade esportiva. Por outro lado, têm efeitos extremamente deletérios, pois causam sensações de confusão e grave falta de coordenação quando administradas em doses elevadas. Com o tempo, podem levar à dependência química.

Dentre as substâncias do tipo 4, os agentes anabólicos favorecem o aumento da massa muscular e do rendimento esportivo. Colaboram também na potencialização da intensidade do treinamento e sua duração, aumentando marcadamente as capacidades funcionais de força e velocidade.

O anabólico tem a capacidade de aumentar a síntese protéica, inibindo os efeitos catabólicos (cortisol elevado) produzidos após treinamentos muito intensos ou longos.

É capaz, também, de produzir aumento da agressividade. Ao analisar os efeitos nocivos do uso dessas substâncias, pode-se inferir que, quando usadas em atletas adolescentes, causam inibição do crescimento pelo fechamento prematuro das epífises ósseas dos ossos longos.

Em nível cardiovascular, os efeitos nocivos são bastante importantes. O uso dessas substâncias favorece a hipertensão arterial e aumenta fatores de risco cardiovasculares, não só pela hipertensão, mas também pelo aumento do colesterol total e pela queda do HDL-C.

Sua administração pode produzir lesões hepáticas que levem, em um estágio mais avançado, à cirrose hepática e ao aparecimento de tumores hepáticos.

Pode atuar negativamente sobre o comportamento dos indivíduos, causando irritabilidade e agressividade, tornando-os indesejáveis à sociedade. Os anabólicos podem causar dependência, tendo sido reportados casos de suicídio e de atos criminosos.

Para o sexo masculino, a utilização prolongada de anabólicos pode causar redução do tamanho dos testículos e menor produção de esperma. Além disso, existe a possibilidade de causar impotência sexual e ginecomastia, em função da diminuição da produção dos hormônios FSH e LH, acompanhada da queda na produção de testosterona. Algumas das substâncias utilizadas são metabolizadas como estrógenos.

No sexo feminino ocorrem masculinização e aumento inevitável da massa muscular e do peso. Masculinização também da voz, com aparecimento de acne, crescimento e distribuição de pêlos corporais e supressão da função ovariana e da menstruação.

Diferentes investigações realizadas reportam uma diminuição dos níveis circulantes de LH, FSH, estrógeno e progesterona.

A suspensão do uso de anabólicos pode fazer o atleta voltar à vida normal e ao esporte sem danos crônicos. No entanto, em alguns casos, pode ser tarde demais.

Nas substâncias do tipo 5, hormônios peptídicos, são incluídos os hormônios de crescimento e o fator de crescimento à insulina-símile, a insulina, a gonadotropina coriônica (em homens) e as gonadotrofinas sintéticas e da pituitária (LH), proibidas para homens, que aceleram a produção de esteróides andrógenos e têm equivalência à testosterona exógena, apresentando benefícios similares aos das substâncias anabolizantes.

A eritropoetina aumenta a quantidade de glóbulos vermelhos e de hemoglobina, o que favorece a captação e o transporte de oxigênio, melhorando, assim, o rendimento esportivo e favorecendo a recuperação do atleta, sobretudo em modalidades de resistência.

A eritropoetina provoca aumentos na viscosidade do sangue por policitemia e hipertensão arterial, podendo levar à morte súbita por infarto cardíaco ou acidente vascular cerebral de caráter hemorrágico, como tem ocorrido de forma repetida com ciclistas.

A corticotrofina favorece o aumento dos níveis sanguíneos de corticóides endógenos, com o particular objetivo de obter efeitos eufóricos e antiinflamatórios.

A administração de ACTH tem um efeito equivalente à aplicação oral, retal, intramuscular e endovenosa de corticóides.

Quando avaliamos o possível caráter nocivo do hormônio do crescimento, do fator de crescimento, da insulina e da gonadotropina e os seus análogos, concluímos que podem produzir efeitos muito semelhantes aos dos agentes anabólicos. O hormônio do crescimento pode produzir efeito diabetogênico, acromegalia, reações alérgicas e efeitos lipoprotéicos, liberando grande quantidade de ácidos graxos no sangue, sendo este um aspecto bastante nocivo para a saúde. O uso de insulina é hipoglicemiante.

Quando nos referimos aos efeitos nocivos do ACTH ao liberar corticóide, devemos citar os efeitos sobre a hipertensão arterial, retenção de líquidos, falsa síndrome de Cushing e hiperglicemia.

O ACTH também pode elevar os níveis de cortisol, acelerando os processos catabólicos. Se, ao contrário, atua de maneira contida, pode causar uma série de efeitos imunossupressores.

As substâncias do tipo 6, beta-2-agonistas, podem ter efeitos anabolizantes em atletas, principalmente no caso do uso de clembuterol e zeranol. Um excesso de salbutamol e terbutalina pode aumentar a frequência cardíaca e respiratória, efeito que o atleta pode usar a seu favor.

Para atletas que têm asma ou asma induzida pelo exercício, é permitido para tratamento médico o uso de salbutamol, formoterol, salmeterol e terbutalina, via inalatória, com efeitos bastante positivos. Lembramos que, para esses casos, como citado anteriormente, há necessidade de notificação médica. Também é preciso ter cuidado para que as doses não ultrapassem os limites de concentração estabelecidos.

Essas substâncias também têm efeitos nocivos para os atletas. No caso do clembuterol e do zeranol, quando são utilizadas com freqüência, produzem efeitos similares aos dos agentes anabolizantes. As demais substâncias desse grupo podem causar taquicardias,extra-sístoles e dependência.

As substâncias do tipo 7, agentes com atividade antiestrogênica, apenas são consideradas doping quando administradas para atletas do sexo masculino. Possuem ação anabólica secundária, similar aos agentes anabolizantes.

Por isso, quando analisamos os efeitos negativos sobre a saúde do atleta, observamos que podem produzir efeitos nocivos semelhantes aos produzidos pelos anabólicos e, em particular, um desequilíbrio hormonal que tende a aumentar o risco de problemas cardiovasculares e osteoporose.

As substâncias do tipo 8, conhecidas como agentes mascaradores, têm uma ação maior, reduzindo significativamente a excreção de substâncias proibidas, ocultando sua presença na urina ou em outras amostras. Isso, para o atleta que decide utilizar o doping como uma forma de melhorar seu rendimento, é bastante interessante, pois lhe dá mais garantia de não ser descoberto. Essas substâncias também podem mascarar alguns parâmetros hematológicos.

Detalhando um pouco mais, os diuréticos mascaram as principais substâncias proibidas, em particular as substâncias dos grupos 1, 4, 5 e 7, permitindo que os efeitos se desencadeiem e passem despercebidos pela análise da amostra coletada. O probenecid, por sua vez, oculta agentes anabólicos, potencializando, inclusive, a ação dos anabólicos esteróides.

Outra substância mascaradora é a epitestosterona, que contribui como substância doping de 6/1, possibilitando a ação das substâncias do tipo 4, algumas do tipo 5 e as substâncias do tipo 7 com seus efeitos anabolizantes dentro do esporte.

Os expansores do plasma colaboram na troca da relação dos parâmetros hematológicos e em ocultar a administração da EPO e seus efeitos sobre a captação e o transporte de oxigênio.

Em contrapartida, seu efeito mascarador pode ser nocivo à saúde do atleta, impedindo que substâncias que estejam atuando de forma prejudicial sejam detectadas.

É importante ressaltar que o uso indiscriminado de diuréticos produz uma diminuição do peso à custa de líquido corporal, desencadeando um desequilíbrio hidromineral bastante prejudicial ao atleta na hora de competir.

As substâncias do tipo 9, os glicocorticóides, oferecem “benefícios” similares aos oferecidos pelo ACTH e, portanto, sua ação nociva para a saúde também é bastante semelhante às mencionadas para essa substância.

Consideramos importante fazer referência aos supostos benefícios das substâncias que citamos para alguns esportes em particular. Entre elas estão o álcool, os beta-bloqueadores e os diuréticos.

O álcool estimula a liberação de catecolaminas, que têm uma ação estimulante, o que também leva ao aumento da FC, da PA e do débito cardíaco, além de proporcionar euforia e agressividade. Alguma dessas ações podem beneficiar o melhoramento dos resultados esportivos em algumas modalidades.

Sem dúvida, o consumo excessivo de álcool traz graves conseqüências. Com o tempo, pode causar hipertensão arterial, resistência à insulina, diabete, cirrose, insuficiência renal e doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.

Os beta-bloqueadores, em algumas modalidades esportivas, podem favorecer o atleta. Como exemplo, temos o tiro esportivo, arco-e-flecha, boliche, entre outros. Os betabloqueadores diminuem os batimentos cardíacos, contribuindo para o aumento da precisão tanto para a pontaria quanto para os lançamentos.

São medicamentos muito utilizados como hipotensores e para o controle da arritmia cardíaca, porém, mesmo no caso de atletas com esses problemas, não poderiam ser utilizados de nenhuma forma, considerando que não são aceitos pela Agência Antidoping.

Os beta-bloqueadores podem ser bastante nocivos para a saúde do atleta, já que produzem hipotensão e baixo gasto cardiovascular, além de uma queda do VO2máx e do débito cardíaco durante o exercício, parâmetros muito importantes para a maioria dos esportes.

Sua utilização prolongada pode causar resistência à insulina, aumento do colesterol total e dos triglicerídeos e queda do HDL-C.

Quanto aos diuréticos, seu papel é colaborar para a diminuição de peso corporal, o que permite a atletas de determinadas modalidades competir em uma categoria de peso inferior ao seu; em algumas situações, até duas vezes menos o seu peso.

O uso excessivo dessa substância vem acompanhado de um desequilíbrio hidromineral bastante prejudicial ao atleta, pois pode causar uma queda do seu rendimento esportivo, afetando também a velocidade, a coordenação, a força e a resistência durante a competição, produzindo uma hipotensão marcada. Quando usada de forma contínua, pode elevar os níveis de colesterol e a glicemia e, como conseqüência, baixar os níveis de HDL-C.

Todas as substâncias utilizadas como doping para melhorar o rendimento esportivo e a recuperação do atleta têm um forte lado negativo que incide diretamente, de forma desfavorável, sobre a saúde do indivíduo.

Neste capítulo, desejamos modestamente colaborar com a educação de todos os profissionais que de uma forma ou de outra tenham uma relação com o mundo esportivo. Apoiamos os objetivos e as tarefas traçadas pelo COI para a aquisição de resultados esportivos verdadeiros, derivados do esforço e da vontade de cada atleta, livre de elementos que os distorçam e que empobreçam a vida física e mental dos esportistas.

 

Laboratórios de controle de doping

Os laboratórios constituem um elemento de vital importância para a árdua tarefa de controle do doping. Para que sejam validados, têm que reunir uma série de condições de localização, equipamento técnico, profissionais altamente qualificados, etc., que permitam uma avaliação de alta qualidade das amostras coletadas. Para isso, os organismos internacionais competentes encabeçados pelo COI e, agora, respaldados pela Agência Mundial Antidoping têm criado mecanismos para levar adiante um processo competente de credenciamento dos laboratórios, sem o que não poderiam ser autorizados a realizar suas funções.

Os laboratórios são normatizados a partir de características específicas, fixando-se área mínima, equipamentos necessários, parâmetros de organização, documentação necessária, tipos e volumes de provas a serem realizadas, classificação curricular dos funcionários, suporte financeiro, entre outros aspectos. Tudo isso perfaz um limite mínimo requerido de condições para a habilitação dos laboratórios para operação no controle do doping.

O processo de credenciamento é longo e oneroso. Um laboratório pode levar anos para receber a autorização da WADA para seu funcionamento. Os detalhes desse processo não serão discutidos neste capítulo.

Além dos elementos mencionados, é importante que se tenha toda a documentação de referência necessária para a interpretação fidedigna dos resultados, elemento vital para a qualidade das avaliações. É importante também contar com os padrões relativos aos valores mínimos requeridos das concentrações estabelecidas para cada uma das substâncias encontradas no organismo, permitindo diferenciar os valores normais endógenos das administrações exógenas das substâncias e métodos proibidos. Sem esses padrões, o trabalho do laboratório torna-se inviável.

O tamanho mínimo de um laboratório de doping deve ser de 300 m2, embora especialistas opinem que um laboratório deve possuir no mínimo 500 m2 para seu melhor funcionamento.

 

A quantidade e os tipos de equipamentos são especificados para a viabilidade do funcionamentos desses laboratórios. Entre eles:

- Sistema de purificação de água.

- Evaporador.

- Balança analítica de precisão (0,0001 g).

- Balança analítica de precisão (0,1 g).

- Centrífuga.

- Medidor de pH.

- pH.

- Espectrofotômetro.

- Cromatógrafo a gás.

- Cromatógrafo líquido de alta precisão.

- Espectometria de massa em combinação com cromatógrafo a gás (2 ou 3).

- Espectômetro de massa de alta resolução ou equipamento de imunoensaio.

- Computadores para o controle administrativo das amostras.

- Espectometria de massa para isótopos.

- Eletroforese para EPO.

 

Tais equipamentos são bastante caros, e a maior parte pode ser usada para todos os grupos de substâncias a serem analisadas, com exceção dos espectômetros de massa para isótopos e de massa de alta resolução, que se utilizam para análise de esteróides anabolizantes, e do equipamento de eletroforese, que se utiliza para analisar EPO.

Utilizam-se basicamente os cromatógrafos de gases e espectrofotômetros de massa para a revisão das amostras, passando ainda pelo equipamento de espectrofotometria de massa de alta resolução na rotina de anabólicos. Este último foi incorporado depois dos Jogos de Atlanta, garantindo uma alta sensibilidade para estudos de anabólicos, na ordem de nanogramas.

Nos Jogos de Sydney, incorporou-se a razão isotópica do carbono, o que permitiu diagnosticar eficazmente o hormônio testosterona de origem exógena.

Além dos equipamentos, é essencial que o local tenha condições perfeitas de refrigeração para que as amostras sejam adequadamente conservadas. Além disso, são necessários equipamentos de emergência ante a possibilidade de danos por pane elétrica.

Para o leitor que desejar aprofundar seu conhecimento sobre as técnicas analíticas dos diferentes procedimentos de análise, sugerimos consultar Jordi Segura e colaboradores (2000).

Entre os aspectos de organização a serem ressaltados, independentemente dos locais que devem ser habilitados para cada um dos trabalhos a serem efetuados, é extremamente necessário cumprir com os princípios da divisão restrita de funções, de tal maneira que possam serbem-delimitadas as funções de recepção das amostras, distribuição e processo de análise e confirmação dos resultados. Isso é de vital importância para garantir a coerência disciplinar que um laboratório desse tipo exige.

 

Pode-se definir como divisão mínima de áreas de trabalho para facilitar o desempenho do laboratório:

- Área de recepção das amostras.

- Laboratório de informática.

- Laboratórios químicos para a preparação das provas (dois ou mais locais).

- Laboratório instrumental para estudo analítico (dois ou mais locais).

- Armazém de refrigeração.

- Local para vidraria e reagentes.

- Local de reunião.

- Sala para o diretor.

- Área de controle de qualidade.

 

Todas as áreas desse complexo devem ser devidamente climatizadas e dispor de equipamentos de comunicação básicos, equipes de oficina e um mobiliário apropriado de acordo com as exigências.

Insistimos novamente na importância de ter um bom armazenamento de amostras, dispondo de locais refrigerados, de acordo com as normas estabelecidas, incluindo a separação das amostras por diferentes tipos, dependendo também do tempo de armazenagem necessária, conforme estabelecido pelas normas. Por exemplo, devem-se armazenar separadamente frascos B que correspondam a amostras A negativas e, em outro local, deve ser feita a armazenagem de frascos B de amostras A que durante a análise presumível mostraram algum resultado positivo.

Como se pode observar, existem requisitos imprescindíveis que devem ser cumpridos e sem os quais não é possível obter um funcionamento com qualidade para laboratórios de controle de doping.

Atualmente, a WADA solicita também que se mantenham congeladas todas as amostras B de urina e as A/B de EPO em sangue.

Todas as amostras são enviadas ao laboratório credenciado por meio de um sistema seguro de transporte por correio.

Atualmente, a WADA tem a responsabilidade de assegurar a veracidade de toda a documentação técnica necessária para a detecção de substâncias proibidas, facilitando o uso das listas oficiais com os valores padronizados para avaliação dos níveis de concentração de cada tipo de substância.

Em relação aos profissionais convidados a trabalhar em um laboratório de doping, não há dúvidas quanto à necessidade de uma história curricular que os habilite a realizar funções altamente específicas, contando, para isso, com um treinamento adequado.

Para os técnicos são indispensáveis conhecimentos de bioquímica analítica, análise de material biológico, análise de fármacos, elementos tóxicos, entre outros.

Um aspecto importante a ser considerado, por exigência de trabalho desses centros, é a necessidade freqüente de requalificação profissional de acordo com os avanços da ciência nessa área.

O número mínimo de profissionais para compor esses centros é em torno de 9 ou 10 pessoas, entre as quais são incluídos o diretor, os responsáveis científicos pelos diferentes procedimentos, os técnicos auxiliares e o pessoal da Unidade de Controle de Qualidade (UCQ).

A UCQ é um grupo extremamente importante dentro do laboratório, pois é encarregada de revisar todos os procedimentos aplicados, a qualidade e a certificação final dos resultados obtidos durante todo o processo de análise. É responsável também pela qualidade das técnicas analíticas utilizadas, a fim de garantir a efetividade e a segurança dos resultados informados.

Cabe ressaltar que, dependendo da quantidade e da qualidade técnica do equipamento disponível, pode ser realizado maior ou menor número de análises de provas.

Seu aproveitamento técnico varia consideravelmente, levando em consideração que existem períodos de maior número de competições que outros, dependendo das programações dos campeonatos nacionais, regionais ou mundiais, que, às vezes, causam muito trabalho para os laboratórios. Para essas ocasiões, os profissionais dos laboratórios devem ser treinados e perfeitamente preparados.

As amostras analisadas podem variar de um número pequeno por dia até mais de cem amostras diárias para análise. O tempo também é um fator a ser considerado, pois o laboratório deve ter bem-delineado o tempo que necessita para poder informar os resultados a partir da chegada das amostras, dependendo da quantidade.

Um aspecto importante dentro da temática dos laboratórios de doping é o processo de credenciamento.

Esse processo minuciosamente cuidado e demorado envolve um grande número de organizações e personalidades reconhecidas nesse campo.

Existem atualmente 31 laboratórios de controle credenciados em todo o mundo. Dada a complexidade das análises e todo o processo que envolve uma certificação final de doping, por serem certificações tão complexas, que atingem seres humanos e múltiplas organizações em todo o mundo, é fundamental que haja uma garantia total de qualidade de trabalho para que se autorize a realização desses controles.

Um dos requisitos solicitados a um laboratório analítico para ser credenciado pelos organismos responsáveis é que possa ser capaz de detectar e identificar todas as substâncias listadas oficialmente pela WADA.

Dentro desse complexo processo de credenciamento,mede-se a qualidade do laboratório com uma análise de grupos de amostras distribuídas em um certo intervalo de tempo, geralmente de 6 a 12 meses, e após a análise de novas amostras, diante de especialistas designados pelo organismo em questão. Dentro dessas amostras poderão estar algumas livres de drogas, os chamados “brancos”, assim como algumas que contenham até três substâncias classificadas como proibidas. Este último informe deve ser processado e divulgado no tempo estipulado pelo organismo encarregado pela avaliação para credenciamento.

Uma vez credenciado o laboratório, os organismos competentes, como a Agência Mundial Antidoping, têm a responsabilidade de realizar avaliações periódicas que permitam manter a certificação outorgada, zelando sistematicamente pela qualidade e pelo nível científico dos procedimentos aplicados.

Esses processos avaliativos são reconhecidos como processos de recadastramento e provas de eficiência que, na realidade, são controles de qualidade externos. Para isso são indicadas análises de um número determinado de provas dentro de um tempo limite estabelecido. Além de se adaptarem às inspeções físicas, fazendo verificações in situ, os requisitos de organização, manutenção de equipamentos de alta tecnologia, medidas de segurança, entre outros aspectos, podem ser de interesse para a comissão designada.

As chamadas provas de eficiência, como diz o nome, permitem avaliar continuamente a qualidade de trabalho do laboratório. Para isso, é enviado periodicamente – por exemplo, a cada quatro meses – um número determinado de amostras de urina que devem ser analisadas em um prazo determinado e cujo resultado deve ser enviado para a comissão de avaliação designada pela WADA.

A continuidade do credenciamento é correspondente à qualidade dos resultados, de tal forma que um falso-positivo informado será causa definitiva para a suspensão do credenciamento. Se 100% das amostras coincidirem, indubitavelmente se corrobora o credenciamento outorgado. Por outro lado, se os resultados corretos estiverem abaixo de 80%, isso implicará um novo processo de avaliação, podendo inclusive causar a perda total ou temporária do credenciamento, ou a suspensão da detecção de uma determinada substância proibida, como ocorreu com o laboratório da Coréia do Sul, que foi descredenciado para realizar análises de anabolizantes. Atualmente, a WADA trabalha no aperfeiçoamento de todas essas definições.

A perda do credenciamento dos laboratórios também é um processo complexo. Depende de a comissão avaliadora designada decidir se o laboratório fica isento de realizar qualquer atividade de controle de doping em nível internacional, nem mesmo para controle de amostras A positivas para determinadas substâncias, ou se fica em uma fase em que não possa realizar a confirmação de nenhuma amostra A positiva de competição. De qualquer forma, fica suspensa sua atuação enquanto espera uma autorização de reavaliação ou de um critério de exclusão temporária de credenciamento.

Outro aspecto relevante em relação ao credenciamento dos laboratórios de doping é o processo de “credenciamento temporário”. Isso ocorre, por exemplo, quando um país que será sede de algum evento esportivo de magnitude pede autorização para o seu credenciamento temporário, já que dispõe da tecnologia necessária e de profissionais qualificados, mas por diferentes motivos não tenha podido pedir o credenciamento a tempo. Outro fato que pode ocorrer é o país ter a sua disposição equipamentos de um laboratório de outro país.

Sendo assim, deve ficar clara a necessidade de realizar com antecedência todos esses trâmites para que, após um rigoroso processo de avaliação, seja outorgado o credenciamento temporário solicitado, sendo o chefe do laboratório o responsável máximo pela qualidade e pelos resultados obtidos.

Para os Jogos de Havana de 1991, foi credenciado, temporariamente, um laboratório de controle de doping que contou com o apoio do Centro Nacional de Investigações Científicas de Cuba, o qual disponibilizou uma magnífica infra-estrutura, assim como excelentes profissionais, que foram previamente treinados nos laboratórios de Colônia, Barcelona, Madri e Montreal e chefiados pelo Dr. Ramón Gonzáles, prestigiado cientista cubano.

Inicialmente o objetivo era adquirir uma tecnologia própria, porém, posteriormente, decidiu-se utilizar a tecnologia de ponta que havia nos laboratórios ABC do México, que foram contratados para fornecer essa mesma tecnologia durante os jogos e mandaram alguns especialistas treinados previamente em um laboratório credenciado de Barcelona, entre eles seu diretor, Juan Ignácio Ustarán.

Todo esse processo foi respaldado pelo Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos (COPAN) de Havana de 1991, Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA) e sua comissão médica, assim como pelo Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Olímpico de Cuba.

Finalmente, o laboratório credenciado em Barcelona aprovou o processo de credenciamento temporário do laboratório para os jogos e informou à Comissão Médica do COI para que fosse oficializado como organismo reitor daquele momento. A direção desse laboratório temporário foi designada ao próprio diretor do laboratório de Barcelona, Dr. Jordi Segura, que o dirigiu com total êxito durante os Jogos Pan-Americanos de Havana de 1991.

Atualmente, Cuba conta com um laboratório credenciado para o controle de doping, dirigido pelo Dr. Mario Granda.

Deve-se destacar que as normas de credenciamento se encontram em um processo de renovação para as diferentes categorias, incluído o credenciamento temporário.

Embora não tenhamos feito referência até o momento, existe um código de ética que define a posição dos laboratórios perante comportamentos desonestos. Uma das questões mais importantes é o fato de que os laboratórios só aceitam amostras colhidas em competições que tenham sido realizadas sob o controle de uma organização esportiva reconhecida nacional ou internacionalmente e somente se um caso positivo é seguido das sanções estabelecidas para esse propósito.

Os laboratórios credenciados também podem aceitar amostras tomadas fora de competição, apresentadas por representantes da WADA.

Deve-se evitar comportamentos desonestos como, por exemplo, a realização de controles de atletas antes de determinadas competições, não para tomar as medidas pertinentes com os violadores, mas sim para evitar que compitam e sejam detectados. Também é importante evitar que os controles sejam realizados com o objetivo de conhecer e aconselhar sobre quanto tempo o tratamento de doping deve ser interrompido para “escapar” da detecção durante o controle depois da competição.

Infelizmente, existem muitos laboratórios comerciais não-credenciados que realizam essas práticas, colaborando na procura de novas alternativas de doping ou de mascaramento.

Um aspecto final a ser comentado é que o código de ética desses laboratórios não permite a informação direta desses centros com os meios de comunicação e o fornecimento de assessoria especializada para atletas ou outros interessados nas formas utilizadas para fugir de um resultado positivo.

Recentemente, a WADA concedeu à Unitat de Recerca en Farmacología (URF), da Fundación IMIM de Barcelona, a exclusividade sobre o controle da qualidade dos laboratórios oficiais Antidoping de todo o mundo. Assim, a URF será encarregada da preparação das amostras para o exame dos 31 laboratórios credenciados atualmente. Com elas, serão realizados os controles de qualidade necessários para certificar a idoneidade dos laboratórios de controle Antidoping, com uma periodicidade de quatro vezes ao ano. Os resultados emitidos pelos laboratórios serão avaliados pela WADA e pelo COI.

O departamento responsável pelas amostras será o External Quality Assessment Section, organismo especializado da URF, por meio de seus pesquisadores, Rafael de la Torre e Rosa Ventura.

Como citado anteriormente, há 31 laboratórios credenciados atualmente, entre eles:

 

América (5)

–Brasil – Rio de Janeiro

–Canadá – Montreal

–Colômbia – Bogotá

–Cuba – Havana

–Estados Unidos – Los Angeles

 

África (2)

–República da África do Sul – Bloemfontein

–Tunísia – Tunis

 

Ásia (5)

–Coréia do Sul – Seul: atualmente esse laboratório está descredenciado pela WADA para realizar análise de anabolizantes, mas não de outras substâncias.

–Japão – Tóquio

–Malásia – Penag

–República Popular da China – Pequim

–Tailândia – Bangok

 

Europa (18)

–Alemanha – Colônia

–Alemanha – Kreisha

–Áustria – Seisbersdorf

–Bélgica – Ghent

–Espanha – Barcelona

–Espanha – Madri

–Finlândia – Helsinki

–França – Paris

–Inglaterra – Londres

–Grécia – Atenas

–Itália – Roma

–Noruega – Oslo

– Portugal – Lisboa

– República Tcheca – Praga

– Rússia – Moscou

– Suécia – Estocolmo

– Suíça – Lausana

– Turquia – Ankara

 

Oceania (1)

– Austrália – Sydney

 

Seleção de amostras para o controle de doping: requisitos e procedimentos

 

O processo de seleção das amostras para o controle de doping é um ponto-chave para o êxito dessa importante tarefa.

Ele deve cumprir uma série de requisitos básicos para que possa ser considerado confiável.

Por isso é imprescindível que todas as pessoas envolvidas nesse processo estejam bem-informadas sobre os regulamentos vigentes e sobre os procedimentos mais comuns, evitando erros que levem a uma situação de violação. O atleta deve estar muito bem-informado sobre seus direitos e deveres com relação ao controle de doping.

É importante considerar que, para a coleta das amostras ser bem-sucedida, deve ser criada uma infra-estrutura organizada, com uma base material garantida, com profissionais qualificados para suas funções específicas.

Para a coleta das amostras são necessários diversos pontos de coleta que tenham as condições necessárias indispensáveis para isso.

Esses pontos devem ter uma área confortável, com capacidade para 10 pessoas, um local climatizado, onde se possa oferecer bebidas que facilitem o processo de coleta, como água ou refrescos.

Além de contar com uma mesa de trabalho e outras condições similares, é imprescindível que disponha de dois banheiros, para ambos os sexos.

A equipe de coleta de amostras é formada por um médico, que atua como chefe de ponto de controle de doping, um ou dois técnicos e uma ou duas escoltas de ambos os sexos.

Esse número dependerá da quantidade de atletas a ser controlada por dia. Como mencionado anteriormente, a coleta das amostras requer uma base material consistente.

 

Exemplo de materiais necessários à coleta:

- Vasilhame para a coleta.

- Frascos.

- Kit de selagem única.

- Estojos diferenciados por cores para amostras do tipo A e para amostras do tipo B.

- Valises diferenciadas por cores para transporte das amostras.

- Modelo estabelecido.

- Reativos para medida de pH da urina.

 

Hoje a coleta de amostras é feita por conjuntos especiais de recipientes certificados pelo COI e com o selo ISO, das marcas Versapack e Berlinger, sendo os primeiros utilizados em Barcelona e os segundos em Sydney.

É importante ter bem claro que esses materiais devem estar à disposição do atleta em quantidade suficiente para que ele mesmo possa escolher seu próprio equipamento para a amostra.

É imprescindível que os profissionais que participam desses processos estejam credenciados e identificados.

O processo de coleta das amostras pode variar ligeiramente, dependendo do tipo de competição e das modalidades envolvidas, porém sempre deve ser regido pelo regulamento em vigor até o momento, cumprindo estritamente os procedimentos estabelecidos pelos organismos competentes.

 

A seleção das amostras depende necessariamente:

- Do nível dos jogos.

- Das modalidades esportivas a competir.

- Do poder de resolução do laboratório de controle de doping.

 

Em jogos olímpicos, em média, são realizados 2 mil controles em 15 dias, o que pode representar um total de até duzentas amostras processadas em um só dia.

Para os Jogos Olímpicos de Atenas, estavam previstos cerca de 2 mil controles durante os eventos e outros duzentos fora de competições (em Atenas, mas antes do início dos jogos), tanto de urina como de sangue, sendo obrigação do laboratório credenciado informar os resultados 24 horas após receber a amostra.

O COI, a WADA, bem como as federações esportivas internacionais participantes da Olimpíada, analisaram a possível quantidade de amostras por dia, dependendo do programa de competições, a fim de realizar um planejamento adequado à capacidade do laboratório de controle de doping de Atenas. Dessa forma, pode-se realizar um número adequado de controles, de acordo com o porte do evento. É importante sempre predeterminar o método que será utilizado para identificar os competidores selecionados por sorteio para a coleta da amostra. Em caso de suspeita de uso de alguma substância específica, manifestada por alguma delegação esportiva, a comissão médica atuante poderá exigir a realização de novas provas. O controle de doping teve resultados significativos, como pode ser visto no Capítulo 23.

No processo de escolha, considera-se necessário controlar, nos esportes individuais, todos os medalhistas, assim como um dos finalistas não-medalhistas, por sorteio, o que também se recomenda realizar nas etapas semifinais e eliminatórias.

Nas modalidades de esportes coletivos, devem ser controladas as equipes medalhistas selecionando-se por sorteio um ou dois atletas que jogarão durante a partida. Esses controles também serão realizados, de igual forma, durante as semifinais e as eliminatórias. A metodologia de seleção é muito própria de cada modalidade. É importante considerarmos, no processo de seleção, aqueles esportes com maior incidência do uso de substâncias proibidas, entre eles: halterofilismo, atletismo, judô, boxe, ciclismo, remo, natação, canoagem, tênis, futebol e tiro.

Com relação à seleção de atletas, eles podem ser chamados para o controle de doping em qualquer circunstância.

Geralmente, para jogos olímpicos, são selecionados os quatro primeiros lugares, e outros dois são escolhidos aleatoriamente em disciplinas individuais. Para os esportes coletivos, esse número pode variar segundo a modalidade.

No momento de coleta da amostra, um dos pontos a ser destacado é a seriedade e a concentração que exige o momento. O atleta deve estar ciente de seus deveres, porém também deve conhecer seus direitos e estar muito alerta para que não haja qualquer procedimento errôneo ou fraudulento que possa lhe prejudicar.

Ele será notificado ao final da competição que foi sorteado para o exame de controle de doping, sendo escoltado pelo pessoal credenciado, que o conduzirá até o ponto de coleta da amostra. O atleta é obrigado a identificar-se e a assinar o formulário apresentado pela escolta para o controle de doping, tem de ceder uma amostra biológica de urina ou de sangue e deve apresentar-se imediatamente e sempre acompanhado por algum responsável, diretor, treinador ou médico. O acompanhante deverá permanecer com o atleta durante todo o tempo até o final da amostra.

Está no direito do atleta não aceitar bebidas que não tenham sido abertas em sua presença, bem como será o próprio atleta que selecionará o kit para a amostra, o qual manterá consigo até o final da coleta.

Na área de coleta da amostra é permitida a presença somente de um atleta, que, ao final da coleta entregará o frasco ao técnico da equipe de dosagem para que, diante dele, a sua amostra seja distribuída entre os frascos A e B. Esse procedimento pode ser realizado ainda pelo próprio atleta ou seu representante.

Normalmente, são necessários 75 mL de urina, no mínimo. Desse total, dois terços vão para o frasco A (50 mL) e um terço para o frasco B, ou seja, 25 mL. Caso ocorra uma situação em que, durante a distribuição, se perceba que a amostra não foi suficiente, o procedimento é selar e codificar a amostra, enquanto o atleta proporciona mais quantidade da amostra.

O que deve ser avaliado pelo técnico é a densidade e o pH da urina com os restos que ficam no frasco coletor, sendo que a densidade deve ser de 1,010 ou mais e os valores de pH entre 5 e 7. Nas situações em que esses valores não sejam encontrados, uma amostra extra de urina deve ser solicitada ao atleta.

O processo final de selagem deve ser verificado pelo atleta e seu acompanhante, comprovando a qualidade da selagem e a total impossibilidade de violação.

Como parte final desse processo, o atleta e seu acompanhante assinarão um documento de conformidade com a prova, verificando se a numeração do frasco que aparece em sua planilha coincide com os números de sua amostra. Qualquer irregularidade detectada pelo atleta deve ser assinalada no documento.

Outro elemento interessante a ser mencionado é que o atleta deve declarar os medicamentos ministrados a ele nos últimos três dias. Isso deve ser mencionado momentos antes da prova.

O atleta poderá fazer algum comentário que julgar oportuno. Por fim, o formulário será assinado por todos os que participaram do controle.

O transporte das amostras deve ser realizado de forma segura, dentro de uma custódia bem-planejada, enviandoas ao laboratório prontas para estudo, com todos os requisitos de selagem cumpridos, e acompanhadas de informações dos controles realizados.

Uma vez no laboratório, são realizadas as análises das amostras A de acordo com os procedimentos analíticos estabelecidos pela Agência Internacional Antidoping. O resultado das análises é enviado à organização competente. Também é enviada uma cópia dos resultados para a comissão médica dos jogos.

A WADA, juntamente com o COI, simplificou os procedimentos para o controle dos resultados de uma amostra positiva, assim como para a discussão e para a decisão final.

Esse processo foi adotado a partir da Olimpíada de Sydney, e foi sendo aperfeiçoado durante esse novo ciclo olímpico, como mostraremos mais adiante.

A seguir, vamos expor os procedimentos tradicionais aplicados pelo COI durante muitos anos para o acompanhamento dos diagnósticos positivos.

Se nos resultados obtidos das amostras A for encontrado um achado positivo, o chefe do laboratório credenciado comunica-o por escrito ao presidente da comissão médica dos jogos, o qual será responsável por comunicar ao atleta, por meio do chefe da delegação do seu país, assim como à presidência da organização esportiva internacional representada nos jogos e à federação esportiva internacional a qual pertence o atleta.

O atleta e seus representantes têm o direito de argumentar sobre o resultado, expondo ou alegando o que considerarem apropriado em uma reunião convocada para esse fim pela comissão médica dos jogos. A partir disso, orienta-seque se faça a análise da amostra B.

Essa amostra será analisada no mesmo laboratório em que foi analisada a amostra A, porém por outra equipe de especialistas do próprio laboratório. O atleta pode estar presente ou um representante, que deve ser uma pessoa designada pela sua delegação esportiva. O diretor do laboratório deve estar presente, como também um representante da comissão médica dos jogos. É de praxe convidar também um representante da federação esportiva internacional do esporte do atleta.

Antes do início da análise da segunda amostra, as testemunhas de todo esse processo, junto com o chefe de laboratório, devem firmar um documento em que avalizam a qualidade da amostra quanto à selagem e à codificação. Se tudo estiver dentro dos parâmetros estabelecidos, é realizado um segundo exame.

Durante essa nova análise, recomenda-se que sejam realizados, paralelamente, outros exames, como, por exemplo: restos de urina que ficaram da amostra A, exame de algum branco, exame de urina livre de substâncias doping e também um exame de urina de uma outra pessoa que tenha ingerido a substância detectada na primeira amostra analisada. Essas análises paralelas são confirmativas da qualidade dos procedimentos aplicados e do pessoal do laboratório.

O novo resultado deve ser coincidente com os resultados obtidos da amostra A, a menos que seja um grave erro de laboratório, o que nunca aconteceu. Esse novo resultado será informado ao presidente da organização esportiva internacional responsável pelos jogos, efetuando uma reunião com seu executivo para avaliar os acontecimentos e decidir a sanção correspondente. O presidente da organização esportiva internacional dos jogos deve comunicar ao COI, à WADA e à federação esportiva internacional à qual pertence o atleta sancionado. Paralelamente a esse processo de informações, o presidente da organização esportiva internacional ou alguma pessoa delegada por ele informará aos meios de comunicação a descoberta de doping do atleta em questão e a sanção a ele imposta.

Como podemos observar, o processo de organização dos controles de doping é extremamente complicado e requer uma tecnologia de ponta, excelentes profissionais e o apoio de muitas pessoas, cada uma com uma função importante dentro do contexto, sem as quais seria totalmente inviável e ineficiente o processo de controle de substâncias proibidas.

Os procedimentos até aqui apresentados são respaldados por uma resolução da Comissão Médica do COI de 1985.

Como explicamos anteriormente, foi a partir da Olimpíada de Sydney que o COI, em conjunto com a WADA, introduziu, de forma gradual, algumas modificações na resolução de 1985, que foram sendo aperfeiçoadas durante este ciclo olímpico e implantadas com alguma inovação nas Olimpíadas de Atenas em 2004.

Com relação ao acompanhamento do resultado de uma amostra A positiva, chegou-se a alguns procedimentos que o tornam mais simples, humano, legal e técnico (De Rose e González Iturri, 2004).

 

- A Comissão Médica do COI não será a responsável pelo controle do doping dos próximos jogos olímpicos, mantendo vigentes todas as suas outras ações.

- Será constituída uma comissão de especialistas para esse controle, formada por cinco profissionais representando a WADA e o COI.

- Por indicação da WADA-COI, não será necessária a realização da prova B para decidir a positividade da amostra.

- Quando o laboratório credenciado diagnosticar uma amostra A positiva, este enviará à comissão de especialistas para o controle de doping a informação oficial a respeito, desencadeando-se todas as tarefas inerentes a esses casos. Essa informação será enviada também à WADA e à federação esportiva internacional a que pertence o atleta.

- Por solicitação do atleta e de seu representante, podese analisar a amostra B. O interessante é que todo o procedimento estabelecido pela WADA e pelo COI relacionado à positividade da amostra A não é interrompido para realizar a análise da amostra B. Disso se depreende que, a partir de agora, a amostra B não terá um papel determinante para a WADA e para o COI.

- Na comissão de especialistas para o controle de doping dos jogos, será analisado cada caso positivo e se enviará o resultado da discussão final ao Comitê Executivo do COI.

- Uma vez informado, o Comitê Executivo, com a participação de seus membros, adotará a decisão final.

 

Sem dúvida, o avanço da ciência levou ao aperfeiçoamento dos métodos para o controle de doping, e, com isso, melhoraram os métodos de coleta e de conservação de amostras, e os laboratórios ampliaram seu poder de análise, tornando-se mais eficientes na detecção cada vez mais especializada de novas substâncias e de substâncias mais difíceis de avaliar.

Outro elemento favorável é o aperfeiçoamento dos direitos dos atletas, o que permite um julgamento mais justo de seus comportamentos, o que pode ser exemplificado pelo uso de substâncias proibidas ou restritivas por motivos de saúde ou em razão de seus perfis hormonais endógenos. Além disso, eles contam com possibilidades legais de apelação ao Tribunal de Recursos Esportivos em Lausanne, na Suíça.

No Capítulo 23, citaremos os casos de doping positivos nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, nas Tabelas 23.22 e 23.23.

Para a Olimpíada de Pequim, em 2008, novos desafios surgirão, com o uso de hormônios peptídicos, de novos esteróides sintéticos, de novas substâncias dopantes, de novos agentes dissimuladores, a competição de atletas transexuais, em particular os que adotaram o sexo feminino, assim como a possível e latente terapia com genes visando à manipulação das capacidades dos atletas, o que tornará cada vez mais difícil o rastreamento de substâncias e de métodos proibidos.

 

A educação e a informação como elementos-chave na prevenção do uso de doping

É imprescindível enfrentar a batalha contra o doping, pois cada vez mais novas substâncias são incorporadas como estimulantes físicos e psíquicos que afetam gravemente a população mais jovem. É, então, um objetivo mundial conseguir oferecer uma maior informação dos graves danos que causam essas substâncias para a saúde, assim como é um objetivo educativo levar por diferentes vias essa mensagem aos atletas.

Essa tarefa colossal requer a boa vontade dos governos de cada país, pois necessita de suportes financeiros que a apóiem, assim como diretivas de governo que normatizem certas modalidades sociais.

O trabalho educativo começa desde os primeiros anos de escola, quando, por meio das aulas de educação física e ciências, podem ser incorporados alguns elementos educativos que não serão jamais esquecidos. Ficarão como padrões por toda a vida. A criança deve ser ensinada a competir de forma limpa, amistosa, solidária. Se chegar a ser um vencedor, será merecedor do troféu por seu próprio esforço e vontade.

Deve ser feito um trabalho educativo nas classes de ciências, explicando a relação dos resultados da atividade física respeitando a natureza do corpo e como esses resultados podem ser melhorados com um esforço maior, que ajude a aumentar seu potencial físico, porém sem nunca usar uma via errada de alimentação ou o uso de substâncias estranhas.

Desde a infância é possível criar padrões de conduta que por toda a vida serão referência para os atletas e que, na continuidade de sua educação em idades mais avançadas, reverterão em êxito no seu comportamento como seres humanos adultos.

Não podemos deixar de ressaltar o papel fundamental que exerce a família na criação de padrões de conduta, apoiando a criança desde seus primeiros anos, em suas primeiras competições, abraçando tanto vitórias quanto derrotas, pois o importante é o esforço realizado.

Nos primeiros anos, a criança deve praticar o esporte como meio para um melhor desenvolvimento das suas capacidades físicas, garantindo sua saúde, sem estimular, durante essa etapa, a competitividade. Isso permitirá que seja criado um atleta saudável de corpo e mente, capaz de esforçar-se ao máximo e de aplicar toda a sua inteligência para obter um resultado limpo.

Hoje, é cada vez mais comum encontrar promoções de produtos com falsas promessas de resultados para a redução de peso, aumento de massa corporal, aumento de rendimento diário, entre outros, o que facilita seu consumo e que, em algum momento, vêm acompanhados de substâncias químicas que, independentemente do “aparente benefício”, causam graves danos, como é o caso das substâncias relacionadas com o doping. Corremos o risco de nos tornarmos, inconscientemente, assíduos consumidores de substâncias químicas que, na realidade, têm efeitos similares às utilizadas por atletas no doping, sem falar no consumo cada vez maior de álcool, tabaco e drogas que geram graves danos tanto físicos como morais.

Nesse contexto, fazemos uma triste constatação: sem a menor dúvida, a população mundial está cada vez mais dopada, o que não deixa de incidir de forma bastante negativa no mundo do esporte.

Cada país deve elaborar sua estratégia para, dependendo do desenvolvimento esportivo, e em coordenação com as organizações esportivas de cada nação, conceber um bom plano de ação e encaminhá-lo a todos os níveis de atuação esportiva.

É muito importante trabalhar com os jovens, nas escolas, nos clubes esportivos e nas academias, no sentido de educá-los quanto ao uso de substâncias estimulantes, contrapondo assim, as fortes campanhas publicitárias que nos rodeiam diariamente.

Não devem ser economizados esforços para incentivar conferências, preparar mesas-redondas participativas, editar folhetos, publicar revistas, oferecer cursos gratuitos, utilizar meios de comunicação, etc. E, assim como se obtiveram resultados positivos na luta contra a AIDS,pode-se também obter resultados positivos na campanha da luta contra o doping, por sua incidência também letal em uma importante parcela da população jovem.

É necessário também revisar as disciplinas da formação universitária de algumas profissões, em particular das áreas da medicina, educação física, farmácia, nutrição, bioquímica, fisioterapia, enfermagem e psicologia, considerando que estas podem ser importantes baluartes na luta contra o doping, de forma a podermos incluir, de maneira mais elaborada, elementos fundamentais do doping.

Propomos que na residência médica de medicina do esporte seja incluída uma disciplina que aborde amplamente a temática do doping e seu controle, assim como nos diferentes cursos de pós-graduação em medicina do esporte, em nível de especialização, para médicos e para cursos relativos a outros profissionais vinculados ao esporte.

Os centros esportivos e as federações esportivas devem realizar maiores ações para informação e educação dos atletas do seu campo de atuação, sem mencionar os próprios atletas, técnicos esportivos, treinadores, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, etc., sobre quem recai a maior responsabilidade pelo uso consciente dessas substâncias e pela transmissão errada e prejudicial da aplicação das mesmas.

Realizamos um trabalho educativo com uma população de aproximadamente 2 mil atletas de alto nível do Centro Olímpico de Cuba. Foi um trabalho em equipe que procurou transmitir aos atletas a impossibilidade do uso de substâncias proibidas, pois uma indisciplina desse tipo causaria sua suspensão imediata.

Foram realizadas conferências e editados e distribuídos materiais informativos. Apoiamo-nos na utilização de vídeos, treinamos alguns dos nossos principais especialistas, destinamos uma importante quantidade de recursos para investigações científicas e elaboramos importantes publicações. Tudo isso foi realizado graças ao apoio do Instituto Nacional dos Esportes de Cuba, do Comitê Olímpico de Cuba, das federações esportivas, das autoridades públicas e do Movimento Esportivo Cubano. Esse trabalho foi estendido aos centros esportivos de rendimento de cada província, que recrutavam atletas em idade infantil, juvenil e sênior, em um total aproximado de 28 mil. Contamos ainda com o apoio dos governos provinciais em conjunto com a assessoria dos Centros Provinciais de Medicina do Esporte.

No período de 1986 a 1992, não foram detectados casos de doping em nenhuma das competições importantes, como Jogos Centro-Americanos e do Caribe, Jogos Pan-Americanos, Jogos Olímpicos, Campeonatos e Copas Mundiais e Pan-Americanas.

Cabe ressaltar que, durante esse período, foram obtidos os melhores resultados históricos no esporte cubano, com o primeiro lugar nos Jogos Pan-Americanos de Havana de 1991 e o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Barcelona de 1992. O percentual de atletas cubanos dopados foi extremamente pequeno durante esse período, apesar de, naquela época, não haver, um laboratório Antidoping credenciado disponível, o que indica que o trabalho educativo coletivamente empreendido por anos proporcionou resultados bastante efetivos.

Por essa razão, estrategicamente os controles Antidoping começaram a ser realizados em diferentes períodos, priorizando modalidades com maior incidência nacional e internacional, e foram processados em laboratórios credenciados.

Atualmente, com a existência de um laboratório credenciado, passamos a uma fase mais avançada no combate ao doping, pois os resultados esperados são favoráveis.

Consideramos, portanto, que outro elo para incentivar o cumprimento dessa tarefa pode ser a criação, em cada país, do Conselho Nacional Antidoping, encarregado de harmonizar, integrar e sistematizar a luta Antidoping.

Com relação a esse Conselho Nacional Antidoping, queremos aprofundar nossa discussão explicando que seria a medula de cada país no combate ao doping, podendo reunir as principais forças do movimento olímpico e também importantes autoridades públicas.

O Conselho Nacional Antidoping teria como “missão” promover e coordenar em nível nacional todo o trabalho de combate ao doping no esporte, em concordância com as políticas internacionais traçadas pela Agência Mundial Antidoping.

O Conselho Nacional Antidoping seria formado por representantes do Comitê Olímpico Nacional, atletas de alto rendimento, ativos e não-ativos, técnicos do esporte, médicos e pesquisadores do esporte, professores do esporte e, no caso de países que contem com um laboratório credenciado, uma representação de um ou dois especialistas desse laboratório, assim como membros do movimento esportivo de cada país, autoridades públicas e representantes dos meios de comunicação.

Essa conformação ficaria idêntica à da Agência Mundial Antidoping, com uma representação de 50% do movimento esportivo e olímpico do país e 50% de autoridades públicas.

 

Suas principais tarefas seriam dirigidas a:

- Trabalho educativo e de capacitação.

- Pesquisa.

- Controle Antidoping de atletas em nível provincial e nacional nas competições e fora delas, criando uma política de controle interno.

- Comitê médico de utilização terapêutica excepcional.

 

Como elemento indispensável de divulgação, a criação de uma página na Internet seria uma via de acesso idôneo em que estariam colocadas suas principais tarefas, atividades programadas, profundo programa informativo, habilitação para consultas, entre outras vantajosas utilidades. Seria um importante elo para o COI e para a Agência Mundial Antidoping, fornecendo informações atuais no idioma de cada país para uma rápida atualização dos dados mais recentes.

 

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