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Compressão Medular Aguda

Autor:

Rodrigo Antonio Brandão Neto

Médico Assistente da Disciplina de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 23/02/2018

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A compressão medular aguda é uma complicação de potencial devastador, que pode ser causada por diferentes etiologias de doenças que envolvem a coluna vertebral e estreitam o canal espinal, em particular as neoplasias metastáticas, e podem causar perda neurológica irreversível. A compressão medular e sua abordagem depende da sua etiologia; pacientes com compressão medular traumática normalmente têm esse diagnóstico evidente na apresentação.

A compressão medular em pacientes com neoplasias sugere metástase para coluna lombar, e as compressões que ocorrem em pacientes com sepse ou em usuários de drogas intravenosas sugerem abscesso epidural; a compressão da medula associada à terapia anticoagulante, à terapia antiplaquetária ou à coagulopatia provavelmente é originária de hematomas peridurais.

A estabilidade da coluna lombar é definida pela manutenção do alinhamento espinal normal em condições fisiológicas como posição, caminhada, flexão ou levantamento. Caso a estabilidade da coluna se encontre comprometida, pode ocorrer subluxação dinâmica quando submetida às cargas das vértebras (espondilolisteses) que circundam o canal espinal.

 

Características Clínicas da compressão medular aguda

 

As manifestações características da compressão medular aguda são déficits motores relativamente simétricos dos membros, retenção urinária ou incontinência, e um limite circunferencial abaixo do qual há perda de sensação, denominada “nível sensorial”. Os sinais de hiper-reflexia e Babinski, que são característicos das doenças intrínsecas da medula espinal, podem não ser evidentes nos casos de compressão aguda e grave da medula, particularmente se a causa for traumática.

Inicialmente, os pacientes costumam apresentar uma paralisia flácida com arreflexia, acompanhada de hipotensão sistêmica, o que caracteriza o chamado choque medular. A dorsalgia ou cervicalgia é uma característica adicional dos tipos mais agudos de compressão de medula.

A medula espinal termina perto do nível L1?L2, onde passam as raízes espinais que compõem a cauda equina. A compressão aguda da cauda equina por lesões na coluna lombar causa paraparesia flácida e incontinência urinária precoce, achados similares aos dos pacientes com síndrome de choque medular.

As lesões nessa região podem cursar com nível sensorial que representa uma linha circunferencial no tronco abaixo da sensação ausente ou diminuída. A apresentação clínica e a fisiopatologia dependem do tipo de compressão medular, e a discussão deve ser especificada pela etiologia da compressão medular.

 

Compressão Traumática da Medula Espinal

 

A compressão medular aguda traumática, infelizmente, é uma condição epidêmica nos tempos atuais com cerca de 13 mil eventos anuais nos EUA. A lesão medular ocorre por fragmentos de osso fraturados, deslocamento ósseo, ruptura de ligamentos vertebrais, subluxação dos corpos vertebrais e herniação traumática do disco intervertebral.

Em pacientes com trauma grave ou naqueles que tomam medicamentos anticoagulantes ou antiplaquetários, o hematoma epidural espinal pode piorar a compressão medular. Após a lesão direta pelas forças diretas do trauma, após minutos a horas, a lesão pode progredir por uma combinação de isquemia, inflamação e hipóxia local.

Cerca de 20% das lesões da coluna vertebral afetam mais de um nível, mas a coluna cervical é especialmente vulnerável ao deslocamento, porque não possui o suporte da caixa torácica, e suas articulações facetares são mais frágeis do que as articulações da coluna toracolombar. A lesão dos segmentos cervicais, devido à sua localização, causam as maiores sequelas neurológicas, podendo evoluir com tetraplegia e insuficiência respiratória.

A compressão traumática da medula espinal pode ter uma lesão completa com seção da medula, ocorrendo diminuição da sensibilidade no segmento caudal à lesão e com perda total da sensibilidade abaixo da lesão, com paralisia flácida abaixo da lesão e diminuição da força muscular no segmento imediatamente antes da lesão e ausência de reflexos na fase aguda.

Em pacientes com lesão incompleta, ainda parte da função dos nervos é mantida, e a perda motora costuma ser mais pronunciada que a lesão sensitiva, pois os tratos sensoriais costumam ser menos periféricos. A lesão pode ainda ser localizada em região anterior da medula espinal, o que normalmente indica lesão da artéria espinal anterior.

Os pacientes podem apresentar um quadro transitório de paralisia motora flácida devido ao denominado choque medular, que se acredita ter correlação com perda de potássio na região de células lesionadas combinada ao acúmulo do mesmo em região extracelular, prejudicando a condução axonal; conforme os níveis de potássio se normalizam, a função motora apresenta recuperação.

O nível da lesão é determinado pelo segmento de medula mais baixo com função motora e sensorial normal. A gravidade pode ser classificada com o uso de uma série de sistemas, mas a mais comum é a escala da American Spinal Association, que classifica as lesões em:

A ? Completa lesão medular.

B ? Perda de função motora completa, mas com manutenção de parte da função sensorial.

C ? Perda motora incompleta com força muscular < grau 3.

D ? Perda da função motora incompleta com força muscular =3.

E ? Função motora e sensorial normal.

F ? Função normal.

 

O manejo inicial depende de toda a lógica do trauma, com vias aéreas e circulação tendo precedência na abordagem inicial em relação à lesão neurológica. A correção da hipotensão, a avaliação e a monitorização dos sinais vitais devem ser realizadas meticulosamente. Até que a lesão medular seja descartada, a imobilização cervical e da coluna deve ser realizada.

Em pacientes com lesão de medula espinal, a prioridade inicial é a estabilização da coluna vertebral para evitar que ela apresente subluxação de vértebras quando o paciente é mobilizado. A instabilidade é improvável na ausência de dor cervical ou hipersensibilidade e com a amplitude de movimento total do pescoço preservada.

Essas descobertas tornam a imobilização do pescoço geralmente desnecessária, assumindo que o paciente está acordado, não está intoxicado e não possui feridas adicionais ou outras condições que possam interferir na capacidade de relatar dor no pescoço. Alguns autores recomendam a retirada da imobilização cervical apenas após a realização de radiografias da coluna cervical.

Em pacientes com anormalidades neurológicas indicativas de possível lesão medular, a tomografia computadorizada (TC) é o exame de imagem inicial preferido devido à sua sensibilidade para detectar fraturas e subluxação vertebral. A ressonância nuclear magnética (RNM) é um estudo complementar útil para revelar danos ligamentares, hérnias de disco, edema ou hemorragia na medula espinal.

A mielografia era um exame anteriormente utilizado para avaliar esses pacientes, mas que recentemente foi substituído pela realização de RNM. As indicações formais de RNM no trauma medular ainda não foram definidas, mas o exame pode demonstrar se os discos intervertebrais e os ligamentos apresentam lesão e vantagem na detecção de hematoma epidural. A sua principal indicação é nos pacientes que apresentam TC de coluna normal, mas que ainda apresentam suspeita de lesão medular.

Em locais com recursos limitados, a imagem radiográfica com visões anteroposteriores, laterais e odontoides da coluna cervical pode ser suficiente para detectar grandes fraturas e mal alinhamentos. Outro estudo suplementar é a imagem radiográfica lateral dinâmica da coluna cervical durante a flexão e a extensão. A ausência de deslocamento dos corpos vertebrais com essas manobras estabelece que a coluna vertebral é estável, mas, para realizar esse estudo de forma segura, o paciente deve estar alerta e capaz de restringir o movimento se causar dor ou sintomas neurológicos.

Os pacientes com lesão medular devem idealmente ser monitorizados em ambiente de terapia intensiva, com verificação de sinais vitais, oxigenação, ritmo cardíaco e sinais neurológicos de deterioração. Uma complicação potencial é o choque neurogênico que cursa com hipotensão e bradicardia devido à interrupção das vias autonômicas na medula espinal; deve-se manter uma pressão arterial adequada para manter a perfusão da coluna vertebral, o que é crítico para minimizar a sequela neurológica desses pacientes.

Esses pacientes apresentam alta incidência de eventos tromboembólicos, sobretudo entre 72 horas e 14 dias do evento traumático; a profilaxia considerada ideal é a heparina de baixo peso molecular. Outras medidas importantes são o controle adequado da dor, a sondagem vesical para evitar a hiperdistensão vesical, além do controle de temperatura, e evitar que o paciente fique mais de alguns dias com jejum ? com nutrição enteral sendo introduzida se necessária.

O uso de glicocorticoides em pacientes com lesão traumática da medula espinal é controverso, com estudos randomizados com resultados positivos, porém estudos maiores com resultados negativos. A associação americana de neurocirurgias não recomenda o uso de glicocorticoides nessa situação, enquanto outras diretrizes consideram o uso de glicocorticoides como opcional.

Quando indicado o uso de glicocorticoides, a dose padrão é de 30mg/kg de metilprednisolona, seguida de uma infusão de 5mg/kg/h, em 24 horas; em pacientes infectados, o uso de glicocorticoides é contraindicado, assim como em trauma craniano severo e em comorbidades que poderiam apresentar piora com o uso de glicocorticoides.

A hipotensão sistêmica nas primeiras horas após a lesão traumática está associada a pior desfecho neurológico, achado que também é característico de traumatismo craniano grave. O mecanismo putativo da hipotensão sistêmica é a perda de autorregulação vascular. Nesse caso, são necessárias a reversão rápida da hipotensão e a administração intravenosa de vasopressores, se necessário, para manter uma pressão arterial média de 85 a 90mmHg durante 1 semana após a lesão.

A compressão medular traumática é tratada cirurgicamente pela remoção de fragmentos de osso e disco do canal da coluna vertebral e redução da coluna vertebral com correção do alinhamento dela. Em uma série de casos prospectivos, o resultado neurológico aos 6 meses foi melhor quando a descompressão cirúrgica foi dentro de 24 horas após a lesão, em vez de a cirurgia ter sido realizada tardiamente; entretanto, são limitadas as evidências sobre qual é o melhor momento; um estudo mostrou que 80% dos neurocirurgiões com treinamento nessas lesões preferem realizar a cirurgia dentro das primeiras 24 horas do evento traumático.

A estabilização cirúrgica da coluna vertebral no momento da descompressão permite a mobilização e a reabilitação precoce e reduz os riscos de pneumonia e trombose venosa. A estabilização se dá por meio da fixação interna com parafusos colocados nas vértebras ou estruturas ósseas posteriores, os quais estão ligados a hastes ou a placas. A fusão de segmentos vertebrais pode ser necessária para a estabilidade a longo prazo.

O procedimento combinado de decompressão, fixação e fusão vertebral é sujeito a complicações infrequentes, mas graves de infecção, pseudoartrose e alterações degenerativas tardias nos níveis da coluna vertebral adjacentes. A tração pode restaurar o alinhamento da coluna vertebral, e a fixação externa com um halo ou armadura pode manter o alinhamento, mas esses, em geral, não são tratamentos duráveis para a compressão da medula espinal.

 

compressão medular aguda Secundária ao Câncer

 

As metástases medulares são comuns no câncer, mas causam compressão da medula somente quando se estendem do osso para o espaço peridural. O índice de pacientes com neoplasia maligna que desenvolvem compressão medular aguda pelo câncer nos últimos 5 anos de vida é de 2,5%, variando desde 0,2% nos pacientes com câncer de pâncreas até 8% naqueles com mieloma múltiplo.

Qualquer neoplasia maligna metastática pode causar síndrome de compressão medular aguda, mas a síndrome é mais comum em tumores com metástases mais frequentes para coluna vertebral. As três neoplasias mais comuns associadas à compressão da medular aguda são o carcinoma de pulmão, de mama e o mieloma múltiplo. Outras causas comuns são os linfomas, o carcinoma renal e o câncer de próstata. Em crianças, a síndrome de compressão medular aguda secundária à neoplasia tem etiologia diferente, sendo os sarcomas, os linformas e os neuroblastomas as causas mais comuns.

A síndrome de compressão medular aguda pode ser a manifestação inicial de 20% das neoplasias metastáticas; cerca de 60% dos casos de síndrome de compressão medular por neoplasia acometem a coluna torácica ou dorsal, 30% dos casos envolvem a coluna lombossacra e 10% dos casos envolvem a coluna cervical; essas porcentagens são sobretudo relacionadas à extensão desses segmentos da coluna.

Alguns tumores, entretanto, tendem a metastizar para regiões específicas da coluna como o câncer de pulmão, que, normalmente, cursa com metástases na coluna torácica, e os tumores renais, gastrintestinais ou de próstata, que metastizam para regiões inferiores da coluna torácica e para a coluna lombossacra. A maioria dos casos ocorre por disseminação arterial, mas tumores pélvicos, por exemplo, frequentemente têm sua disseminação para a coluna vertebral pelos plexos nervosos.

O sintoma mais comumente associado é a dorsalgia, que ocorre em 85 a 95% dos casos, com a sensação de hipersensibilidade na percussão sobre o sítio afetado; esses sintomas costumam preceder o aparecimento de déficits motores em semanas a meses. A dor costuma ser pior ao se deitar e pode provocar o despertar do sono. Sintomas sensoriais como parestesias ou sensação de anestesia ascendente são comuns, e podem ocorrer em nível sensorial. As alterações esfincterianas costumam ser tardias.

No momento do diagnóstico, o déficit motor é presente em 60 a 85% dos casos; dependendo da série de casos, a progressão do déficit motor é de piora progressiva, seguida de perda de equilíbrio e paralisia. A síndrome da compressão medular evolui ao longo de um período de horas ou dias e inclui sinais de hiper-reflexia e de Babinski, mas raramente é caracterizada por disfunção esfincteriana isoladamente.

Com destruição óssea e fratura de compressão vertebral patológica, a coluna vertebral torna-se instável, levando a dorsalgia mais severa. Em pacientes com déficit motor severo por mais de 72 horas na apresentação, o prognóstico de recuperação funcional neurológico é ruim.

Apesar de a compressão medular ocorrer, clinicamente, muitas vezes em local específico; os exames de imagem podem revelar múltiplos níveis de compressão em até um terço dos casos. A sobrevivência em pacientes com múltiplas metástases espinhais e compressão medular costuma ser inferior a 6 meses; os pacientes que mantêm a capacidade de deambular antes do tratamento apresentam uma sobrevida maior.

O diagnóstico é confirmado por exame de imagem, em particular a RNM. A sensibilidade da RNM é próxima a 100% na compressão medular aguda com exceção da compressão em alguns pacientes com déficits motores menores. Idealmente, devem ser obtidas imagens de toda a coluna vertebral para garantir que as lesões adicionais não sejam negligenciadas.

O tumor pode ser detectado em muitos casos sem o uso de gadolínio; assim, a RNM não deve ser negligenciada se o paciente tiver um fator de risco, como alergia, para a administração do agente. A mielografia por TC é uma alternativa em pacientes que não podem ser submetidos à RNM. A TC sem mielografia e radiografia mostra infiltração óssea ou colapso vertebral do tumor, mas não é sensível para detectar a compressão medular. Casos de lesões de localização lateral, pacientes com próteses metálicas e pacientes com claustrofobia são as indicações mais frequentes da mielotomografia.

O fator mais importante no prognóstico desses pacientes é o status neurológico no início do tratamento ? a maioria dos pacientes tem mais de 2 meses de dorsalgia e 10 dias de sintomas neurológicos quando iniciado o tratamento, sendo que, nesse período de atraso no tratamento, a doença costuma evoluir.

A maioria dos pacientes apresenta dor severa, de modo que o controle de dor é fundamental; o uso de glicocorticoides pode levar à melhora significativa, mas a maioria necessita de opioides para o controle da dor. Os pacientes apresentam risco aumentado de tromboembolismo venoso, sobretudo em caso de deambulação limitada, em que se deve realizar a anticoagulação profilática.

O tratamento da compressão medular por neoplasias inclui radioterapia e descompressão cirúrgica, sendo parcialmente paliativo, mas o alívio da paraplegia e a redução da dor são possíveis por períodos consideráveis. A infiltração vertebral pelo tumor que não comprime a medula pode ser manejada com radioterapia se a coluna vertebral for estável. Ambos os tratamentos cirúrgicos e a radioterapia são complementados por glicocorticoides.

Os glicocorticoides reduzem o comprometimento neurológico e a dor espinal, mas as doses mais eficazes não foram estabelecidas. Nos primeiros estudos, a dose de dexametasona inicial era de 100mg, mas um pequeno estudo comparou a dose de 96mg com a de 16mg, e os resultados foram igualmente eficazes, mas com muito menos eventos adversos; outro estudo confirmou esses resultados.

Uma dose de 10mg de dexametasona em bolo seguido de uma dose oral de 4mg, a cada 6 horas, e quantidades decrescentes de glicocorticoides por via oral durante as semanas subsequentes parecem ser apropriadas. Alguns autores ainda usam a dose de 96mg/dia se o paciente se apresenta com paralisia quando do início do tratamento.

O tratamento definitivo é orientado pela extensão da compressão sintomática da medula, pela estabilidade da coluna vertebral e, em parte, pela resposta do tumor à radiação ? quando a fraqueza e as mudanças sensoriais são mínimas e a radioterapia pode ser utilizada como modalidade única para tratar a compressão medular, em particular para a compressão causada por tumores hematológicos.

A radiorresponsividade de diferentes tipos de câncer foi estabelecida por consenso. Linfoma, mieloma e seminoma são considerados altamente responsivos e são tratados com radioterapia independentemente do grau de compressão medular. Os tumores de mama, de próstata e de ovário estão associados a respostas variadas, mas intermediárias, à radioterapia e são considerados para ressecção cirúrgica, embora possam ser tratados com radioterapia.

O câncer de pulmão de células não pequenas e o câncer renal, tireoide e gastrintestinal, bem como sarcoma e melanoma, são relativamente radiorresistentes e, em geral, são tratados com cirurgia, mas alguns dados auxiliam no uso de radioterapia convencional ou radiocirurgia. Para pacientes com uma curta expectativa de vida, um único tratamento de radiação paliativa é uma opção. O tratamento prolongado e as doses mais altas são usadas se for prevista uma maior sobrevida.

Uma revisão retrospectiva de cinco regimes de radioterapia típicos mostrou que eles eram equivalentes e que doses totais de 30 a 40Gy em 10 frações proporcionavam controle de tumor durável. A radiocirurgia e o fornecimento de altas doses de radiação para uma área delimitada com orientação de imagem e radiação que é contornada com a forma do tumor durante um ou alguns tratamentos podem ser superiores à radioterapia convencional para metástases espinais, inclusive para alguns tumores radiorresistentes, embora a evidência de superioridade da radiocirurgia seja pequena.

A laminectomia com descompressão posterior era o procedimento cirúrgico de escolha, mas, desde então, várias técnicas foram desenvolvidas para ressecar os tumores peridurais, com vantagens potenciais porque a laminectomia não reduz o tumor ventral originário do corpo vertebral, e a cirurgia pode levar à instabilidade espinal; assim, atualmente, em pacientes com instabilidade da coluna, a conduta adequada é a realização da descompressão posterior por laminectomia associada à estabilização da coluna.

Um estudo sugeriu que a descompressão cirúrgica seguida de radioterapia comparada à radioterapia isoladamente para tumores radiorresistentes em um único nível mostrou que a cirurgia manteve a deambulação por mais tempo, mesmo em alguns pacientes que não conseguiram caminhar nas 48 horas antes do tratamento. A cirurgia também é uma opção para o tratamento da recorrência do tumor medular após a radioterapia.

Em pacientes com tumores radiossensíveis e com coluna estável, a realização de radioterapia isoladamente é apropriada e indicada na maioria dos casos. A instabilidade da coluna pela infiltração tumoral é detectada com imagem ou é inferida com base em dor com movimento ou deformidade espinal. A radioterapia não é um tratamento eficaz para a instabilidade da coluna vertebral.

A localização do tumor, características líticas ou blásticas da lesão, e a presença ou ausência de deformidade vertebral na imagem, colapso ósseo e infiltração tumoral dos elementos posterolaterais da coluna vertebral são determinantes da estabilidade da coluna. Uma abordagem recentemente introduzida da cirurgia de separação consiste em ressecar uma porção do tumor para criar uma margem em volta da medula espinal para a aplicação de radiocirurgia. Essa técnica reduz o dano da radiação na medula.

A radiação, em geral, é administrada após a descompressão cirúrgica. Se a radioterapia pode ser entregue de forma rápida, ela pode ser usada para tratar a compressão medular devido a tumores hematológicos. Os pacientes que não esperam sobreviver mais do que o tempo necessário para a recuperação da operação (geralmente, 2 a 3 meses) devem ser tratados com radioterapia paliativa.

 

Abscesso Epidural da Coluna Vertebral

 

A infecção bacteriana do espaço peridural espinal é uma condição de difícil diagnóstico e complica as espondilodiscites em 15 a 20% dos casos. A mielopatia associada ao abscesso peridural pode aparecer abruptamente ou permanecer indolente durante semanas. A compressão mecânica da medula espinal ocorre como resultado do efeito de massa da coleta infecciosa, mas o infarto vasculítico também foi implicado.

A coluna torácica é mais afetada, e os abscessos costumam ocultar vários níveis contíguos ou não contíguos da coluna vertebral. O Staphylococcus aureus é o microrganismo mais comum implicado em osteomielite vertebral piogênica, causando cerca de 50% dos casos, seguido pelos Staphylococcus epidermidis e propionibacterium.

Os estafilococos coagulase-negativos e propionibacterium são  quase sempre a causa de osteomielite exógena após cirurgia espinal, sobretudo se dispositivos de fixação são usados. No entanto, no caso de bacteremia prolongada, microrganismos de baixa virulência como estafilococos coagulase-negativos são frequentes.

A presença de febre (50 a 60%) e dorsalgia (90% dos casos) são as principais características do abscesso epidural espinal, muitas vezes com dor radicular associada. A infecção bacteriana em um local distante da coluna vertebral é encontrada em apenas metade dos pacientes afetados, e 25 a 30% deles não têm infecção primária, mesmo na autópsia. O diabetes melito, em particular, mas também o câncer, a imunossupressão, a insuficiência renal e o abuso intravenoso de drogas e álcool são condições associadas com frequência.

O hemograma completo deve ser realizado; a presença de elevada percentagem de neutrófilos (>80%) não tem alta sensibilidade, em contraste com os aumentos da taxa de sedimentação eritrocitária (frequentemente, níveis >100) e níveis de proteína C-reativa (PCR), são altamente sensíveis e têm sido relatados em 98 e 100% dos casos, respectivamente. Os níveis de PCR são mais correlacionados com a resposta clínica ao tratamento do que a velocidade de hemossedimentação (VHS), sendo, portanto, o marcador preferido de infecção, sobretudo no caso de infecções no pós-operatório.

A radiografia simples é frequentemente normal nas fases iniciais da infecção; um achado típico é a destruição óssea de dois corpos vertebrais contíguos, normalmente com colapso de vértebra, mas essas alterações são tardias e demoram, pelo menos, 2 a 3 semanas para serem aparentes em radiografias; a radiografia pode, entretanto, revelar um diagnóstico alternativo (por exemplo, metástases ósseas por osteoporose ou fratura).

A TC, por sua vez, apresenta alterações sugestivas de osteomielite mais precocemente, mas a RNM é o exame mais sensível para o diagnóstico, com achados de alteração em 91% dos pacientes com menos de 2 semanas de sintomas e 96% em pacientes com menos de 3 semanas de sintomas, embora o exame não seja bom para a detecção de abcessos epidurais, de modo que aqueles com sintomas neurológicos têm indicação de RNM.

A RNM com gadolínio revela abscessos peridurais, mas pequenas infecções podem ser difíceis de detectar. A cultura do líquor raramente fornece um diagnóstico bacteriológico, e a punção lombar deve ser evitada devido ao risco de entrar no espaço infectado e contaminar o líquido da coluna vertebral.

Em uma série de casos não controlados, a evacuação cirúrgica da infecção tem sido mais bem-sucedida do que o tratamento antibiótico isoladamente. A decomposição por meio de laminectomia é mais efetiva se realizada antes da disfunção motora grave. A cirurgia também pode ser realizada para a obtenção de material infectado (para estabelecer o organismo causador) ou para tratar a dor intratável.

No caso de um abscesso longitudinalmente extenso, não é prático proceder a laminectomias em toda a coluna vertebral. Em vez disso, a descompressão é realizada no local da coleta infecciosa máxima, com irrigação acima e abaixo desse nível. O tratamento com antibióticos isoladamente pode ser adequado para um abscesso que não está causando perda motora.

Se a antibioticoterapia foi iniciada, mas a condição do paciente está clinicamente estável, uma biópsia deve ser adiada por, pelo menos, 48 horas após a dose de antibiótico mais recente ter sido administrada a fim de aumentar o rendimento; um intervalo livre de antibiótico de 1 a 2 semanas permitiria um rendimento, mas geralmente não é aconselhável em pacientes com abcesso epidural.

Em casos em que a conduta inicial foi terapia antibiótica, a cirurgia é muitas vezes necessária devido a déficits neurológicos progressivos, dor persistente, febre e leucocitose. Os antibióticos são escolhidos com base nos agentes patogênicos identificados ou presumidos, mas há pouca orientação sobre a duração ou o tipo de agente, além da inclusão usual de medicamentos contra o estafilococo resistente à meticilina.

 

Hematoma Epidural Espinal

 

As características do hematoma epidural são semelhantes às das outras doenças discutidas aqui. As principais características são dorsalgia e dor radicular grave, seguida de paraparesia ou tetraparesia. Alguns sangramentos epidurais são comuns na lesão traumática da coluna vertebral, mas o sangramento ocorre espontaneamente com o uso de medicamentos anticoagulantes ou antiplaquetários e em pacientes com coagulopatias intrínsecas. Os achados de RNM dependem da idade do hematoma. A evacuação cirúrgica do coágulo, em geral, é necessária em caso de compressão medular.

 

Referências

 

1-Ropper AE, Ropper AH. Acute Spinal Cord Compression. N Eng J Med 2017; 376: 1358-1369.

2-Loblaw DA, Laperriere NJ. Emergency treatment of malignant extradural spinal cord compression: an evidence-based guideline. J Clin Oncol 1998; 16:1613.

3-Loblaw DA, Perry J, Chambers A, Laperriere NJ. Systematic review of the diagnosis and management of malignant extradural spinal cord compression: the Cancer Care Ontario Practice Guidelines Initiative's Neuro-Oncology Disease Site Group. J Clin Oncol 2005; 23:2028.

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Por: Unifor em 10/07/2020 às 18:01:15

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